sexta-feira, 12 de abril de 2013

O major do Mustang vermelho e a supervisora da Avon

Mais uma contribuição sensacional da irmãzinha Valéria.

Jennifer Natally era moça de boa índole, começou a trabalhar cedo para ajudar a mãe viúva. Foi mãe solteira aos 17. Não teve chance de cursar enfermagem, como sempre sonhou. Virava-se bem, era supervisora de vendas Avon. E com muita economia conseguiu comprar um Celta usado assumindo 49 prestações.

Já Luiz Henrique era moço bem nascido. Sempre teve de tudo e nunca soube o que era abrir mão de seus sonhos. Fascinado pela carreira militar, estudou a vida toda no colégio dos milicos. Seguiu carreira e chegou a major antes do esperado. Divorciou-se aos 41 e comprou um Mustang vermelho. Queria gozar a vida de verdade.
 

Jamais as criaturas descritas acima teriam se cruzado, não fossem unidos pelo acaso numa daquelas situações que nivelam as pessoas, independente de classe social: o congestionamento das 18h.

Ela sabia que aquela bostenga de carro tinha sido barata demais. E foi ali na Rua Tibagi, pertinho do Terminal do Guadalupe, que a beleza apagou. Todo mundo buzinando, não teve jeito: saiu do carro, abriu o capô e fez cara de entendida no assunto. Chamar quem pra ajudar? O Espírito Santo? Nisso, Luiz, moço educado e de boa formação, na filosofia do "braço forte e mão amiga" percebe a situação da moça, estaciona seu Mustang na vaga de carga e descarga e...

- Oi! Precisa de ajuda, moça?

Jennifer desenterra a cabeça do motor, e pensa estar delirando: 1,80m, atlético, jeito responsável, ar seguro e, de quebra, UMA FARDA! Toda camufladinha. Um verdadeiro espetáculo com a camiseta justa, ondese lia em verde: Major Richtemberg. A mulher entendeu imediatamente que não precisava se preocupar com mais nada naquela situação.


Foi fácil consertar o carro, ele entendia do assunto. Ela, quase babando:
- Nem sei como agradecer!

Para ele a expressão da moça era recorrente e natural.  A mulherada do Santa Marta e de outros estabelecimentos do Batel, que ele já fingia nem perceber mais, apresentava com frequência aquela mesma expressão. Mas naquela tarde ele estava de ótimo humor:
- Pode me agradecer indo comer alguma coisa comigo ali, na próxima quadra. Vamos?

É claro que foram. O restaurante pequeno tinha toalhas de plástico floridas na mesa. Pediram uma cerveja e frango a passarinho. O papo estava engraçado com os erros de português e gírias da mulher. Ela foi ao banheiro retocar o batom. Ele foi atrás... e foi com tudo. Ela foi “arremessada” contra a parede, já no colo do major. A saia curta favoreceu o que parecia uma cena de cinema na cabeça da moça, que já havia passado por isso, mas nunca com aquela pegada. Transaram em pé, na parede do banheiro. Quando ele "chegou lá" ela sentiu que a sua vida poderia acabar ali, já teria valido a pena. E pensou "Deus, o Senhor olhou pra mim e ouviu as minhas preces outra vez? Isto está mesmo acontecendo?", já imaginando os lindos bebês de olhos azuis que poderiam ter assim que casassem.

Enquanto ele pensava "É, às vezes é bom sair da rotina. Principalmente sem precisar sujar meus bancos de couro. Nota cinco, a infeliz é piriguete, mas parece legal... eu não devia ter feito isso, mas ela quase me implorou."


Despediram-se em dez minutos. Ela lhe entregou o cartão de supervisora. Ele jogou o cartão na lixeira do carro porque, como todo mundo sabe, curitibano não suja a rua.

13 comentários:

Patrícia Garbuio disse...

Vou comentar aqui no blog, porque é aqui que é o lugar correto.
Gostei muito. Mais uma vez está de parabéns! E é a pura realidade. Elas imploram um namorado, mas eles enxergam só sexo. Mulherada tá precisando se comportar melhor. A cafajestada tá solta. Bjssss

Vampira Dea disse...

Uau! Contribuição das melhores;Tem um ar assim retrô,gosto dessa coisa das aparências enganam rsrsr ele de farda,cavalheiro,ela aceitando tudo,piriguete quando no final das contas ele é o putão e ela a moça de familía. Mas olha As coisas mudaram.
Na maioria das vezes não somos nem putas nem santas e dançamos conforme a música que embala gostoso.
Adorei

Ana Luiza disse...

Adorei!
E o mais interessante, é a questão do que fica encoberto!
A farda, talvez encobrisse, que dentro daquela postura gentil, houvesse a lógica do pensamento masculino, diante da ousaria feminina!
E ela, da moça aparentemente recatada, com sua ousadia quase animal, de mulher "desejante", diante do que consideraria um mundo além do "promíscuo" e inusitado encontro!
É, as aparências enganam... As pessoas se enganam e enganam tb os nossos sonhos, quando misturados ao que se pensa que se vê!
E não pare de escrever nunca!
São contos como esse, que na verdade contam!

Gustavo Martins disse...

[Vou comentar aqui no blog, porque é aqui que é o lugar correto.]
Essa sabe das coisas! Parabéns!

Gustavo Martins disse...

Aliás, as três que comentaram foram sensacionais.

Valéria disse...

Pois é, muita gente comenta no Facebook, principalmente por mensagem! Tudo é bem-vindo, mas aqui as outras pessoas que leram tem mais chance de interagir. Adorei os comentários, meninas! Sensacionais mesmo!

Vampira Dea disse...

Pois é Valéria,Gustavo e Patricia, essa tem sido minha luta. Temos blogs e queremos comentários no blog, infelizmente os comentários chegam via dm em face e twitter,frustrante, de tempos em tempos faço campanhas.
As meninas estão de parabéns mesmo

NJ disse...

P ele uma coisa casual sem importância, tipico dos homens canalhas... P ela uma realização, já que a tenra idade, não a tinha lhe dado nada parecido.. Praticamente a "Vida como ela é".

Só Nós Duas disse...

O que eu senti quando li, é o seguinte: até onde isso vai parar?

Pensar algo e agir diferente.

¬¬'

Gustavo Martins disse...

Querida: depende ÚNICA E EXCLUSIVAMENTE do lado que você está na história.

Unknown disse...

Val você minha amiga, está me saindo um verdadeiro Nelson Rodrigues contemporâneo e de saias!!Parabéns mais uma vez minha querida por tanta versatilidade criativa!! Quero mais!!!!Bjsss!!!

Gustavo Martins disse...

Valerie: help!

Valéria disse...

Help, Gu??? Gláucia, querida, obrigada pelo elogio! Sei que não mereço tanto, mas fico feliz! :)