segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Nova modalidade

Na minha família tem um cirurgião plástico que se tornou, na região dele, em algo como o rei dos implantes de silicone. Enriqueceu por isso, e como o assunto rende, acabou se tornando em alguns momentos, mesmo sendo discreto, no centro das atenções nas reuniões de família.

O patriarca, por sua vez, é um sujeito vivido e grosso, do alto dos seus oitenta e poucos. Viu muita coisa, viu gente morrer de bala e virgindade ser leiloada em casa de tolerância, e vê safadeza em tudo. Felizmente viu os filhos vingarem homens bem sucedidos, graças a sua energia e à indispensável dedicação da santa mulher com quem casou.

No natal o assunto veio de novo à baila durante a ceia, quando o filho do cirurgião, estudante de medicina, comentou da aberração que era o travesti cujos implantes caseiros de bunda despencaram pela perna e do outro que desejava 500 mililitros de silicone em cada peito. Neste caso, o pai se negou a atender o pedido, mas devido à fortuna oferecida, acabou cedendo.

Um primo falou que travestis deviam investir mais em cortar fora as trombinhas. O estudante, inteirado dos negócios, esclareceu que seria como acabar com o verdadeiro ganha-pão deles — e explicou por que. O patriarca suspirou. Então no fervor do álcool uma tia carola confessou seu espanto, pois não sabia que "esses travestis" (imagine um tom asqueroso) ganhavam tanto. O cirurgião corrigiu, explicou que quem pagava os implantes era o cafetão.

Percebi que o patriarca arregalou os olhos. Passou o resto da festa resmungando para quem quisesse ouvir: "Cafetão de travesti. É o que me faltava. Onde esse mundo vai acabar?"

:: 26.12.2011 ::

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Não é conto, desencana

Acabei de chegar da Editora InVerso, onde fizemos um balanço bem bacana das vendas do livro (a 2ª edição - pocket) depois de um ano. É interessante ver o "filhote" do ponto de vista mercadológico, como ele se saiu, qual foi a receptividade. Algumas informações interessantes:
- Foram vendidas efetivamente 510 unidades (a meta era 1.000)
- Quase metade em ações em bares, restaurantes e teatros
- Nas livrarias e bancas, as pessoas relutam em comprar o livro no formato pocket. Preferem que o livro seja GRANDE, associam tamanho a valor
- Por outro lado, nas ações o "pocket" tem um apelo mais atraente
- Foram distribuídos para imprensa, degustação etc. 238 exemplares; acha muito? não é
- Tem ainda muito livro por aí nas livrarias, fiquem ligados
- Ano que vem faremos mais palestras, workshops e ações de venda
- Esta merda deO blog não vende quase nada

Agora, convenhamos, você que lê o blog e ainda não comprou: QUE FEIO! Só quer saber de usufruir gratuitamente do talento do autor... Vai ali do lado na barra lateral e compre seu exemplar. A propósito, O NATAL TÁ AÍ: compre mais de um de cada! Já pensou que presente bacana?

E preparem-se que ano que vem tem novidade. Arrisca antecipar o que é?

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Personagem das corridas de rua

Os organizadores das corridas faziam vista grossa para ele. Cabelo e barba longos e desgrenhados, roupas molambentas, tênis velho e impróprio para longas distâncias e o cheiro que incomodava os outros competidores. Os faladores do circuito arriscavam que ele só participava porque no final da prova tinha lanchinho.

Impressionava o fato de concluir todos os trajetos invariavelmente no pelotão intermediário. Pegava o kit reposição, sentava num canto afastado e comia afoito, gritando repetidamente: "Meu lar é um bufê da esperança!"

:: 29.10.2004 ::

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

MCPmate - Fotógrafa

Ela não é só uma modelo. Ela é uma fotógrafa. E tem paixão pelo que faz. Por isso, leitor (e leitora!), a luz e o enquadramento despertam a atenção. Logo, no seu MCP, ela em cores.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Quando a lei de trânsito atrapalha

A namoradinha do Zé pediu de natal um curso de autoescola pra tirar carteira de motorista. Convenhamos que é um presente caro. Pra piorar, o pedido lembrou o Zé da maldita lei que agora obriga os aspirantes a motorista a intermináveis aulas práticas de autoescola, e como ela complicou a vida dele.

Antes era moleza. Bastava convidar uma moça bonita para ensinar a dirigir. O Zé descolava um fusquinha e colocava a gata no banco do lado. A aprendiz começava treinando a trocar de marcha enquanto ele estava no volante, ia subindo a mão pela perna, abriam-se alguns botões e quando percebia já estava esparramada no banco inclinado.

Só de raiva, o Zé deu pra namorada um perfume paraguaio.

:: 16.11.2011 :: baseado (ops) numa ideia do Victor Hugo

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

São João da Cristina

Passe alguns dias em São João da Cristina e mude o sentido da palavra férias. Lá tem mais esterco que fruta, mais pinga que água, a pesca é em rio lamacento e as mulheres são peludas. O tio do Zé reservou pra gente o cômodo da casa onde criava codornas. Tirou de lá as gaiolas acho mais que pra evitar que a gente tumultuasse a criação.

Depois de muito ovinho e pinga, acabamos na zona. Na verdade, o único bar da cidade, frequentado até pelas paisanas. Era difícil diferenciar umas das outras, todas maquiadas em excesso. Pegamos a noite da pizza.
- Tem pizza de que sabor?
- De milho, de ervilha e a tropical.
- Do que é essa tropical?
- De milho e ervilha.
- Vê aí uma tropical e mais cerveja.

O violeiro e o sanfoneiro e começaram a tocar na raça, sem microfone. O povo se amontoou pra dançar no chão de terra batida. O barulho dos pés arrastando quase cobria a cantoria. O Zé foi até a mesa das bonitinhas — éramos de fora, estavam todas simpáticas com a gente — e perguntou se estavam comendo pizza de milho porque eram galinhas. Fizeram que não entenderam e toparam dançar. Rapidinho o Zé foi com a Cristina (não a do São João) lá pro fundo onde tinham uns quartinhos só com cortina na porta. Logo depois saiu correndo, eu acompanhei pra não aguentar bronca sozinho. Depois ele explicou:
- A luz tosca do bar disfarçou o que a poeira e o suor fazem nos pezinhos com sandália. Fica aquela gosminha preta entre os dedos. Na luz do quarto, quando vi aquilo, me deu ânsia de vômito. Daí não deu pra transar, muito menos pagar, né?

:: 02.04.2008 ::
da série Contos preferidos das antigas que publicamos de novo porque passaram despercebidos devido à baixa audiência da época

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Problema com sacerdotes e sermões

Quem me conhece sabe que vou à igreja com certa frequência. Respeito o rito católico e o conforto de ser padrão em todo o mundo. Mas não gosto de padres e não me prendo aos limites de uma paróquia. Aliás, não é bem que não gosto, mas não os vejo como pessoas divinas. São como os demais viventes, com defeitos e suscetibilidades.

Por isso acredito que padres deveriam se esforçar mais para não "pecarem", o que me remete às trapalhadas do padre A., do tempo em que eu era morador recente no bairro B., em Curitiba. Uma das primeiras que presenciei foi no dia em que ele, no meio do sermão, disse que algumas famílias presentes ainda não o haviam convidado para almoçar em casa. Claro que vesti a carapuça, eu jamais convidaria.

Ora, nos sermões ele devia se limitar a interpretar os salmos, mas não, o padre A. dava lições de moral, emitia opiniões e preconceitos. Às vezes fazia pior. Numa missa de domingo convidou aqueles que não eram da paróquia (inclusive eu) que fossem ao púlpito rezar o Pai Nosso de mãos dadas. Imaginei que fosse, finalmente, um gesto de solidariedade. Acabada a oração, todos sentados, ele lascou um "Obrigado. É sempre bom lembrar que os fiéis devem frequentar as missas nas próprias paróquias e evitar passear de igreja em igreja".

Então numa segunda-feira durante o jornal da TV local deparei com a imagem noturna da polícia apreendendo um carro que rodava em velocidade na contramão da BR 277, o narrador dizendo que o motorista, um sacerdote, estava embriagado e acompanhado de um menor. Não entregaram o nome, mas me deliciei ao ver que era o padre A. Obviamente a notícia não repercutiu, a Opus-Dei deve ter entrado no circuito. Foi aí que depois de vinte anos o padre A. foi afastado da paróquia do B., mas deixou um rombo de quinze mil reais. Convenhamos que seus hábitos não deviam ser baratos.

:: 16.11.2011  ::

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Agora só bato em louca honesta

Uma brincadeira, um "rascunhão" dela.

Nunca sei a medida quando elas pedem “me bate”. Tenho mão pesada e medo de machucar. Combinação explosiva. E o mais esquisito: nesse dia ela não pediu. Aliás, ELA nunca pediu. Mas gostava de apanhar que eu sei. A gente sabe essas coisas. O corpo dela foi feito para minha mão pesada ressoar. Me senti à vontade. Ela estava curtindo, eu sei que estava. Tanto, que entrou no jogo. Revidava, tentava me afastar. Tão linda!

