terça-feira, 25 de novembro de 2014

Grau indefinido de parentesco

Jorge e Jean eram primos de primeiro grau. Embora morassem em cidades distantes, passavam juntos as férias da infância e adolescência no sítio da vó Laurinda. Eram companheiraços nas brincadeiras e aventuras de criança, desde jogar bola até nadar no rio.

Foi natural o distanciamento lá pela metade do segundo grau, e aí vieram a universidade e os primeiros namoros, cada um seguiu seu rumo.

Então a prima Soninha marcou um daqueles grandes encontros de família num natal no sítio da avó. Reuniu gente de todo lado, aliás, veio praticamente todo mundo! Iniciados os festejos, os dois se encontraram e, enquanto lembravam dos velhos tempos, o Jorge notou que o Jean estava mais delicado, meio arrumadinho demais. Depois que bebeu “um frisante”, ficou até afetadinho. O Jorge puxou uns assuntos de mulher, mas o Jean não engatou. Só pode ser coisa de agora, pensou, pois em certas ocasiões até cama dividiram, e nunca que o primo manifestou esse lado borboleta.

O fato é que a festa seguiu, e se distraíram nas conversas com os demais, e chegou a hora de acomodar a “parentaiada”. Como a casa principal ficou lotada, sobrou para o Jorge e o Jean o quartinho de trás que eles dividiam nos tempos de moleque. A vó Laurinda fez questão de arrumar as camas do jeito que fazia quando eram crianças.

O Jorge ficou meio incomodado, se trocou no banheiro, aproveitou que estava embalado nas cervejas, apagou a luz e virou pro seu lado pra dormir. Nem o digitar nervoso do primo em mensagens no celular incomodou. Nem as risadinhas contidas. Mas o sono não vinha. Aí começou a ouvir um barulho, um fap-fap-fap suspeito que aumentava e diminuía de ritmo. A respiração do Jean ficava mais pesada. Só falta o infeliz estar batendo uma na cama ali do lado. No que estará se inspirando? Será que é sexo virtual? Será que é sexo GAY virtual?

Pior é que o Jorge não tinha coragem de olhar pra trás pra ver se era aquilo mesmo (enfim, era uma conjectura), nem de falar alguma coisa pra cortar o clima. Aí, o que no início era um fap-fap-fap discreto parecia que tomava conta de todo quarto. Vai que ele está virado para o meu lado! E se a inspiração sou eu? Vai que ele chega lá e respinga alguma coisa em mim!

Então o Jorge não se conteve, levantou no escuro mesmo, e disse com uma voz imponente: “Desculpa incomodar, primo. Minha bexiga está cheia. Vou explodir se não mijar.” E foi para o banheiro. Quando voltou, o Jean já estava dormindo todo encolhidinho.

:: 25.11.2014 ::