segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

O natal “emochocrível” de Salete

Salete era consumista, e para azar do namorido dela, ganhava pouco. