Marina, uma respeitável senhora, casada com um general da reserva trinta anos mais velho. Trajava sempre vestidos que iam até o joelho e fazia um coque no cabelo assim que levantava da cama. Lembrava todos os dias, enquanto fazia seu coque, do seu primeiro homem, o único antes do general, soltando e emaranhando o seu cabelo na cama: como ela gostava daquilo! Seus pais jamais cogitaram que o namoro prosseguisse: “o rapaz não tem futuro algum com aquela guitarra”. Acabou se transformando num músico de uma banda londrina famosa assim que perderam contato.
Durante aquele mês, estava hospedando o filho de uma grande amiga, Diego, 21 anos, que procurava emprego na capital. Menino lindo, alto, másculo. No auge da sua beleza, o guri era mais interessante ainda por não suspeitar do poder que exercia sobre as damas respeitáveis da sociedade. O vira nascer, quando ela e a amiga ainda eram adolescentes no interior. E assustou-se quando bateu à sua porta aquele homem feito.
O general, por sua vez, passava as tardes jogando xadrez na praça e a tratava como se fosse ela um soldado. Chamava-a de “minha filha” e exigia uma disciplina militar da esposa.
Até que numa tarde, o guri, espichado no sofá, morrendo de tédio, grita para ela:
- Tia, você quer ajuda com a louça?
- Não, obrigada, querido! Isso é tarefa minha.
Depois de minutos:
- E as tarefas do tio, ele tem cumprido?? - Diego, já em pé na cozinha, mordendo uma maçã.
- Mas é claro! - Marina, em tom estupefato com a audácia do menino!
E assim, na lata, com toda naturalidade e calma, Diego devolve na hora:
- Sabe, tia, não parece não... - morde a maçã - você quer transar??
Marina emudece e olha para trás boquiaberta, num movimento lento, mal acreditando no que ouviu, nunca tinha visto tanta petulância na vida. E com o coração acelerado:
- Diego, eu vou falar com sua mãe sobre isso! Você não pode me faltar assim com o respeito.
O guri, acostumado a reconhecer estes "nãos" que significam “vem logo, que tô facinha”, aproxima-se, larga a maçã e cala Marina com um beijo daqueles, que para a gurizada de hoje são muito naturais. Os joelhos da mulher amoleceram com a pegada dele. Transaram. No balcão da cozinha, no sofá e quatro vezes na cama. Só pararam porque o general estava para chegar.
No dia seguinte, Marina levantou da cama e se olhou no espelho. Cortou os longos cabelos castanhos na altura dos ombros e não os escovou, bateu-os pra baixo para deixá-los mais armados. Com o barbeador do general raspou uma área acima da orelha. Vestiu uma calça azul vibrante, que estava sem uso. Um tênis All-Star velho e uma camiseta branca. Olhou-se no espelho, dispensou o sutiã pra ficar mais provocante. E quando estava saindo do quarto, lembrou d gandola do general no armário. Com um vidro de errorex fez uma arte qualquer e foi a pé ao mercado. Na frente da gandola havia escrito “100% ROCK'N'ROLL”, E nas costas, pra quem se virasse para olhar, um “FODA-SE”.
10 comentários:
Excelente! A juventude não tem pudor, é audaciosa e a gente adora!
É bem a minha amiga Valéria!!!Amei!!!
Rústico, apimentado, e sempre muito sagaz e inteligente!!!Parabéns Val!!
Amiga... Não tinha conhecimento desse seu dom!
Vc conseguiu trazer algo "picante" de uma forma tão sem pudor, que torna o conto realmente interessante!
A mistura deu certíssimo!
Te confesso que gostaria de virar a página, como se fosse um livro, e ler mais!
Adorei, de verdade!
Prezada Ana luiza: o bvlog é como um livro, só que ao invés de virar a página, basta clicar. Não confesse. Clique!
Adorei
Atitude é tudo
Adorei Valéria.
Um bom texto! Aquele gostinho de quero mais é inevitável. Falar de forma picante sem expor é divino.
Sempre há tempo para salvar um casamento ..hahah
Cara, vou deixar um texto aí pra ti. É uma postagem antiga do meu blog:
Ele estava na última mesa. Havia uma mulher com ele, mas estava dormindo com a cabeça encostada na parede. Ele encarava a garrafa de vinho como se a mulher não estivesse ali. Pensativo. Parecia um velho decrépito, dos que levam suas vidas nas costas sem saber ao certo o motivo. Secou seu copo e levantou-se para ir ao banheiro. Então o reconheci. Inconfundível expressão cansada, estampando uma inconformidade com o ser humano. Esperei ele voltar e me aproximei.
- Bukowski? – Perguntei
- Sim.
Ele acendeu um cigarro e deu uma tragada tão forte que foi possível ouvir a brasa queimar. Como se fosse um velho amigo, sentei-me na cadeira ao lado derramando inconveniência.
- Como vai Chinaski? – Tentei uma conversa.
Para meu espanto, o velho respondeu.
- Estou pensando em acabar com ele. Vou matá-lo. Ele não merece conviver com tanta mediocridade que só pensa em enrabá-lo. – recitou.
Pedi outra garrafa, que em questão de minutos esvaziara. E assim com a terceira e a quarta. E incrivelmente havíamos nos esquecido da mulher que ali dormia. Ao menos eu havia esquecido. Então reparei bem. Era uma senhora com horríveis verrugas que começavam entre os seios e percorriam um caminho até o queixo. Parecia uma trilha de formigas. Toquei nelas. O velho soltou uma gargalhada rouca.
- Ela está morta. – Falou.
Toquei mais nas verrugas. Ela não se moveu. Bukowski deu uma sacudida nela. Nada.
- Não falei? – Perguntou.
- Falou. - Concordei, tocando na verruga que tinha mais destaque.
Levantou-se resmungando e colocando um braço do cadáver em seu ombro.
- Me ajude.
Fiz o mesmo no outro braço morto e caminhamos em direção à porta.
- Anota pra mim. – Gritou para o Mendez, dono do bar.
Jogamos a mulher no primeiro táxi que apareceu.
- Ela está bêbada – falou Buk para o motorista. – O bar já está fechando e não havia ninguém com ela. Acho que você pode levá-la até o hospital.
Tive que pagar a corrida antecipada. Fiquei observando o carro desaparecer no escuro.
- Ela tinha mais verrugas como aquelas? – Perguntei.
- Assustadoras.
Bem legal o conto! Ágil, direto, simples e alto astral. Parabéns!
Obrigada, pessoal! :) Fico bem feliz que tenham gostado. Tem outro a caminho. Beijos a todos.
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