quinta-feira, 13 de agosto de 2015

50 tons de gasolina



Gostava da companhia, dos presentes e das coisas que ela pagava, motéis caros, substâncias recreativas, "amigas" que ela levava junto... Gostava também de dirigir a SUV japonesa enorme da japonesa. Do ano. Quando passava todo mundo olhava.

Não era bonita, mas a conversa era sublime. Só que a bebida e as substâncias permitiam que a coisa rolasse, por mais que evitasse. [“Se me ver grudado com mulher feia, aparta que é briga”]

Conversas boas e submissão de gueixa (massagens, banhos, entretenimento culto) valiam muito a companhia. Um dia pensou numa solução pra não comer: antes de sair, batia uma.

Mas teve um dia que ela chamou de surpresa, não deu tempo, e quando reparou, no motel, que ia rolar, começou a bater uma na frente dela assistindo ao pornozão que passava no telão. Mas com ela olhando não vinha, então batia bem rápido. "Parece um macaquinho punheteiro", ela disse.

Fácil se acostumar com essa rotina destrutiva e pra lá de divertida. Um dia o marido descobriu passou a acorrentá-la em casa quando viajava (literalmente). A festa acabou e deixou um vazio. Descia uma lágrima discreta toda vez que via uma SUV japonesa daquelas que quando passam a gente olha pra cima.

:: 23.07.2015 :: Originalmente lançado na edição 50 da revista Sobre Rodas (em homenagem).