terça-feira, 31 de julho de 2012

Pão que te partiu

Agora sim! Depois de testar as perversettes e leitores com um continho que já havia sido publicado, mandamos, a pedidos, um real inédito do Felipe Arriaga Carriço. Não contavam com nossa astúcia, hein? Percebam a nuance poético-perversa!

Tamanha fome sentia.
Por isso os lábios lambia.
E quanto mais lambia,
ainda mais fome sentia.
Mas não mordia,
pois lambia para matar a fome
e se mordesse não receberia
o "pão nosso de cada dia"
que a velha freira lhe oferecia.

terça-feira, 24 de julho de 2012

MCPmate - Uma nova... "Leitora"



Ou podemos chamar esta incógnita/discreta de... Bicuda?

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Jukebox

Eu tinha quatro anos quando minha mãe foi trabalhar na zona. Ela abriu uma lojinha de roupa de criança. Nesse novo habitat havia casas e bares repletos de moças bem dispostas e alegres. Elas adoravam os vestidos e camisetas vermelhas da vitrine.

Nordestinas, catarinenses e até umas moças das redondezas, sempre a mesma história: gravidez precoce, azar na vida e/ou trazidas por algum caminhoneiro que, com promessa de vida melhor em outro lugar, as tiravam da miséria e descarregavam ali na cidadezinha portuária.

No inicio os olhos tinham brilho, pele jovial e viçosa, carne nova como diziam. Frequentavam a loja, compravam os artigos mais caros, tinham motorista de táxi cativo e podiam até recusar convites dos ensacadores fedidos de suor e soja. Meses depois já estavam mais velhas uns cinco anos, corroídas por noites em claro, abortos, bebida e droga, carne passada. Nos olhos o brilho cedia lugar para o vazio. Ganhavam pouco por muito trabalho, passavam a escolher a roupa mais em conta e pagavam fiado.

Depois desse cenário, precisei de anos de terapia para aceitar que não sou brega. Mesmo assim, no bar, às vezes coloco uma moeda na jukebox e escolho uma música doída de amor perdido.

:: 15.06.2004 ::