Dia seguinte, eu ainda em êxtase pedi fotos: “tira com o celular mesmo e me manda”. Meu punho estava roxo e ainda tinha as marcas da boquinha dela pelo corpo. Mordidas de amor que diziam "mais!, mais!", eu sei que diziam. Por isso, não entendi quando a intimação chegou, dias depois, no meu trabalho.


A vida é tão bandida que meu sorriso de satisfação quando pude finalmente ver as fotos grandes, aquelas que não vieram pelo celular, mas pelos autos do processo foi considerado agravante. "Além de covarde, sádico", disseram.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Natimorto

Surgi da incessante gana daquela mulher de sentir piladas fortes no ventre árido e raso. Piladas frouxas que muitas vezes não resvalavam nas paredes, alavanca na carne.

Que dignidade pode brotar dessa selvageria? Enquanto ela andava na planície de chão de areia e imperfeições até rasgar os músculos das pernas e curtir a pele no sol escondendo em trapos o barrigão desidratado, eu sentia minha pele roçar naquela textura glamurosa. Éramos pessoas comuns prontas para fazer maldades extraordinárias, alimentados a vísceras de ratazanas do mato — chamar aquela secura de mato... Uma rotina de regurgitar e comer de novo o vômito.

Pequenos milagres todo dia para sobreviver. Motivados por um ódio redentor. Escapulário de espinhos em que se vê talhada uma história de corrupção que comecei a protagonizar de dentro de uma ignorante. Espere por mim, só mais um pouco, o sétimo rebento, a besta do apocalipse.

:: 03.11.2011 ::

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

MCPmate - Atrasadinha

Ela demorou, mas mandou, muito bem. Ai essa cor, ai essas curvas... Essa mão escondendo as vergonhas. Broinha de fubá mimoso.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Fim do mundo

Minha avó vivia contando causos de assombração na beira do rio. Para amenizar, era taxativa em dizer que o mundo ia acabar em 2000. Eu era criança e fazia as contas nos dedos, em 2000 eu teria 30 anos. Pensava, estarei velha mesmo não faz mal que o mundo acabe. Bebi todas, cherei, fumei e beijei cada boca que desejei.

Chegou 2001 e bateu uma grande tristeza. O mundo não acabou e fiquei completamente perdida e mal falada na cidade.

:: 25.10.2011 :: historinha contada pela Sra. Yfy

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Nem meu cachorro gosta de mim

Ela foi embora e eu fiquei no vazio daquela casa simples com a sensação de que nunca mais sentiria a paz de um colo quente ou de uma conversa cúmplice. A solidão apertou e eu não estava mais na fase de sair por aí galanteando. Apelei para os amigos, mas todos estavam distantes. Caí no erro anunciado de me satisfazer só com ela.

Num dia de desespero assisti o reclame de uma ONG que defende a adoção de cãezinhos abandonados. Chorei e decidi. Na manhã seguinte rodei pela cidade e encontrei um filhote que parecia a minha cara. O pessoal do abrigo me deu a maior força e algumas instruções. Como ele não tinha nome, batizei Odorico, homenagem a Dias Gomes.

Passei numa pet e comprei ração, brinquedos, uma caminha, chegamos em casa e percebi que o Odorico se adaptou com grande facilidade. À casa. O tempo passava e o viralata demonstrava grande afinidade com o ambiente, com as raríssimas visitas, com os vizinhos que passavam na rua, mas comigo era pura apatia. Justo eu, o provedor.

A veterinária — em quem Odorico se esfregava mesmo depois de lhe aplicar vacinas doloridas  disse que era impressão minha: "alguns cães têm espírito independente". Ora, se eu entrava num cômodo da casa, ele saía; mesmo ao tentar algum carinho, o animal se mantinha indiferente; e raramente me deixava levá-lo passear com a coleira. Até feromônios eu tentei, mas o máximo que consegui foi flagrá-lo encoxando a almofada da sala em que eu descansava. Tive que jogar fora o hormônio e a almofada.

Resolvi agir igual e nos tornamos dois estranhos solitários sob o mesmo teto. Eu com meu blues e ele com sua chorosa ladainha canina. Um dia peguei o danado abanando o rabo como helicóptero quando uma vizinha gostosa passou com uma cadela de raça e os dois (a cadelinha e o Odorico) roçaram focinhos através do portão. Quando me aproximei a vizinha puxou forte a coleira e se afastou.

Diante dessa possível luz no fim do túnel, usei de todo meu entusiasmo e investi naquilo que sempre fiz melhor na minha vida. Coloquei uma cerquinha de alambrado isolando o jardim e o portão.

:: 21.10.2011 ::

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

O potinho da discórdia (parte 4)

Potinho abastecido, devidamente acondicionado dentro da jaqueta, dia lindo lá fora, o Zé tinha 15 minutos para entregar no laboratório. Rasgou a cidade de moto, beirando a imprudência, mas chegou em tempo. Foi direto ao balcão de coletas e encontrou a atendente, acompanhada de mais duas. Ela fez que não lembrava e ele teve que explicar a situação para as três.

No fim, para disfarçar, soltou um "Com a namorada em casa fica muito mais fácil". Elas nem esboçaram reação. Repassaram o questionário, em que o espermante (associação livre do Zé com "lactante") garante que a coisa é dele, que tem menos de 30 minutos que foi "colhido" e que não sobrou nada, isentando o laboratório de uma eventual gestação artificial.

Missão cumprida, o Zé subiu na motoca aliviado e pilotou calmamente até o trabalho. Mas espera que a história não terminou. No dia seguinte, no trabalho (note o grifo), baixou o resultado pela internet. Tudo normal. Mandou para a impressora coletiva (opa!) e quando foi buscar, meio atrasado, o exame já não estava mais lá. Encontrou pendurado no edital do café.

Ele ainda hoje acusa o pessoal de bullying quando o chamam de Zé Porrinha no corredor da empresa. E enquanto durou o namoro, jurou de pés juntos pra Aninha que tudo se resolveu na salinha do laboratório, e que a inspiração foi ela.

:: 05.09.2011 ::

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

O potinho da discórdia (parte 3)

O Zé estava na salinha do laboratório com a árdua missão de "depositar o material" no potinho. Depois de muitas tentativas, e como não conseguiu, vestiu-se, esperou o calorzão corporal passar e foi no balcão comunicar o fracasso.

"Não tem mesmo como fazer em casa?" Eram duas da tarde. A moça olhou para ele de um jeito estranho, perguntou se morava perto, pois ele tinha que trazer o exame junto ao corpo num prazo máximo de 30 minutos. Ele mentiu que sim, mas tinha um trunfo: o Zé era motoqueiro, o trânsito não seria empecilho.

Pegou um potinho novo, sentou na motoca e voou até em casa. Esqueceu que a empregada estava lá, mas não é isso que o impediria de realizar sua incumbência (não sabe por que, mas lembrou dos Doze Trabalhos de Hércules). Comunicou que tinha que fazer um serviço urgente no quarto, ligou o micro (sem som, claro), acessou um desses you porn da vida e, para sua surpresa, antes mesmo que as moças acabassem de tirar a roupa para atacar um canastrão, resolveu o problema. Fácil assim.

Tampou o potinho, colocou dentro da jaqueta e pensou: "Por que será que esses laboratórios não se modernizam? Custava um LCD com uns pornozinhos passando?"

(continua)

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

O potinho da discórdia (parte 2)

O Zé estava no laboratório para fazer o espermograma por exigência da provisoriamente ex-namorada Aninha. Na sala de espera teve a sensação de que todo mundo sabia o que ele ia fazer, imaginou como seria a "outra sala", pensou no que teria para se inspirar e em safadeza também. Até que uma atendente bonita o chamou pelo nome. "Tinha que ser gostosa?", pensou.

Ela o conduziu até a salinha, um cubículo com pia, poltrona e um balcãozinho. Sem janela. "Aqui está o potinho, você deposita aqui dentro sem desperdiçar nada. Aqui tem revistas e aqui a pia para você se lavar. Tranque a porta por dentro", falou a moça com a maior frieza. E saiu.

O Zé tinha consciência que ela sabia o que ele ia fazer. Mas não desistiu. Abriu a gaveta das revistas ("imagina quantos caras se inspiraram nelas, e são péssimas!"), pegou algumas, abriu o potinho, se posicionou, escolheu a melhor, começou a folhear, e mandou ver. Enquanto isso, lá fora, tinha pessoas falando, rindo, criança chorando, mas ele continuou. E aquilo começou a demorar ("será que vou falhar?"), e insistiu. Depois de algum tempo algum FDP tentou abrir a porta. Desconcentração total. Ele percebeu que pelo esforço, estava suando muito. Não tinha um espelho onde pudesse se ver, mas sentia que estava vermelho.

Tentou, tentou, trocou de revista, e tentou, trocou de mão, e tentou, trocou de pensamentos, e tentou, fez muita força, mas o máximo que conseguiu sentir foi uma cosquinha. E o suador. Sem falar que as revistas eram uma podreira só. Desistiu.
 
