terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Malabarismo germinal

Tudo remete ao dia em que os pais do Zé o levaram a um parque mambembe. Ele tinha quatro anos e se encantou com o carrossel de cavalos, carrinhos conversíveis e motocas. O Zezinho escolheu a motoca, mas depois que o brinquedo rodou uns segundos, pulou para o conversível vermelho. Ao sair do carrinho pra voltar para a moto, o operador parou o brinquedo e deu uma mijada. Questões de segurança.

Pode parecer justificativa, mas sempre aconteceu assim com ele. Por exemplo, se andava desempregado, invariavelmente apareciam duas propostas tentadoras. Com o assunto trabalho é difícil conciliar, mas quando se trata de namoro...

Acontece que no baile em que o Zé conheceu a ex-mulher, acabou tendo com uma deusa, estudante de economia. Era dessas mulheres altas que param um salão quando entram. Obviamente ficou dividido e começou a namorar as duas.

A deusa morava com os pais em Piraquara, uns trinta quilômetros da casa do Zé. A que virou esposa, por sua vez, morava sozinha e perto.

A deusa tinha personalidade forte e era meio despirocada, mania de beijar na boca em restaurante vegetariano e de colocar o pernão em cima de mesa de barzinho. E, pior, começou a fazer surpresa (motivo absolutamente passional) de manhãzinha na casa do Zé antes das aulas. Evidente que a que morava sozinha dormia com ele de vez em quando. Complicou tudo. E tinham as intermináveis viagens a Piraquara, e o perigo de dirigir sonolento noite alta na volta.

Voltando ao carrossel, na cabeça do guri o episódio ficou mal resolvido: "Qual o problema se estavam desocupados?" Mas não teve jeito, o Zé teve que escolher, e o resto da história você conhece. Só não sabe que a tal deusa hoje é doutora em economia em alguma federal do norte do País.

::28.02.2012 ::

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Balada de uma amante iniciante

Nanda caiu pelo Ale desde o comecinho da faculdade. Era o mais charmoso dos caras, e tudo indicava que seria bem-sucedido. O problema é que já no primeiro churrasco da turma levou a namorada, linda e interessante, casalzinho perfeito.

Ao mesmo tempo o Ale dava umas investidas na Nanda, que era das mais atraentes da turma. Ela não pensou duas vezes e virou vértice de triângulo amoroso como a vida toda censurou. Mas era bom estar com um homem tão carinhoso, inteligente, bom de cama, divertido... e como eram excitantes os beijos escondidos e as idas ao motel! Às poucas amigas que sabiam do romance clandestino ela dizia que era melhor ficar com homem comprometido, porque não pegava no pé, podia levar a vida como quisesse. Mas lá no fundo alimentava a esperança de que ele um dia fosse dela. Porque a Nanda era só do Ale.

Um dia aconteceu. Alguns meses antes da formatura o namoro do Ale acabou. No íntimo Nanda ficou radiante, mas não expressou e continuou discretamente ao lado dele. Dois meses depois o Ale comentou que havia conhecido uma garota com história de vida e gostos muito parecidos, que tinha um filhinho com quem ele se identificou de cara. No último churras antes da formatura ele apresentou a nova namorada a todos, à Nanda inclusive. Era de fato uma relação ainda mais bonita que a anterior.

Passada a colação de grau, o Ale anunciou casamento. A Nanda cuidou com dedicação da despedida de solteiro. Fez questão de fazer com que ele se sentisse um deus, entregou-se de corpo e alma. No dia seguinte, na igreja, seu choro soava um pouco diferente das lágrimas emocionadas das demais, mas deu para disfarçar. Ao menos Nanda sabia que na volta da lua de mel teria sua recompensa.


:: 02.06.2008 ::

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Sorte azarada de drogado

Por questões profissionais e afetivas resolvi parar com tudo. Aliás, maneirar bastante na bebida e cortar a zero os "acompanhamentos". Pelo menos dar um tempo.

Semana passada de férias na Ilha do Mel, pousadinha ajeitada, lá fora a maior chuva. Eu estava no quarto sossegado, vendo o tempo passar, ar condicionado bombando... bateu saudade dos acompanhamentos.

Observava o quarto minuciosamente e vi um quadro torto. Fui colocar no lugar e adivinha o que despencou quase em cima de mim? Um invólucro com duas notas de 50 e dez figurinhas, acondicionadas uma a uma em papel alumínio. Parece que deus às vezes me testa.

Primeiro vieram duas dúvidas: será que a coisa é de qualidade? tem prazo de validade? Depois pensei no cara que perdeu, até hoje procurando ou tentando lembrar onde escondeu a coisa. Deve ser coisa boa mesmo.

:: 01.02.2012 ::