sexta-feira, 28 de outubro de 2011

MCPmate - Atrasadinha

Ela demorou, mas mandou, muito bem. Ai essa cor, ai essas curvas... Essa mão escondendo as vergonhas. Broinha de fubá mimoso.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Fim do mundo

Minha avó vivia contando causos de assombração na beira do rio. Para amenizar, era taxativa em dizer que o mundo ia acabar em 2000. Eu era criança e fazia as contas nos dedos, em 2000 eu teria 30 anos. Pensava, estarei velha mesmo não faz mal que o mundo acabe. Bebi todas, cherei, fumei e beijei cada boca que desejei.

Chegou 2001 e bateu uma grande tristeza. O mundo não acabou e fiquei completamente perdida e mal falada na cidade.

:: 25.10.2011 :: historinha contada pela Sra. Yfy

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Nem meu cachorro gosta de mim

Ela foi embora e eu fiquei no vazio daquela casa simples com a sensação de que nunca mais sentiria a paz de um colo quente ou de uma conversa cúmplice. A solidão apertou e eu não estava mais na fase de sair por aí galanteando. Apelei para os amigos, mas todos estavam distantes. Caí no erro anunciado de me satisfazer só com ela.

Num dia de desespero assisti o reclame de uma ONG que defende a adoção de cãezinhos abandonados. Chorei e decidi. Na manhã seguinte rodei pela cidade e encontrei um filhote que parecia a minha cara. O pessoal do abrigo me deu a maior força e algumas instruções. Como ele não tinha nome, batizei Odorico, homenagem a Dias Gomes.

Passei numa pet e comprei ração, brinquedos, uma caminha, chegamos em casa e percebi que o Odorico se adaptou com grande facilidade. À casa. O tempo passava e o viralata demonstrava grande afinidade com o ambiente, com as raríssimas visitas, com os vizinhos que passavam na rua, mas comigo era pura apatia. Justo eu, o provedor.

A veterinária — em quem Odorico se esfregava mesmo depois de lhe aplicar vacinas doloridas  disse que era impressão minha: "alguns cães têm espírito independente". Ora, se eu entrava num cômodo da casa, ele saía; mesmo ao tentar algum carinho, o animal se mantinha indiferente; e raramente me deixava levá-lo passear com a coleira. Até feromônios eu tentei, mas o máximo que consegui foi flagrá-lo encoxando a almofada da sala em que eu descansava. Tive que jogar fora o hormônio e a almofada.

Resolvi agir igual e nos tornamos dois estranhos solitários sob o mesmo teto. Eu com meu blues e ele com sua chorosa ladainha canina. Um dia peguei o danado abanando o rabo como helicóptero quando uma vizinha gostosa passou com uma cadela de raça e os dois (a cadelinha e o Odorico) roçaram focinhos através do portão. Quando me aproximei a vizinha puxou forte a coleira e se afastou.

Diante dessa possível luz no fim do túnel, usei de todo meu entusiasmo e investi naquilo que sempre fiz melhor na minha vida. Coloquei uma cerquinha de alambrado isolando o jardim e o portão.

:: 21.10.2011 ::

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

O potinho da discórdia (parte 4)

Potinho abastecido, devidamente acondicionado dentro da jaqueta, dia lindo lá fora, o Zé tinha 15 minutos para entregar no laboratório. Rasgou a cidade de moto, beirando a imprudência, mas chegou em tempo. Foi direto ao balcão de coletas e encontrou a atendente, acompanhada de mais duas. Ela fez que não lembrava e ele teve que explicar a situação para as três.

No fim, para disfarçar, soltou um "Com a namorada em casa fica muito mais fácil". Elas nem esboçaram reação. Repassaram o questionário, em que o espermante (associação livre do Zé com "lactante") garante que a coisa é dele, que tem menos de 30 minutos que foi "colhido" e que não sobrou nada, isentando o laboratório de uma eventual gestação artificial.

Missão cumprida, o Zé subiu na motoca aliviado e pilotou calmamente até o trabalho. Mas espera que a história não terminou. No dia seguinte, no trabalho (note o grifo), baixou o resultado pela internet. Tudo normal. Mandou para a impressora coletiva (opa!) e quando foi buscar, meio atrasado, o exame já não estava mais lá. Encontrou pendurado no edital do café.

Ele ainda hoje acusa o pessoal de bullying quando o chamam de Zé Porrinha no corredor da empresa. E enquanto durou o namoro, jurou de pés juntos pra Aninha que tudo se resolveu na salinha do laboratório, e que a inspiração foi ela.

:: 05.09.2011 ::

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

O potinho da discórdia (parte 3)

O Zé estava na salinha do laboratório com a árdua missão de "depositar o material" no potinho. Depois de muitas tentativas, e como não conseguiu, vestiu-se, esperou o calorzão corporal passar e foi no balcão comunicar o fracasso.