(continua)

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O potinho da discórdia (parte 1)

No começo o namoro do Zé com a Aninha era só festa. Se divertiam muito e levavam a vida com leveza. Uns meses depois ela começou a tirar as asinhas para fora e ficou bem claro que o objetivo era "casar e ter filhos". E tinha pressa a danada. Ele percebeu a pequena obsessão, mas como se amavam foi empurrando com a barriga.

Só que um dia o Zé não se aguentou e para dar uma cutucada, resolveu brincar. No meio de uma conversa, como que distraído, soltou um "então, antes de eu fazer a vasectomia..." Coitada da Aninha, ficou lívida, chorou muito e pra desgraça do Zé não teve "era brincadeira" que resolvesse. Meteu-lhe um pé na bunda e só voltava a namorar se ele fizesse um espermograma.

O Zé ficou arrasado e deu o braço a torcer. Perguntou três vezes no telefone, pra moça do laboratório, se não tinha como fazer em casa. A atendente foi taxativa e afirmou que não, que no percurso "a coleta" perderia as características. Então o Zé se guardou os três dias exigidos "por lei" e foi no laboratório para o sacrifício.

(continua)

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Fácil de entender, difícil de explicar

Quando eu tinha dezessete anos fui apaixonada por um estudante de engenharia que conheci no Interbairros. Ele se interessou por mim, mas nos finais de semana sumia e, claro, descobri que tinha namorada. Flagrei os dois andando de mãos dadas no Mueller. Pressionei, ele não largou dela, fiquei com o coração partido. Nunca mais nos vimos.

Vinte anos depois encontrei o maldito no Facebook, casado e bem sucedido. Inventei um perfil fake para explorar e me aproximar. Para piorar, a esposa e eu frequentamos o mesmo cabeleireiro. Convidei o cafa para ser meu amigo nos dois perfis, o oficial e o fake. No oficial, ele aceitou e disse que eu sempre seria especial blablabla. Mas no perfil falso, aquele com fotinho de lingerie e onde me faço de biscate-cult, ele aceitou e veio com uma conversinha de que estava em busca de um novo amor, mudou o status para solteiro... Fui dando corda.

Ele contou vantagens, prometeu mundos e fundos, e o prazer da vingança iminente crescendo dentro de mim. Pergunto: chuto, pego ou mando um travesti no meu lugar?

26.08.2011 :: historinha-enquete e muito contemporânea contada pela Dita

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Conselho se fosse bom a gente ouvia

O Armando estudava medicina e dividia a república com o Zé. Compartilhavam panelas, confissões e algumas dívidas. Eram tempos difíceis e já no terceiro ano de faculdade começou a fazer plantão na maternidade Nossa Senhora das Graças, por necessidade, pois o dinheiro ajudava nas despesas.

No hospital tinha uma enfermeira que era freira. Italianinha viçosa de olhos azuis, pele bem branca e cabelos pretos. Na falta do que fazer nos plantões que viravam noite, de tanto papear ela e o Armando ficaram próximos. Pois o Zé se engraçou com a freira numas visitas que fazia ao amigo, que começaram a ficar insistentes.

O Armando falou pro Zé tomar cuidado que ele não sabia com o que estava se metendo, que existe profissional na cidade para esses alívios. O Zé se indignou, acusou-o de preconceito religioso. Além do mais, a pureza e inocência da freirinha lhe exerciam uma atração imensa, e fazia meses que estava a perigo.

Numa tardinha a tentação foi mais forte e o Zé encontrou "por acaso" a freirinha na saída da maternidade. Convidou-a para um café e, para sua surpresa, aconteceu naquela noite mesmo. Aproveitaram que o careta do Armando estava de plantão. Como foi inesperado, o Zé estava sem camisinha e fez na base do coitus interruptus.

Dias depois o Armando surpreendeu o amigo com uma caixinha de antibiótico: a freira lhe passou gonorréia. Achou uma pena que o Zé não tivesse se previnido. Com mais encontros teria experimentado o tapete voador, técnica de fornicação que a freirinha importou de uma missão humanitária no oriente, notória entre os estudantes de medicina.

:: 26.09.2011 ::

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Lapso de ressaca

Passamos o final de semana na chácara, foi a maior festança. Só que na hora que resolvi voltar não achei a chave da caminhonete. Procuramos por tudo que é lugar mas nada de encontrar. Odeio esses lapsos.

Acontece que acordei na maior ressaca e fui no mercadinho comprar um refrigerante pra rebater. Então era certeza que na volta eu tinha trancado a chave dentro da caminhonete, e como um chaveiro ir naquele fim de mundo seria quase impossível, optamos pela solução rápida: quebramos o vidro da porta. É meio doído, mas foi o jeito, e a película até ajudou a não fazer tanta sujeira com os caquinhos de vidro.

Tudo bem, entrei, sentei no banco e... cadê a chave? Não estava na ignição nem em lugar nenhum da cabine.

Resolvi refazer o caminho que percorri depois que cheguei com o refri. Encontrei no lugar mais improvável. Juntando a ressaca com o desespero para pegar o gelo, acabei deixando a chave do lado das formas no congelador.

O pessoal ri de mim até agora, e alguma coisa diz que nos próximos encontros, sempre que eu não achar a chave ou os documentos, eles estarão "guardados" na geladeira.

:: 18.08.2011 :: Conto levinho, criado assim pra não assustar os leitores da revista "Sobre Rodas", de Foz do Iguaçu; aos poucos vamos perversar a coluna

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Opala vermelho (parte 6 - epílogo)

Eu e minha namorada conversávamos dentro do meu opala vermelho. Eu sabia que ela só confessava porque estava dopada.
"E daí? Que você havia transado com ele eu já desconfiava", eu disse, disfarçando a voz embargada.
"Foi sem proteção. Engravidei. Desculpa. Eu não quero acreditar. Eu vou tirar. Meu deus do céu, desculpa, eu vou tirar!" e desandou a chorar.

Minha namorada estava grávida. Dei-lhe um beijo demorado. Ela ficou sem ação.
"Não vai tirar coisa nenhuma. Vai ser um bebê só nosso. Alguém pra gente cuidar. Amo você". Acho que foi o momento em que me mantive mais forte em toda minha vida. Já estava tarde. Em Curitiba os domingos são extremamente silenciosos à noite. Passamos na Rua 24 Horas e comprei uma garrafa de vinho tinto. Vinho bom. "Vamos comemorar". A vida de quem ama tem que ser assim, uma comemoração atrás da outra.

Cabeceira da serra, céu estrelado. Tomamos o vinho e nos amamos escutando Lou Reed no toca-fitas do opalão vermelho. O toca-fitas que ela me deu. Ela era um Satellite of love no nosso planeta-opala. Depois do sexo nossos corpos suados esfriaram. "Vamos pegar o cobertor no porta-malas", sugeri. Desce comigo.

Ela ficou satisfeita por eu pensar em tudo. Abri o porta-malas. Estava escuro. "Me ajuda a procurar. Não tô enxergando", pedi. Ela se abaixou: "Não tem cobertor aqui..." Antes que levantasse deitei-lhe a garrafa vazia na cabeça. O golpe foi rápido e eficiente. Não desmaiou, ficou atordoada. Tranquei o porta-malas.

Minha namorada começou a chamar meu nome achando que era brincadeira. Dei a partida e levei o carro em marcha lenta até a beira do precipício. Ejetei a fita que já havia parado de tocar e coloquei no bolso. Engatei a primeira, pulei do opala em movimento até vê-lo despencar devagar montanha abaixo. Mereciam um fim digno.

:: 04.07.1995 ::

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Opala vermelho (parte 5)

Nem tudo é perfeito. Na noite seguinte minha namorada estava estranha, não consegui perceber por que. No sábado saiu cedo com o opala sem dizer onde ia. Esperei o dia todo. Nada. No domingo andei pela cidade atrás dela até encontrar o opala vermelho parado na frente de um bar. Ela estava lá dentro com o Vaguinho. Ao me ver tentou se esconder. Estava drogada.

Tive que peitar o marginal para poder levá-la comigo. Assim que começamos a rodar ela chorou muito. Confessou que havia encontrado uma buchinha de cocaína na roupa do michê, que não resistiu e guardou para usar depois. "Pra quê? Não tava tudo legal entre a gente?" Antes ela era viciada. A gente se conheceu quando ela estava se tratando para largar.

Dei-lhe um abraço, trazendo-a bem perto de mim. Falei que a gente superava aquilo. Ela se acomodou feito uma menininha no meu peito.
"Por que você foi atrás do Vaguinho? Queria mais droga?" perguntei.
"Também. E tenho que contar uma coisa para você" ela estava com aqueles olhos de quem está fora de controle, injetados e tristes. "Você me aceita como eu sou, certo?"
"Certo."
"Com todos os meus defeitos, né? E você sabe que te amo."
"Gosto de você assim, do jeito que você é, minha loira."
"Sabe aquele toca fitas, eu não comprei com dinheiro. Pedi pro Vaguinho arrumar um pra mim. É uma coisa que eu queria muito dar pra você e eu não tenho condições."
"Eu já sabia disso. Eu conheço você, e gosto de você assim."
"Mas o Vaguinho não faz nada de graça, eu tive que dar pra ele. Não foi bom. Foi ruim, sujo."

