sexta-feira, 24 de junho de 2011

Furor

Fechamos esta VII Semana da Contribuição com mais um trevisônico e impecável conto do amigo Heru Sa. Dispensa apresentações e comentários [da nossa parte; vocês, mandem ver!].

Uniforme justo e cabelo preso Sonia usa desde os tempos do colégio da polícia militar, agasalho e camiseta colados ou saia justa dificultando os passos no desfile de sete de setembro na Cândido de Abreu.

Sonhou e realizou, é policial militar, adora o que faz, essa coisa de autoridade e porte de arma dá um não sei o quê, é até melhor PM quando vem a tpm.

Gosta mesmo é de dia de jogo do Coritiba, a rapaziada grita coxa, coxa, Sonia delira que é com ela, coxas úmidas apertadas pela calça cáqui, grandes bolsos ressaltando seios sob a camisa que não foi feita para ela.

Momentos de tensão e a respiração alterada força o botão, uma explosão pronta para acontecer, Sonia perde a noção do tempo, quer o êxtase do torcedor, imagina-se carregada nos braços da torcida, centenas de mãos a abrir-lhe a farda.

Nos dias em que não está de serviço, Sonia solta os cabelos, passa batom, expõe decote e pernas. Despe-se da autoridade, mas mantém o porte, realiza sonhos.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

A patroa

Continuando a VII Semana da Contribuição, este micro do amigo Carriço.

As vontades da velha viúva rica não tinham fim.
Começava o dia nas mãos do jardineiro
e terminava aos pés do criado
mudo.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Papo de oficina

Como os mais ligados já devem saber, nesta VII Semana da Contribuição MCP vai rolar prêmio. A premiação está intimamente ligada a este conto [MCPzão!] do pessoal do blog Uma história várias mãos, que, como o nome diz, foi escrito por uma turminha [Eduardo Passos, Camila Karina, Vinícius Andrade e Roberta Fraga]. Para saber como concorrer ao prêmio, leia as regras nos comentários deste post. 

Roberto marcou de sair com sua noiva Luísa. Os dois combinaram de passar o dia juntos, mas não decidiram o que iam fazer exatamente. O encontro ficou assim indefinido porque ele queria apenas uma oportunidade de passear com o carro consertado.

Luísa ficou um pouco chateada com a falta de iniciativa do noivo para decidir entre os programas de sempre, ou seja, cinema, restaurante, praia ou motel, mas acabou deixando para lá. Os dois mal conseguem se ver. Roberto trabalha fora da cidade e só tem uma folga semanal.

Romântica que é, Luísa sempre espera ansiosa para encontrar Roberto depois de uma semana cansativa, e silenciosamente também espera um sinal de entusiasmo de Roberto. Mas hoje seria diferente, pensou Luisa. Apesar de ter um pessimismo sobre planos para encontrar Roberto, já que ele nunca decidia nada, deixava tudo por conta de Luísa. 'Hoje será diferente!', repetiu.

Já faz algum tempo, uma pulga atrás da orelha da jovem faz com que ela se pergunte sobre a razão de estar com Roberto. Ultimamente os pensamentos mais comuns na cabeça de Luísa são 'ele liga mais para o carro do que para mim?' e 'como vai ser isso quando eu deixar de ser bonita?'.

Roberto, é claro, não ligava para isso. Carro consertado, dia de folga, uma noiva gostosa. Isso tudo ficava repetindo na cabeça dele como um mantra. E nem dá para saber se a ordem dos pensamentos tem algo a ver com ordem de importância. No entanto, Roberto não deveria demonstrar tanta tranquilidade. Ele ainda não sabia de uma coisa.

A sua rotina de trabalho fez com que ele se distanciasse da Luísa, mas não apenas fisicamente. Quando ele deixou o carro para consertar perto da casa da Luísa, não pensou em como isso estragaria sua folga e seu noivado. O mecânico, apesar de novo na oficina, é antigo morador do bairro. Sabe como é, Luísa passando as semanas sozinhas, passando todos os dias em frente à oficina e o Zé Maurício lá, todo dia de olho nela.

Na véspera do encontro dos noivos, por coincidência, Roberto acabou deixando o carro na oficina do Zé Maurício. Depois de explicar o problema do carro, o mecânico começou a prestar atenção na vida do cliente. Noiva que mora aqui perto, uma semana longe, é isso mesmo. Ele é que tá pegando aquela loira do prédio aqui do lado. Então, para estragar o encontro dos dois, ele não fez o serviço completo, velho costume dos mecânicos, mas dessa vez por um motivo mais do que particular.

No dia seguinte, o resultado. Manchete em todos os jornais. Carro capota e casal morre na Brasil. Zé nem ficou sabendo, mas sentiu uma falta de ver a loira todos os dias.

Mais tarde, enquanto lia a manchete nos jornais da banca, Zé Maurício não parou um minuto sequer para pensar se fora egoísta ou invejoso. Agiu, como agem os impetuosos, justificando sua atitude, um tanto macabra, um tanto necessária. Tampouco ficou a se vangloriar em silêncio ao ouvir o burburinho dos comentários dos passantes ante a gravidade do acidente que vitimou o jovem casal. Cada um dos comentários tecia uma nova história de vida diferente para aquele casal, dando conta de uma paixão, que ao cabo dos anos, nem existia mais.

Zé Maurício pediu um exemplar do jornal, retirou-se rapidamente rumo a sua oficina mecânica e lá pôs-se a ler a notícia com seus óculos tortos sobre a face, saboreando café com leite e pão com manteiga, afinal, para ele, era apenas o começo de mais um dia com notícias ruins no jornal.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Hormônios em fúria e velas de sete dias

Este continho light a Sra. Yfy mandou especialmente para a VII Semana da Contribuição MCP. Já que é assim, vamos escancarar a Semana com ele.

Tudo que ele mais queria era um filho. Quando ela engravidou ele só dava carinho, cortou todo o sexo "pelo bem da criança". Nos primeiros três meses ela sobreviveu com siririquinhas consumadas às escondidas. No quarto mês, sedenta de sexo e já viciada em sites pornôs, gozava de manhã, de tarde e à noitinha antes dele chegar. A vontade não diminuía e só os dedos já não saciavam.

De repente as velas do castiçal e os desodorantes na gôndola do supermercado se tornaram objetos do desejo. 

Foi flagrada em pleno ato pelo marido quando fazia penetração dupla com velas de sete dias. Levou uma surra e foi levada para exorcizar o diabo do pecado numa igreja evangélica.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

8)

Pois é, pessoal. Chegamos aos 100 mil acessos. Pode não parecer muita coisa, mas pra um blog de literatura vagabundaalternativa como o MCP é uma grande conquista. Nosso primeiro post foi em 22 de janeiro de 2008 (vai lá e comenta). Colocamos o medidor visível só em junho/2008. Tem o Analytics que entrou um pouco depois, mas corrobora os números. São mais de três anos de blog, histórias malucas, ousadas, pauleiras, risadas, ofensas, as deliciosas e indispensáveis MCPmates (obrigado, Anônimo)... Muita gente chegou, muita gente se foi, as leitoras e leitores fiéis estão aí até hoje. Os contos de contribuição, o LIVRO... Muita coisa rolando nos bastidores (comentários): os stalkers anônimos, os perseguidores declarados, as apaixonadas... Os adventos do Twitter e do Facebook, enfim, rolou de tudo. E como isto já está começando a ficar melado e com cara de discurso de formatura, vamos ao que interessa: continuem destrinchando o blog, comprem o livro e aguardem... que logo chega o novo.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Amarrado sete vezes

É sentir cheiro de incenso barato que eu lembro dela, a balconista de casa de umbanda. Sabia todas as simpatias, nomes de santos, da vida, morena de olhos místicos, tão linda e articulada que eu tinha certeza que era filha do dono, ou de Exu. Ela nunca desmentiu.

De perto o cheiro impregnado na pele e nos cabelos me incomodava, incenso barato com fumo de corda, presente embrulhado em jornal, eu bebia mais que o de costume para superar.

Eu cada vez mais apaixonado, ela judiando mais e mais de mim, implicava com minha bebida, com minhas saídas. Num dia daqueles em que me botou pra correr eu voltei no boteco e encontrei a Cidinha, fui pra casa dela e broxei. Na hora de pagar (trato é trato) procurei uma nota de 50 que guardava escondida no forro da carteira, e lá no fundo achei um bilhetinho com letras mínúsculas:

Minha Rainha Pomba Gira Maria Padilha das 7 encruzilhadas vá até onde (Z.É.) estiver e faça com que não descanse enquanto não falar comigo, pelos poderes da terra, pela presença do fogo, pela inspiração do ar, pelas virtudes da água, invoco as 13 almas benditas para que se dirijam até onde está neste momento (Z.É.) e traga o seu espírito até mim, amarrando-o definitivamente ao meu. Que (Z.É.) jamais deseje outra pessoa e que tenha olhos só pra mim. Vai mulher girar ao meu favor, fazei que (Z.É.) seja dominado por mim, preso debaixo do meu pé esquerdo, que ande atrás de mim como uma cobra rastejante, que me ame loucamente. Minha boa amiga, mulher de 7 Exus e sua Falange! Que o desejo de (Z.É.) por mim o deixe cego para outras pessoas, que elas não consigam mais vê-lo como homem. Rogo e suplico que amarre (Z.É.) nos 7 nós da sua saia. Daqui mais um pouco (Z.É.) não vai comer, dormir ou fazer coisa alguma a não ser se estiver comigo, confio no poder das 7 encruzilhadas e desta oração poderosa!

:: 14.06.2011 ::

terça-feira, 7 de junho de 2011

Só gostava de ser bem tratada

O Zé conheceu a lindinha num desses sites de relacionamento. Todo mundo sabe como é. Primeiro uns e-mails, depois e-mails com foto, intermináveis sessões de MSN, sessões obscenas de MSN com câmera (isso que ela jurou que JAMAIS se exibiria sexualmente), telefonemas cheios de cumplicidade... eram namorados, amantes, faltava o encontro.

Quando ele se propôs a visitar a linda (de busão, todo ferrado), ela inventou uma desculpa, que nunca ficava no mesmo endereço... Então ele propôs que ela viesse, ficar na CASA DELE. Foi aí que a coisa esquisitou. Ela sempre dizia que era bem sucedida, que trabalhava com reforma de casas, por isso viajava bastante. Porém começou a sugerir que ELE pagasse as passagens, e de avião. Ele estranhou, negociou um meio-a-meio, ela até fez de conta aceitar, mas acabou com uma desculpa de que o cartão DA MÃE (?) estava sem limite.

O Zé apertou, e ela veio com um discurso de que gostava de ganhar presentes, que gostava de ser mimada pelos homens. Inclusive, que já tinha ido assim pra Floripa (por isso a bandida não parou em Curitiba), Salvador, Brasília... Antes que ela terminasse a lista, o Zé tirou não se sabe daonde uma confiança que não tinha, e foi taxativo que estavam do mesmo lado da balança, que também tinha cacife para ganhar mimos e presentes.

Resultado? O Zé não arredou pé, ela broxou e a relação desandou. Na fossa, ele chegou às seguintes conclusões:
     1. Ela era gostoSINHA. Não dessas de comer um caminhão de merda por ela. Então que não viesse querer demais.
     2. Mulher (ainda mais uma defensora da Liberdade) pode dar pra quem quiser, pra todo mundo, isso não faz dela puta. Puta é a que cobra. Opa, pera lá, mas ela COBROU de mim!
     3. Pior, cobrou ANTES de dar.
     4. Não adianta tapar sol com peneira. Isso de ganhar presentes dos "amigos" significa que ela é puta. Só não constatou, AINDA.
     5. O absurdo é tanto que a vontade minguou. Agora nem se ela pagar a MINHA passagem eu vou.

Isso aí, Zé. Tem mulher que não se aperta. Deu um probleminha no orçamento, aciona os contatos e faz uma grana. E depois que faz a primeira vez, amigo, não para mais. Aliás, para quando fica velha e perde o viço. Aí ELA é que começa a pagar.

:: 07.06.2011 :: 

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Luxúria inocente

Ao rever a foto, posso dizer que um homem é capaz de matar por um rostinho daqueles, exatamente aquela foto em que aparece o aparelho. Era uma “menina” de 19 e eu, praticamente, um criminoso.

Porém, se olhar bem para o meu rosto na época, eu também recendia inocência. Passei por muita coisa nestes últimos tempos para chegar até aqui, isso é que me deixou assim, errado como vocês me percebem.

:: 31.05.2011 ::