- Já cuidei do seu epitáfio: "Aqui jaz uma mulher-menina que nadava pelas nuvens e formulava palavras de tudo aquilo que, mesmo sendo, nunca tinha sido".
- Poético. Sempre pensei que você me via mais lá embaixo, mais no limbo.
- No meu caso, não quero missa, não gosto de padres. Quero novos rituais. No meu velório quero uma chopeira e garrafas de whisky. E rock e blues rolando solto. Nada de reza.
- Larga o pé da letra! Isso é rezar a missa, percebe? Música é prece. Faz bem pra alma. As bebidas são o sangue. Nunca bebeu o defunto?
- Eu geralmente bebo o defunto antes, e ultimamente me sinto meio repreendido nos velórios. O mundo está ficando chato. O pessoal tá ficando velho no sentido triste da palavra.
- Pois não esqueça de me beber. Me beba, com estilo ou sem. Pode ser durante.
- Você e sua mania de achar que beber tem que ter estilo.
- Constatação: infelizmente nos dois casos não vou poder beber com você.
- Acho que tô ficando sem companhia.
- Meu medo, hoje, é que meu enterro seja caretão. Preciso da sua ajuda, ok?
- Pode ter truco?
:: 14.07.2011 :: Nasceu de uma conversa com aquela que anda sumida, mas não morreu
7 comentários:
Temos evitado escrever em forma de diálogo, mas tem vezes que não encontramos outra forma.
Que os leitores e amigos (no sentido amplo da palavra) vejam esta pecinha como um testamento. Registrando que, depois da celebração, o importante é virar pó. Nada de caixão.
Velórios, enterros, coisas que os valham. São sempre um surpresa e a gente se autoconhece mais, ainda mais se o defunto é muito querido. No do meu tio, último remanescente, cheguei à capela que era chique demais pra uma função tão singela. Aquilo mais parecia uma festa. Até então controlada (sou sempre controlada nessas ocasiões), eu caí em prantos. Até hoje não sei direito se chorei pela notável falta de tristeza das pessoas , pelo egoísmo (eu já sem pai) ou se por ter me sentido um peixe fora d´água. Só o que sei é que dei vexame. Não há como homenagear um defunto querido com alegria. Nem mesmo o Zé. Posso prometer o whisky, mas no truco eu passo... rs
tem que ter truco! tem que ter!
Já bebi defunto sim e acho um ritual bem legal. Por mais triste que seja nos velórios além de tristezas quase sempre há reencontros e aquela pessoa normal e cheia de defeitos que um dia preencheu aquela massa de carne passa a ser perfeito, pq curiosamente ninguém se queixa e só lembra de coisas boas, fora aqueles(as) que entre dentes dizem baixinho como a um mantra, já vai tarde desgraçado(a).Pq afinal nem Jesus agradou a todos. A vida anda perdendo seus rituais. Um dia escrevi sobre isso lembrando da minha infância se quiser passa lá e vê não tem nem cerveja, nem a branquinha que adoro mas tem doce no enterro rsrs http://deaeomundo.blogspot.com/2010/05/crianca-flores-e-morte.html
Estes dias me avisaram que morreu um, as pessoas velam de dia e à noite fecham a sala e vão embora,voltam no dia seguinte para enterrar.Achei melhor assim,sem grandes dramas.Uma vez que passou para o outro mundo já era, melhor festar,beber,fumar,jogar,cheirar,foder e o que for aqui e agora.
Vim aqui te visitar depois de um tempão e a primeira coisa que leio é essa... adorei, lindo e absolutamente com a tua cara. Beijos!
Beber tem que ter estilo, obviamente
Mas pode ter truco sim. Truco tbm faz parte de estilo =P
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