Minha garganta apertou, o coração começou a bater forte. É difícil escutar esse tipo de coisa assim, na lata. Parei o carro.
 
(continua)

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Opala vermelho (parte 4)

Passei quase uma semana sem ver minha namorada, mas não resisti. Nem mesmo o opala vermelho tinha graça sem ela. Comprei flores e passei na casa dela. Tinha esquecido que minha namorada havia se tornado loira. A mãe dela não estava. Melhor. Fizemos as pazes.

Tudo voltou a ser como antes. Fizemos uma viagem no aniversário de namoro. Fomos até o litoral catarinense: Itapema e Bombinhas. Meio de semana, praias inteiras quase exclusivamente nossas. Algumas noites dormimos em pousadas. Em outras, o opala serviu de abrigo. Eu gostava de ficar olhando para ela, que brincava feito criança nas ondas do mar.

Na volta, nos amávamos feito nunca. Sensações cada vez mais intensas. Teve um dia em que resolvemos lembrar as antigas aventuras e fomos incomodar os michês na praça Ozório. Era o máximo pra eles quando apareciam mulheres atrás de programa. Estavam acostumados com velhos fedidos. Pegamos um bem novinho, no máximo 16 anos. Minha namorada sabia para quê.

"A gente vai fazer no carro mesmo" ela disse. O garoto estava nas alturas. Paramos fora da cidade numa estradinha vicinal. A noite estava sem um pingo de luz. Ela desceu do opala, sentou no capô e abriu a camisa. O garoto foi pra cima. Assim que se aproximou para tocá-la ela o empurrou violentamente com o pé: "Primeiro tira a roupa!" O corpo dele chegava a ser feminino de tão frágil.

Desci do carro com o pretexto de observar a nudez do rapaz. Ele se aproximou da minha namorada, tocou nos seios dela. Dei-lhe um safanão que ele quase desmontou sobre o capô. E outro que o atirou ao chão. Ela juntou as roupas dele e correu para dentro do opala. Antes de entrar, observei o garoto encolhido na terra batida, tremendo de frio e medo. Arranquei erguendo poeira. Minha namorada gritava de alegria. Eu via a satisfação nos olhos dela enquanto revistava as roupas e fazia uma trouxa que jogamos num carrinho de catador de papel.

(continua)

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Opala vermelho (parte 3)

Resolvi apresentar minha namorada para minha mãe, que fez um jantar especial porque eu pedi. Ela apareceu com o cabelo pintado de loiro. Minha mãe estranhou, pois eu já havia descrito, e muito, a "amiga" que ia nos visitar. De certo modo, acho que ela fez aquilo para me atingir. Por outro lado, no jantar se comportou feito uma dama e isso me agradou muito.

Depois saímos de opala, ela dirigindo, e passamos um bom tempo zoando. Numa esquina havia dois rapazes bem vestidos que pediram carona. Ela parou e convidou para entrarem no carro. Não fui nem um pouco simpática e ela notou. Mas não deixou de se insinuar para os dois. Encostou o carro perto de um bar — o lugar para onde eles estavam indo. Um deles tentava ser legal comigo. Isso me desarmou. Nunca fui mal educada.

Minha namorada se aproveitou e sugeriu que trocássemos de lugar — até ali estávamos as duas no banco da frente. Aquilo me revoltou. Falei que não estava passando bem. Os rapazes ficaram no bar e nós fomos até um dos nossos lugares. Ela tentou se justificar, disse que só queria se divertir um pouco, sair da rotina. Eu estava furiosa, cheguei a bater nela. Eu perdia o controle quando sentia que ela tocava em mim como quem puxa um prepúcio. Naquela noite não houve mais carinho.

(continua)

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Opala vermelho (parte 2)

Eu e minha namorava curtíamos a vida no meu opalão vermelho. Então um dia resolvi ensiná-la a dirigir. Ela sempre foi meio burrinha para pegar as coisas. Íamos no estacionamento do parque Barigui, que ficava vazio nos dias de semana. Um susto pra cá, uma morrida ali, aos poucos ela foi se adaptando. No dia que aprendeu pra valer a gente estourou uma champanhe e comemorou vendo o por do sol, num lugar secreto que só eu conhecia.

Minha namorada ficava linda dirigindo o opala. Tiramos várias fotos dentro e fora do carro, em cada lugar que a gente ia. No meu aniversário ela me deu um toca-fitas dos mais caros. Fiquei emburrada pra saber onde é que conseguiu dinheiro. Ela me disse que estava há tempos guardando, só para me comprar um presente legal. Era mentira mas eu fiz que acreditei. "Se a gente ama, tem que fechar um olho" minha mãezinha dizia. Na verdade ela deve ter pedido o toca-fitas para um ex-namorado dela, o Vaguinho. Ladrãozinho barato de carros. Com certeza ele não entregou o som de mão beijada. Provavelmente ela teve que dormir com ele. Tudo bem, certas coisas eu não posso dar a uma mulher.

(continua)

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Opala vermelho (parte 1)

A gente parecia inatingível quando rodava pela cidade no meu opalão vermelho. Era antigo, eu sei, a pintura estava opaca, mas ele dava uma sensação maravilhosa de poder. Eu e minha namorada. A gente roubava um extintor de algum prédio e saía pela cidade para descarregar numa pessoa qualquer. "Ei, moço! O senhor pode dizer onde é que fica a rua Francisco Torres?" No momento que o velho se abaixava para dar a informação, toooooooff nele! Ficava inteiro branco sem saber o que fazer. E eu arrancava meu opalão vermelho cantando pneu. A gente se matando de dar risada.

Eu e minha namorada, no opalão, éramos loucas de dar nó. Lembro que a gente pegava uma caixa de ovos na casa da mãe dela — a coroa me odiava! — e passava pela praça do Atlético tacando os ovos nas cabeças dos travestis. Eles corriam quadras atrás da gente. Eu, de propósito, andava mais devagar, só para eles acharem que podiam alcançar. Então eu arrancava com tudo. Ficavam com mais ódio ainda. Todo travesti odiava meu opala. Eu e minha namorada, nós o amávamos.

E nos amávamos dentro dele. Assim, na rua mesmo, tarde da noite. Sem medo de sermos pegas de surpresa. Conversávamos até o vidro embaçar inteiro, depois pulávamos para o banco de trás — no banco de trás era mais gostoso — ficávamos semi-nuas e fazíamos de tudo. Ali era o nosso cantinho, onde ninguém nos incomodava. Nada de ir a lugares muito retirados como os parques. Nestes a polícia ficava à espreita dos casais imprudentes. Eu parava perto do centro, em ruas mais calmas. Ah, como era bom ela correndo o indicador pela alça do meu sutiã, descendo, enfiando o dedo entre o tecido e a pele, tocando no bico do meu seio.

(continua)

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

MCPmate - CK

A leitora que nos premiou com essa foto enigmática (e não menos deliciosa) pediu para ficar incógnita. Mas vocês podem tentar adivinhar quem é.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Onze da manhã num hotel barato

Não pense que tenho vergonha de ter morado no bairro da zona. O único problema era a marcação cerrada da família. Eu quase não podia sair do quintal. Meus irmãos fugiam, mas nunca me levavam junto. Meu pai me fechava dentro de casa e colocava talco no chão. Se eu escapasse, deixava pegadas e apanhava feio.

Depois me mandaram para um colégio interno caríssimo. Meu pai estava errado. Qualquer menina filha de puta do nosso bairro era mais comportada que as meninas da escola particular. Um dia deixei vazar em casa as coisas que eu via por lá, foi um escândalo.

Voltei a estudar na cidade e um dia aconteceu o que a família temia. Só não caí em desgraça porque não contei a ninguém. Foi um cara mais velho que ficava na porta de um hotel barato no meu caminho da escola. Sempre, quando eu voltava pra casa, ele me convidava para entrar. Eu podia mudar o caminho, mas alguma coisa me impelia a passar por ali. Um dia não tive aula depois do recreio e decidi matar a curiosidade. Aceitei o convite.

:: 29.10.2004 ::

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Mania difícil de perder 2

Um interessantíssimo outro ponto de vista, um conto de f(r)icção dela.

Minha linhagem paterna é muito bonita. Olhos marcantes, nariz pequeno e bem talhadinho, boca generosa.

Lembro quando um primo de meu pai -- que estava estudando para ser santo -- foi nos visitar. Eu estava na flor da idade, peitinhos começando a despontar, cinturinha ainda de criança, bunda já de mulher. Meus hormônios estavam agitados e provocar me excitava. Cidade quente, sabem como é, vesti meu shortdoll minúsculo de pano bem levezinho e desci para cumprimentar o futuro padre.

Minha mãe quase enfartou. As sombras de meus mamilos, duros, podiam ser vistas pela transparência, pareciam querer rasgar o pijaminha e sair. Ela estava com os lençóis e toalhas na mão, indo arrumar o quarto onde ele passaria a noite, e jogou-os contra meu corpo. Entendi no seu olhar “segure-os para se tampar um pouco e tome seu rumo antes que eu o faça por você”. Olhei maliciosa para o primo e subi as escadas rebolando inocente, segurando as roupas de cama, na frente. Minha mãe subiu correndo atrás para evitar que ele visse muita coisa, e na subida lascou um tapa na minha bunda, que ressoou.

Hoje ele é um padre famoso, faz palestras, shows e gravou CDs. Foi em programa de televisão e tudo mais. Confessou a uma apresentadora sensacionalista que a única provação que quase o fez desistir da vida eclesiástica foi uma priminha torta saliente que até hoje povoa seus sonhos.

Já saí da casa dos meus pais, moro sozinha. Chamei-o para benzer minha morada e tratar o demônio que habita meu corpo. Cair em tentação, pode. Uns tapinhas para me purificar também. Mas desistir de tudo por mim, não, obrigada, não tenho vocação para cuidar de marmanjo desgarrado. "Afinal, pecado é todo mal consciente, seja do clero ou do pagão."

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Mania difícil de perder

A mãe jogou fora toda a coleção de cedês do Padre Marcelo e daquele outro padre cantor, o Fábio de Melo. Este, por sinal, tem uma cara de porteiro de boate que eu nunca vi. Vejo uma mensagem contraditória naquele olhar pseudo-sexy.

Resolveu abandonar a religião em que foi criada depois de sentir o impulso de se masturbar vendo as fotos das capinhas. Jogou tudo fora e imputou a culpa no Vaticano.

Dias depois a filha comprou uma casa nova onde colocou a mãe para morar. Dizia que a casa era da mãe, não por bondade: a gratidão extrema teria o propósito de limitar os impulsos controladores maternais. "Para comemorar, faz uma foto sua nuazinha no sofá da sala nova e me manda", pedi. À filha.

Dia seguinte abri ansioso a caixa postal, mas nada de foto. Ela me ligou: "Ontem eu não fiz aquela parada que você pediu. Acredita que foi um pastor da Igreja Universal lá em casa? Minha mãe que chamou."
Não me contive e soltei uma gargalhada: "Então você converteu o pastor para o caminho do satanás?"
"Não. E nem esperei ele tentar me converter. Eu saí."
"Sua mãe acha que você está possuída?"
"Até que não. Ela chamou o cara para benzer a casa nova."

Fiquei pensando qual seria a água benta da Igreja Universal.

:: 12.08.2011 ::

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Casamenteira

O Zé começou a namorar a Clara, filha do padeiro. Todo mundo avisou que ela era doida para casar, mesmo assim ele arriscou. Depois de investir bastante, acabou levando a moça para o sofá da casa dela numa tarde de sábado em que a família cuidava da padaria. Até que foi fácil partir para o "acasalamento", ela não botou objeção.

Nos finalmentes, o Zé lembrou da advertência dos amigos e gozou fora (essa história é da época em que não era forçoso usar camisinha). Foi tudo para o encosto do sofá. A Clara começou a chorar e passar a mão na mancha. Ele ficou comovido e disse para não ficar preocupada, que era só esfregar pano úmido que a mancha sumia. Ela olhou para ele ainda chorando, passando a mão da mancha para "as partes", e disse: Mas eu queria esse filho... Eu queria esse filho!

:: 29.07.2004 ::

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Luta de classes num balneário qualquer

Estava no litoral na temporada, mas a serviço. Todo dia o mesmo tédio do emprego subalterno, limpar, cozinhar e cuidar de crianças mimadas que choram até quando pisam na areia diante da mãe, obesa e ausente.

À tardinha, na hora da folga, colocava um biquininho sumário amarelo que ressaltava a bunda empinada e ia para a praia. No mar, mergulhava, flutuava, pulava de alegria e tesão entre os homens que se posicionavam casualmente ao seu redor.

Ela preferia os casados, e provocava, como que desafiando as granfinas que a miravam dos pés à cabeça no calçadão e metralhavam desprezo ao notar sua indisfarçável humildade.

Mergulhava e deixava escapar um seio, demorava arrumar, e por várias vezes roçava a bunda nos homens que a rodeavam, sentia nos olhos dos canalhas o desejo e o medo de serem flagrados em seus calções, tão próximos das esposas que, da praia, observavam desconfiadas.

Nesses momentos era feliz, invadida por um sentimento bom que fazia esquecer o salário miserável.

:: 29.07.2011 :: historinha contada pela Sra. Yfy

terça-feira, 26 de julho de 2011

Deixe de ser intransigente, com você ou com os outros, mas tenha estilo

Tenho um problema com gente indefinida. Talvez seja uma projeção do medo que eu sentia de ser assim. Vou explicar. Gente indefinida gosta de tudo, usa roupa da moda ou qualquer roupa, se diverte com coisa qualquer. E se me livrei dessa maldição foi por causa de um conflito entre o Marco e a Eliana.

O Marco era a cultura dominante, do jazz-MPB, de se vestir certinho e do esforço para o sucesso. A Eliana era a contracultura, do rock (de verdade), do escracho e da individualidade — principalmente do "vivo do jeito que eu quero". Eu nasci no meio desse conflito, e ele me moldou.

Para ter uma noção de como isso é forte em mim, eu simplesmente não saberia o que calçar se não fossem minhas botas. Não seria eu mesmo sem elas. Sapatos comuns, sapatênis e allstars fariam com que me sentisse descalço.

Sobre gente indefinida, me dá um desânimo quando converso com alguém com discernimento e a pessoa solta um "admiro a Rihanna/Ivete" ou "gosto do lado romântico do sertanejo/axé" ou "não sabe o que perde por não ir no tush-tush/pagodão". E não é por ignorância que se fica assim, mas por não se ter oportunidade de definir um estilo.

A salvação é que a qualquer momento pode aparecer um amigo, turma, namorado ou ídolo que ofereça a perspectiva do estilo. Portanto, abra as portas da percepção, faça uma constante autocrítica, veja se ultimamente você não tem passado por "ninguém". E antes de culpar sua formação ou a sociedade, analise se não é você mesmo que vestiu a tapadeira. E tenha sempre em mente que não é proibido mudar.

Antes que você se consuma em curiosidade ou divagação, Marco e Eliana são meus irmãos. Eu fui um caçula disputado e isso também diz bastante sobre mim.

:: 26.07.2011 ::

terça-feira, 19 de julho de 2011

Cuida de quem cuida de você

Assim que a Salete entrou no carro o Zé já percebeu que estava azeda. Acontecia de vez em quando, mas naquele dia aquilo bateu mais forte nele. Ela entrou séria e não fez menção de beijinho ou qualquer carinho, usava um perfume que ele não gostava e, pior, ele tinha saído de casa só pra buscar a bisca.

No caminho, deu umas dicas de que aquilo não estava legal, mas a Salete só falou "não é nada". Chegando em casa o Zé desceu o verbo. E se tem uma coisa que sabe fazer é trabalhar no emocional de alguém. Ela é gente boa, gosta dele, mas estava farto de tolerar falta de educação mal direcionada. Entre outras coisas, ele falou que não era motorista, que se fosse para curtir a companhia de uma estátua era melhor ficar sozinho em casa e o principal: "Guria, cuida de quem cuida de você". Anunciou que ia chamar um táxi pra ela.

Salete sentiu. Sabia que homem limpinho e bom como o Zé não era fácil encontrar, se derreteu toda, pediu desculpas, ia mudar. Ele não amoleceu, deixou de esmola devolvê-la no dia seguinte na hora de trabalhar, assistiu alguma coisa na tv e foi pro quarto dormir. Ela foi junto, era o ritual deles. O Zé deitou impassível e não a puxou no colo como sempre fazia. Choramingando, ela se desculpou e pediu colo. Mesmo gélido, o Zé cedeu.

Então Salete, a encantadora de cobras, usou seu talento. Enfiou a mão no pijama do Zé e fez a magia acontecer. Não tem cristão que resista e começaram uma festinha meio mecânica. Foi aí que, não se sabe de que meandro da psiqué perturbada, Salete soltou um "me bate!" Imagine a raiva contida do Zé, diversos maus humores que ele suportou, tudo se projetou para sua mão pesada e descascou um tapaço na cara da moça. Ela se assustou e chorou, mas não parou de transar.

No final, toda melosa e enterrada no colo dele, Salete confessou "eu queria era apanhar na bunda". Lá no fundo o Zé sabia, mas pra que desperdiçar essa rara oportunidade didática?

:: 19.07.2011 ::

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Promoter para o meu velório

- No dia em que acontecer, manda rezar a missa e cuida da inscrição da lápide.
- Já cuidei do seu epitáfio: "Aqui jaz uma mulher-menina que nadava pelas nuvens e formulava palavras de tudo aquilo que, mesmo sendo, nunca tinha sido".
- Poético. Sempre pensei que você me via mais lá embaixo, mais no limbo.
- No meu caso, não quero missa, não gosto de padres. Quero novos rituais. No meu velório quero uma chopeira e garrafas de whisky. E rock e blues rolando solto. Nada de reza.
- Larga o pé da letra! Isso é rezar a missa, percebe? Música é prece. Faz bem pra alma. As bebidas são o sangue. Nunca bebeu o defunto?
- Eu geralmente bebo o defunto antes, e ultimamente me sinto meio repreendido nos velórios. O mundo está ficando chato. O pessoal tá ficando velho no sentido triste da palavra.
- Pois não esqueça de me beber. Me beba, com estilo ou sem. Pode ser durante.
- Você e sua mania de achar que beber tem que ter estilo.
- Constatação: infelizmente nos dois casos não vou poder beber com você.
- Acho que tô ficando sem companhia. 
- Meu medo, hoje, é que meu enterro seja caretão. Preciso da sua ajuda, ok?
- Pode ter truco?

