quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Uma noite qualquer

Esta noite, em Bangladesh, um homem acordará com espanto daquele que julgava ser seu último sono. Enquanto Eros segue desatento, em um casebre miserável uma menina conhecerá a dor e o prazer. Jamais saberá distingui-los.

Esta noite, numa cidade qualquer, uma mulher incendiará as vestes com seu próprio fogo... e assim se consumirá. Aqui ao lado, um homem vai se afogar em seu copo. Estranhamente, ninguém ao redor perceberá.

A Indesejada das Gentes arrastará seu longo manto lentamente, senhora do tempo.

:: 21.02.2007 :: Soprado por Lani, a contadora de histórias desaparecida

16 comentários:

Anônimo disse...

Uma das histórias mais comoventes sobre a Indesejada das Gentes. Na verdade, mais de uma história.

beijinhos

Altavolt disse...

O pior é que tudo de estranho e triste tem acontecido no mundo sem que aqueles que estão por perto se dêem conta. Prestar atenção em quem e no que nos rodeia tem sido um exercício cada vez menos praticado. Só notamos quando a barbárie bate à nossa porta.

Taynar disse...

Acho que to precisando queimar junto com as minhas vestes...

Beijos, mocinho

Toninho Moura disse...

O tempo não vê!
Registra.

Vampira Dea disse...

Em pouquissimas palavras o registro do caos da humanidade, alguem pode desamarrar essas vendas? Na verdade quem tudo vê,de verdade não aguenta...

Eli Carlos Vieira disse...

Sou da mesma de Altavolt! Só percebe-se o que acontece ao lado, quando o acontecimento afeta diretamente a si próprio. Individualismo, incompreensão é a regra que impera agora...

nin@ disse...

Muitas vezes queimamos inteiramente, sem que as vestes se consumam... a vida é assim, cruel, ninguém pensa em mim, não penso em ninguém, vagamos no mundo, passamos sem marcas deixar, apenas queimamos no afã de amar...

Fernando Ramos disse...

Morre-se um pouco em todos os lugares.

Aliás, é irônica a perspectiva da morte. Na minha atual letargia tenho visto muita gente morrer todos os dias, embora estas digam que nunca se sentiram tão vivas.

Mas bem, dos males o menor, pelo menos a mim, parei de matar; sobretudo afogado em algum copo.

Ricardo Rayol disse...

Afogar-se nos copos é uma especialidade rara.
Obrigado pela visita.

Anônimo disse...

Bangladesh é um perigo depois das 20h.

Desesperada disse...

Se bobear, ficar em casa é um perigo.

Anônimo disse...

nesta manhã, uma mulher acordou com frio - no corpo e na alma.

não ardeu. não queimou. permaneceu.

Indesejada Solidão.

e por aí, como foi?

F. Reoli disse...

A noite nem sempre se comporta como uma boa e velha senhora. E garanto: são as mais divertidas!
Abraço!

Le Poulpe disse...

Ih, mais uma Lani.

[comentárioinútil]

maria no note da #outramusa disse...

há um mes e meio, mas ou menos, uma mulher daqui jogou álcool no corpo e pôs fogo. morreu em decorrencia, 20 dias depois. emblemático, não?

vida imitando arte... infelizmente.

Carol disse...

Não me canso de voltar aqui só pra ler este conto de novo. Logo ele foi me encantar tanto... vai entender!
Bendita Lani!