"Não tem mesmo como fazer em casa?" Eram duas da tarde. A moça olhou para ele de um jeito estranho, perguntou se morava perto, pois ele tinha que trazer o exame junto ao corpo num prazo máximo de 30 minutos. Ele mentiu que sim, mas tinha um trunfo: o Zé era motoqueiro, o trânsito não seria empecilho.

Pegou um potinho novo, sentou na motoca e voou até em casa. Esqueceu que a empregada estava lá, mas não é isso que o impediria de realizar sua incumbência (não sabe por que, mas lembrou dos Doze Trabalhos de Hércules). Comunicou que tinha que fazer um serviço urgente no quarto, ligou o micro (sem som, claro), acessou um desses you porn da vida e, para sua surpresa, antes mesmo que as moças acabassem de tirar a roupa para atacar um canastrão, resolveu o problema. Fácil assim.

Tampou o potinho, colocou dentro da jaqueta e pensou: "Por que será que esses laboratórios não se modernizam? Custava um LCD com uns pornozinhos passando?"

(continua)

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

O potinho da discórdia (parte 2)

O Zé estava no laboratório para fazer o espermograma por exigência da provisoriamente ex-namorada Aninha. Na sala de espera teve a sensação de que todo mundo sabia o que ele ia fazer, imaginou como seria a "outra sala", pensou no que teria para se inspirar e em safadeza também. Até que uma atendente bonita o chamou pelo nome. "Tinha que ser gostosa?", pensou.

Ela o conduziu até a salinha, um cubículo com pia, poltrona e um balcãozinho. Sem janela. "Aqui está o potinho, você deposita aqui dentro sem desperdiçar nada. Aqui tem revistas e aqui a pia para você se lavar. Tranque a porta por dentro", falou a moça com a maior frieza. E saiu.

O Zé tinha consciência que ela sabia o que ele ia fazer. Mas não desistiu. Abriu a gaveta das revistas ("imagina quantos caras se inspiraram nelas, e são péssimas!"), pegou algumas, abriu o potinho, se posicionou, escolheu a melhor, começou a folhear, e mandou ver. Enquanto isso, lá fora, tinha pessoas falando, rindo, criança chorando, mas ele continuou. E aquilo começou a demorar ("será que vou falhar?"), e insistiu. Depois de algum tempo algum FDP tentou abrir a porta. Desconcentração total. Ele percebeu que pelo esforço, estava suando muito. Não tinha um espelho onde pudesse se ver, mas sentia que estava vermelho.

Tentou, tentou, trocou de revista, e tentou, trocou de mão, e tentou, trocou de pensamentos, e tentou, fez muita força, mas o máximo que conseguiu sentir foi uma cosquinha. E o suador. Sem falar que as revistas eram uma podreira só. Desistiu.
 
(continua)

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O potinho da discórdia (parte 1)

No começo o namoro do Zé com a Aninha era só festa. Se divertiam muito e levavam a vida com leveza. Uns meses depois ela começou a tirar as asinhas para fora e ficou bem claro que o objetivo era "casar e ter filhos". E tinha pressa a danada. Ele percebeu a pequena obsessão, mas como se amavam foi empurrando com a barriga.

Só que um dia o Zé não se aguentou e para dar uma cutucada, resolveu brincar. No meio de uma conversa, como que distraído, soltou um "então, antes de eu fazer a vasectomia..." Coitada da Aninha, ficou lívida, chorou muito e pra desgraça do Zé não teve "era brincadeira" que resolvesse. Meteu-lhe um pé na bunda e só voltava a namorar se ele fizesse um espermograma.

O Zé ficou arrasado e deu o braço a torcer. Perguntou três vezes no telefone, pra moça do laboratório, se não tinha como fazer em casa. A atendente foi taxativa e afirmou que não, que no percurso "a coleta" perderia as características. Então o Zé se guardou os três dias exigidos "por lei" e foi no laboratório para o sacrifício.

(continua)

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Fácil de entender, difícil de explicar

Quando eu tinha dezessete anos fui apaixonada por um estudante de engenharia que conheci no Interbairros. Ele se interessou por mim, mas nos finais de semana sumia e, claro, descobri que tinha namorada. Flagrei os dois andando de mãos dadas no Mueller. Pressionei, ele não largou dela, fiquei com o coração partido. Nunca mais nos vimos.

Vinte anos depois encontrei o maldito no Facebook, casado e bem sucedido. Inventei um perfil fake para explorar e me aproximar. Para piorar, a esposa e eu frequentamos o mesmo cabeleireiro. Convidei o cafa para ser meu amigo nos dois perfis, o oficial e o fake. No oficial, ele aceitou e disse que eu sempre seria especial blablabla. Mas no perfil falso, aquele com fotinho de lingerie e onde me faço de biscate-cult, ele aceitou e veio com uma conversinha de que estava em busca de um novo amor, mudou o status para solteiro... Fui dando corda.

Ele contou vantagens, prometeu mundos e fundos, e o prazer da vingança iminente crescendo dentro de mim. Pergunto: chuto, pego ou mando um travesti no meu lugar?

26.08.2011 :: historinha-enquete e muito contemporânea contada pela Dita