:: 14.07.2011 :: Nasceu de uma conversa com aquela que anda sumida, mas não morreu

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Um cara do tipo que se apaixona por putas

Depois de anos de fidelidade conjugal e já de saco cheio da esposa (chata, malvada e futriqueira), o Zé resolveu ir com uns amigos numa casa de alto nível. Lá conheceu uma puta dessas lindas e se apaixonou pela menina.

Numa segunda visita combinou de ver a moça fora da casa, e gamado que estava, para garantir um mês de encontro nos dias em que ele quisesse, passou cinco cheques 200 reais.

Quando contou para os amigos, primeiro eles tiraram bastante sarro, óbvio, mas depois fizeram o Zé se tocar da merda que tinha feito. Era evidente que a mulher ia sumir. O Zé sustou os cheques, o que foi uma cagada ainda pior, porque a puta poderia ir atrás dele ou até da esposa, ou mandar alguém cobrar o espertalhão com mais "entusiasmo".

Por sorte não deu em nada a confusão, mas romântico incorrigível, o Zé ainda acredita no amor das mulheres que ele banca. Agora, pelo menos, desfruta quando paga.

:: 07.07.2011 :: história contada pela Mariamélia

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Pendura que te penduro

O Zé apanhou feito cachorro vagabundo de um patrão depois que consumiu o bagulho na presença do cara e falou em pendurar. Mereceu os safanões porque se fez de desentendido. Existe um código de ética nesse comércio, Zé! Não se pendura, nem entre amigos. É diferente dos negócios com comida, roupa, carro, viagem, bebida até. Acontece que nem no comércio do prazer: no momento da volúpia o cara topa qualquer trato, mas depois de saciada a vontade bate arrependimento e o cliente tende a fazer de conta que não é com ele.

Não tem desculpa, Zé. Traficante e proxeneta não fazem fiado.

:: 22.12.2005 ::

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Furor

Fechamos esta VII Semana da Contribuição com mais um trevisônico e impecável conto do amigo Heru Sa. Dispensa apresentações e comentários [da nossa parte; vocês, mandem ver!].

Uniforme justo e cabelo preso Sonia usa desde os tempos do colégio da polícia militar, agasalho e camiseta colados ou saia justa dificultando os passos no desfile de sete de setembro na Cândido de Abreu.

Sonhou e realizou, é policial militar, adora o que faz, essa coisa de autoridade e porte de arma dá um não sei o quê, é até melhor PM quando vem a tpm.

Gosta mesmo é de dia de jogo do Coritiba, a rapaziada grita coxa, coxa, Sonia delira que é com ela, coxas úmidas apertadas pela calça cáqui, grandes bolsos ressaltando seios sob a camisa que não foi feita para ela.

Momentos de tensão e a respiração alterada força o botão, uma explosão pronta para acontecer, Sonia perde a noção do tempo, quer o êxtase do torcedor, imagina-se carregada nos braços da torcida, centenas de mãos a abrir-lhe a farda.

Nos dias em que não está de serviço, Sonia solta os cabelos, passa batom, expõe decote e pernas. Despe-se da autoridade, mas mantém o porte, realiza sonhos.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

A patroa

Continuando a VII Semana da Contribuição, este micro do amigo Carriço.

As vontades da velha viúva rica não tinham fim.
Começava o dia nas mãos do jardineiro
e terminava aos pés do criado
mudo.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Papo de oficina

Como os mais ligados já devem saber, nesta VII Semana da Contribuição MCP vai rolar prêmio. A premiação está intimamente ligada a este conto [MCPzão!] do pessoal do blog Uma história várias mãos, que, como o nome diz, foi escrito por uma turminha [Eduardo Passos, Camila Karina, Vinícius Andrade e Roberta Fraga]. Para saber como concorrer ao prêmio, leia as regras nos comentários deste post. 

Roberto marcou de sair com sua noiva Luísa. Os dois combinaram de passar o dia juntos, mas não decidiram o que iam fazer exatamente. O encontro ficou assim indefinido porque ele queria apenas uma oportunidade de passear com o carro consertado.

Luísa ficou um pouco chateada com a falta de iniciativa do noivo para decidir entre os programas de sempre, ou seja, cinema, restaurante, praia ou motel, mas acabou deixando para lá. Os dois mal conseguem se ver. Roberto trabalha fora da cidade e só tem uma folga semanal.

Romântica que é, Luísa sempre espera ansiosa para encontrar Roberto depois de uma semana cansativa, e silenciosamente também espera um sinal de entusiasmo de Roberto. Mas hoje seria diferente, pensou Luisa. Apesar de ter um pessimismo sobre planos para encontrar Roberto, já que ele nunca decidia nada, deixava tudo por conta de Luísa. 'Hoje será diferente!', repetiu.

Já faz algum tempo, uma pulga atrás da orelha da jovem faz com que ela se pergunte sobre a razão de estar com Roberto. Ultimamente os pensamentos mais comuns na cabeça de Luísa são 'ele liga mais para o carro do que para mim?' e 'como vai ser isso quando eu deixar de ser bonita?'.

Roberto, é claro, não ligava para isso. Carro consertado, dia de folga, uma noiva gostosa. Isso tudo ficava repetindo na cabeça dele como um mantra. E nem dá para saber se a ordem dos pensamentos tem algo a ver com ordem de importância. No entanto, Roberto não deveria demonstrar tanta tranquilidade. Ele ainda não sabia de uma coisa.

A sua rotina de trabalho fez com que ele se distanciasse da Luísa, mas não apenas fisicamente. Quando ele deixou o carro para consertar perto da casa da Luísa, não pensou em como isso estragaria sua folga e seu noivado. O mecânico, apesar de novo na oficina, é antigo morador do bairro. Sabe como é, Luísa passando as semanas sozinhas, passando todos os dias em frente à oficina e o Zé Maurício lá, todo dia de olho nela.

Na véspera do encontro dos noivos, por coincidência, Roberto acabou deixando o carro na oficina do Zé Maurício. Depois de explicar o problema do carro, o mecânico começou a prestar atenção na vida do cliente. Noiva que mora aqui perto, uma semana longe, é isso mesmo. Ele é que tá pegando aquela loira do prédio aqui do lado. Então, para estragar o encontro dos dois, ele não fez o serviço completo, velho costume dos mecânicos, mas dessa vez por um motivo mais do que particular.

No dia seguinte, o resultado. Manchete em todos os jornais. Carro capota e casal morre na Brasil. Zé nem ficou sabendo, mas sentiu uma falta de ver a loira todos os dias.

Mais tarde, enquanto lia a manchete nos jornais da banca, Zé Maurício não parou um minuto sequer para pensar se fora egoísta ou invejoso. Agiu, como agem os impetuosos, justificando sua atitude, um tanto macabra, um tanto necessária. Tampouco ficou a se vangloriar em silêncio ao ouvir o burburinho dos comentários dos passantes ante a gravidade do acidente que vitimou o jovem casal. Cada um dos comentários tecia uma nova história de vida diferente para aquele casal, dando conta de uma paixão, que ao cabo dos anos, nem existia mais.

Zé Maurício pediu um exemplar do jornal, retirou-se rapidamente rumo a sua oficina mecânica e lá pôs-se a ler a notícia com seus óculos tortos sobre a face, saboreando café com leite e pão com manteiga, afinal, para ele, era apenas o começo de mais um dia com notícias ruins no jornal.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Hormônios em fúria e velas de sete dias

Este continho light a Sra. Yfy mandou especialmente para a VII Semana da Contribuição MCP. Já que é assim, vamos escancarar a Semana com ele.

Tudo que ele mais queria era um filho. Quando ela engravidou ele só dava carinho, cortou todo o sexo "pelo bem da criança". Nos primeiros três meses ela sobreviveu com siririquinhas consumadas às escondidas. No quarto mês, sedenta de sexo e já viciada em sites pornôs, gozava de manhã, de tarde e à noitinha antes dele chegar. A vontade não diminuía e só os dedos já não saciavam.

De repente as velas do castiçal e os desodorantes na gôndola do supermercado se tornaram objetos do desejo. 

Foi flagrada em pleno ato pelo marido quando fazia penetração dupla com velas de sete dias. Levou uma surra e foi levada para exorcizar o diabo do pecado numa igreja evangélica.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

8)

Pois é, pessoal. Chegamos aos 100 mil acessos. Pode não parecer muita coisa, mas pra um blog de literatura vagabundaalternativa como o MCP é uma grande conquista. Nosso primeiro post foi em 22 de janeiro de 2008 (vai lá e comenta). Colocamos o medidor visível só em junho/2008. Tem o Analytics que entrou um pouco depois, mas corrobora os números. São mais de três anos de blog, histórias malucas, ousadas, pauleiras, risadas, ofensas, as deliciosas e indispensáveis MCPmates (obrigado, Anônimo)... Muita gente chegou, muita gente se foi, as leitoras e leitores fiéis estão aí até hoje. Os contos de contribuição, o LIVRO... Muita coisa rolando nos bastidores (comentários): os stalkers anônimos, os perseguidores declarados, as apaixonadas... Os adventos do Twitter e do Facebook, enfim, rolou de tudo. E como isto já está começando a ficar melado e com cara de discurso de formatura, vamos ao que interessa: continuem destrinchando o blog, comprem o livro e aguardem... que logo chega o novo.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Amarrado sete vezes

É sentir cheiro de incenso barato que eu lembro dela, a balconista de casa de umbanda. Sabia todas as simpatias, nomes de santos, da vida, morena de olhos místicos, tão linda e articulada que eu tinha certeza que era filha do dono, ou de Exu. Ela nunca desmentiu.

De perto o cheiro impregnado na pele e nos cabelos me incomodava, incenso barato com fumo de corda, presente embrulhado em jornal, eu bebia mais que o de costume para superar.

Eu cada vez mais apaixonado, ela judiando mais e mais de mim, implicava com minha bebida, com minhas saídas. Num dia daqueles em que me botou pra correr eu voltei no boteco e encontrei a Cidinha, fui pra casa dela e broxei. Na hora de pagar (trato é trato) procurei uma nota de 50 que guardava escondida no forro da carteira, e lá no fundo achei um bilhetinho com letras mínúsculas:

Minha Rainha Pomba Gira Maria Padilha das 7 encruzilhadas vá até onde (Z.É.) estiver e faça com que não descanse enquanto não falar comigo, pelos poderes da terra, pela presença do fogo, pela inspiração do ar, pelas virtudes da água, invoco as 13 almas benditas para que se dirijam até onde está neste momento (Z.É.) e traga o seu espírito até mim, amarrando-o definitivamente ao meu. Que (Z.É.) jamais deseje outra pessoa e que tenha olhos só pra mim. Vai mulher girar ao meu favor, fazei que (Z.É.) seja dominado por mim, preso debaixo do meu pé esquerdo, que ande atrás de mim como uma cobra rastejante, que me ame loucamente. Minha boa amiga, mulher de 7 Exus e sua Falange! Que o desejo de (Z.É.) por mim o deixe cego para outras pessoas, que elas não consigam mais vê-lo como homem. Rogo e suplico que amarre (Z.É.) nos 7 nós da sua saia. Daqui mais um pouco (Z.É.) não vai comer, dormir ou fazer coisa alguma a não ser se estiver comigo, confio no poder das 7 encruzilhadas e desta oração poderosa!

:: 14.06.2011 ::

terça-feira, 7 de junho de 2011

Só gostava de ser bem tratada

O Zé conheceu a lindinha num desses sites de relacionamento. Todo mundo sabe como é. Primeiro uns e-mails, depois e-mails com foto, intermináveis sessões de MSN, sessões obscenas de MSN com câmera (isso que ela jurou que JAMAIS se exibiria sexualmente), telefonemas cheios de cumplicidade... eram namorados, amantes, faltava o encontro.

Quando ele se propôs a visitar a linda (de busão, todo ferrado), ela inventou uma desculpa, que nunca ficava no mesmo endereço... Então ele propôs que ela viesse, ficar na CASA DELE. Foi aí que a coisa esquisitou. Ela sempre dizia que era bem sucedida, que trabalhava com reforma de casas, por isso viajava bastante. Porém começou a sugerir que ELE pagasse as passagens, e de avião. Ele estranhou, negociou um meio-a-meio, ela até fez de conta aceitar, mas acabou com uma desculpa de que o cartão DA MÃE (?) estava sem limite.

O Zé apertou, e ela veio com um discurso de que gostava de ganhar presentes, que gostava de ser mimada pelos homens. Inclusive, que já tinha ido assim pra Floripa (por isso a bandida não parou em Curitiba), Salvador, Brasília... Antes que ela terminasse a lista, o Zé tirou não se sabe daonde uma confiança que não tinha, e foi taxativo que estavam do mesmo lado da balança, que também tinha cacife para ganhar mimos e presentes.

Resultado? O Zé não arredou pé, ela broxou e a relação desandou. Na fossa, ele chegou às seguintes conclusões:
     1. Ela era gostoSINHA. Não dessas de comer um caminhão de merda por ela. Então que não viesse querer demais.
     2. Mulher (ainda mais uma defensora da Liberdade) pode dar pra quem quiser, pra todo mundo, isso não faz dela puta. Puta é a que cobra. Opa, pera lá, mas ela COBROU de mim!
     3. Pior, cobrou ANTES de dar.
     4. Não adianta tapar sol com peneira. Isso de ganhar presentes dos "amigos" significa que ela é puta. Só não constatou, AINDA.
     5. O absurdo é tanto que a vontade minguou. Agora nem se ela pagar a MINHA passagem eu vou.

Isso aí, Zé. Tem mulher que não se aperta. Deu um probleminha no orçamento, aciona os contatos e faz uma grana. E depois que faz a primeira vez, amigo, não para mais. Aliás, para quando fica velha e perde o viço. Aí ELA é que começa a pagar.

:: 07.06.2011 :: 

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Luxúria inocente

Ao rever a foto, posso dizer que um homem é capaz de matar por um rostinho daqueles, exatamente aquela foto em que aparece o aparelho. Era uma “menina” de 19 e eu, praticamente, um criminoso.

Porém, se olhar bem para o meu rosto na época, eu também recendia inocência. Passei por muita coisa nestes últimos tempos para chegar até aqui, isso é que me deixou assim, errado como vocês me percebem.

:: 31.05.2011 ::

terça-feira, 31 de maio de 2011

Reflexões sobre um macho acovardado

Desde a idade da pedra as mulheres adoram ser conquistadas, só que atualmente dispensam a pancada na cabeça. Então o "namorado imaginário" voltou e não teve coragem nem de perguntar como eu estava. Contou que andava bem e que não era mais para eu escrever no e-mail corporativo dele porque tiveram auditoria e ele achou que pode ter se comprometido. Idiota medroso, vivia me pedindo para deletar tudo que falávamos e ele guardava.

Pensei em escrever um singelo “foda-se”, mas preferi deixá-lo falando sozinho. Odeio gente medrosa, especialmente homens. Essa coisa engessada me aborrece muito, sou uma pessoa de ação. Decidi e fiz o que eu queria, não temi o ridículo, a moral e os bons costumes. Acho bem mais difícil para uma mulher (séria) tomar a decisão de putear, abrir mão da acomodação e ir em busca do prazer. Não entendo homem que se acovarda.

Cansei de correr atrás, perdeu a graça. Cheguei ao fim dessa história.

:: 31.05.2011 :: Só você sabe quem me contou essa historinha

terça-feira, 24 de maio de 2011

Chutador de portas

Sigo pelo longo corredor frio da empresa com um copo cheio na mão.  Chamam esse corredor de "rua vinte quatro horas", mas isso é piada interna de curitibano. Sigo pelo corredor tão absorto em pensamentos...

E vem você tentar me acanhar com essas teorias de um mundo melhor politicamente correto. Mesmo diante dos meus tropeços acerto bem mais que sua hipocrisia disfarçada de progressismo.

Cansado de discursos e sinais de trânsito. De religiosos e políticos não vou nem comentar, que me vêm ânsias de vômito, e a hora não está para enfiar a cara na privada.

Então você me chama de passarinho e diz que sou suave para escrever mesmo quando falo (de) merda. Pode deixar que na próxima vez escrevo uma história mais certinha.

E você que tira a alegria da minha vida, uma das poucas autênticas e palpáveis.


Sigo pelo corredor tão absorto nos pensamentos que minha mão começa involuntariamente a relaxar ao ponto de o copo escapar entre meus dedos, e se estilhaça no chão de piso cerâmico fazendo um estouro. O líquido colorido se espalha enquanto dezenas de pessoas colocam as cabeças pela janela para testemunhar a causa daquela intromissão absurda na rotina.

:: 24.05.2011 ::

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Quando o Zé conheceu a Teca IV

Coisa boa é chegar nesses churrascos de amigos com umas gostosas. O pessoal acha que tudo vai se resumir a truco, carne e cerveja, aí aparecem moças soltinhas para animar a festa. O Zé foi de fusca pegar a Teca e a Mel e chegaram no meio do churrascueca que os caras armaram de improviso na chácara do avô do Nando em Colombo.

Só que era domingão e o povo não se animou tanto, começaram a vazar logo que escureceu e terminamos os quatro na casa do Zé jogando strip-mico embalados pela cerveja e vodka sobra do churrasco. Não sei quem teve a ideia, mas foi muito boa, pois strip-poker é complicado e strip-truco demora. Obviamente o perdedor de cada rodada tirava uma peça da roupa.

Tudo muito lindo, as moças praticamente só de lingerie, os rapazes disfarçando ereções, aí a Teca começou a roubar pra não ficar pelada. A gente se distraía e ela punha uma meia de volta ou coisa parecida na maior cara de pau. Era muita falta de seriedade! Acabei me estressando com a pilantra e pra contemporizar o Zé foi com ela para o quarto matar saudade.

A Mel disse para eu não ligar, que a Teca não estava legal. Eu perguntei o motivo e ela me fez jurar que não contaria a ninguém — e o que ouvi foi cabuloso demais, até para um cara que se impressiona com quase nada na vida. Na sexta os pais da Teca voltavam de uma pequena viagem ao interior, estavam com as duas netas (filhas da Teca) no carro. Sofreram um acidente e as crianças morreram na hora. Ou seja: a Teca saiu curtir com a gente para aliviar a tristeza do luto.

Essa história eu guardei comigo, mesmo que algum tempo depois o destino tenha se encarregado de separar o Zé da Teca. Ele nunca comentou, acredito que ficou sem saber. Não importa, às vezes é melhor quando termina assim.

:: 16.05.2011::

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Quando o Zé conheceu a Teca III

A Teca não morava no apartamento que a Mel dividia com as amigas, mas ficava sempre lá, onde curtia uma liberdade que não tinha em casa. E essas moças sabiam curtir a liberdade. Tanto que uma vez meu primo mais safado, bem aquele que me ensinou as artimanhas da pegação, passou por Curitiba a trabalho, e acabei o arrastando para tomar umas no apartamento e conhecer as meninas. Ele ficou chocado com a tal "liberdade".

Naqueles dias que o Zé e a Teca romperam relações eu continuei a visitar a Mel. Passei lá num domingo de inverno para fugir do Fantástico e experienciar umas caipirinhas. A Teca estava por ali e recebeu um "amigo", um sujeito desses que têm cara de nada. Quando acabou a garrafa ficamos os quatro pela sala, a Teca e o pastel sentados no sofá, eu e a Mel num colchãozinho deitados no chão, cobertos por um edredom. Só luz da TV. A Teca, por motivos óbvios, não deixou o cara chegar, então eles ficaram jogando conversa fora, comentando o que passava na TV meio que pra disfarçar. Mas disfarçar o que?

O esforço era pra fazer de conta que não nos viam transando no chão na frente deles. Cobertos pelo edredom mas obviamente transando. E não podíamos usar o quarto porque a outra menina que morava no apartamento estava lá estudando. E não fomos para a cozinha porque estava frio. E transar ali com audiência qualificada era muito mais engraçado e gostoso.

Um tempinho depois que eu e a Mel terminamos, o pastel foi embora e nunca mais voltou. A Teca ligou naquela noite mesmo para o Zé, e no dia seguinte reataram a relação. Amigo é pra essas coisas.

:: 12.05.2011 ::

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Quando o Zé conheceu a Teca II

O Zé contou que a Teca era recém separada e tinha duas filhas pequenas. Ela morava no Xaxim com a mãe, que ajudava a cuidar das crianças. O que deixava ele chateado é não poder ir na casa dela. Aliás, não podia chegar perto. Sempre tinha que deixar a Teca a duas quadras de casa, mesmo de madrugada, porque segundo ela o ex ficava rondando e era perigoso.

A Mel, a amiga, deixou vazar pra mim que a Teca era casada ainda. Casamento em crise, mas era casada e morava com o marido. E até o Zé, em sua distração passional, desconfiou das desculpas e dos horários rígidos. Um dia eles bateram boca no fusquinha, no lugar que ele sempre se despedia dela, eram mais de onze da noite, ela desceu do carro batendo porta, ele foi atrás bravo que nem um bicho, agarrou, arrastou para o canto escuro de um arbusto e praticamente a violentou ali em pé, mas ela entrou no clima, abriu mão do horário e foram para um motelzinho barato.

Pularam na cama, ela com a roupa meio rasgada (não que a Teca usasse muita roupa), e começaram o agarra-agarra no escuro (quarto de motel barato é melhor nem ver), pegada forte, muito suor, excitação lá em cima, um creme escorrendo do meio das pernas dela... até que ela percebeu o lençol molhado demais, pior, percebeu que ambos estavam muito molhados, e acendeu a luz. O problema é que quando o Zé ficava nervoso, o aparelho digestivo saída do ponto, e aquilo de quase-estupro mexeu pesado com o emocional. Bateu uma diarréia forte e na hora do esforço pelo prazer não percebeu que se cagou todo. Aliás, cagou a Teca também.

Ela quase morreu de nojo e jurou nunca mais sair com ele. Mas amor de pica não termina fácil assim.

:: 10.05.2011 :: 

terça-feira, 10 de maio de 2011

Quando o Zé conheceu a Teca I

Toda história quando tem elementos contados por pessoas diferentes fica comprometida. Paira um ranço estranho de futrica. Mas até em jornalismo é necessário saber todos os lados. O fato é que quando o Zé conheceu a Teca depois de anos sem namorar e na seca, ficou numa alegria só. Antes de me apresentar a moça fez a maior propaganda, disse que era tipo patricinha, loira, linda! E o melhor no meu ponto de vista: tinha amigas gatas.

Então, de saída, quando o Zé marcou para eu conhecer a Teca (não sei por que sempre buscou minha aprovação) ela já levou uma amiga. E do boteco fomos pra casa da amiga, e lá todo mundo se arranjou. Muito legal, muito fácil, um pouco suspeito.

Mas a Mel era mesmo muito bacana, e como tinha liberdade, pois dividia um apartamento com amigas, a gente engatou uma amizade colorida. Sexo frequente resulta em intimidade, aí as confidências são inevitáveis. Foi assim que eu comecei a, sem querer, saber coisas da Teca que não estavam no repertório que o Zé me contava. Provavelmente ele desconhecia e, como amigo, deduzi que se soubesse estragariam a alegria que o Zé vivia no momento.

:: 10.05.2011 ::

quinta-feira, 28 de abril de 2011

O grau máximo de permissividade de um Estado

Sarg. Zargonel, militar e homem religioso. Desde o terceiro ano em que o país entrou em estado de sítio foi incumbido de obter informações dos guerrilheiros presos. Criava bravatas homéricas quando ouvia a palavra tortura. "TEDCs, Técnicas de Extração de Depoimentos Confiáveis", dizia.

Guerrilheiro 2746, codinome Marimbondo, fugitivo de presídio de segurança máxima. Recapturado depois de um ano e sete meses na selva, foi submetido às técnicas do sarg. Zargonel. "Choque no saco é colírio para mim seu puto velho, sua família está na mira do movimento", gritou num momento de desespero.

Enfermeira Edelweiss, responsável pela reabilitação dos submetidos às TEDCs. Com poucos recursos disponíveis, fazia o que podia, e se permitia abusar um pouco dos que chegavam desacordados. "Basicamente manipulo membros moles e penetro com os dedos, sabe onde, mas só dos pacientes homens, das presas não porque sinto nojo. Judiam demais delas", confessou.

Não se trata necessariamente de um país latinoamericano e nem o caso de um suposto guerrilheiro empossado ministro.

:: 29.11.2008 ::

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Psicoterapeuta autodidata

Puta é um tipo de psicóloga. Sinto muita falta mesmo de conversar com alguém diferente. Neste meu mundo somos todos bitolados em um tipo de rotina, pode acreditar, é um cotidiano. Parece que não há mais nada para aprender. Somos pagas para aturar homens com problemas, nunca há um diálogo, nós só escutamos. Nunca há uma troca, só proporcionamos. Poucas vezes recebi carinho, mas tapas, em compensação, vários.

Antes de ir para o quarto ou depois de gozar na gente eles falam. De comodities, da filha debutante, da promoção que nunca sai, problemas caseiros, a zanga da mulher, a compulsão de consumo da namorada, dúvidas cruéis do tipo "onde guardar meu novo barco". São homens que têm uma vida diferente, parece que vivem em outro mundo, grana faz isso. Quer um conselho? Pague cem reais.

:: 01.07.2003 ::

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Rasgada

Desde que eu possa passar a noite abraçada e segura, todo o mal que ele me faz logo que deitamos acabo esquecendo. Para muitos pode ser natural, mas para mim é uma invasão, sofro dor, me sinto suja. É uma tortura todas aquelas noites me ver ali imunda, uma lata de lixo, profanada.

Não adianta conversar. Ele é sensível mas não ouve. Para ele é natural como para os outros, e faço de conta que também é para mim, maria vai co'as outras ordinária. O importante é que ele existe (tem muita mulher solitária por aí) e me provê, então aceito.

Amo Chico Buarque porque ele entende como uma mulher pensa. Meu príncipe encantado que eu sacudiria às seis horas da manhã. E sei que o Chico não ia querer fazer, pois ele sabe que toda penetração é uma violação.

:: 15.04.2011 ::

quarta-feira, 13 de abril de 2011

MCPmate - o verão vai deixar saudade


É com pesar[prazer] e com um pouco atraso que deixamos esta nossa singela[brutal] despedida do verão. Notem os pequenos detalhes para aproveitar mais o momento. O importante é: o verão vai voltar, com toda inspiração que nos proporciona. Até o fim da semana, mais contos para vocês.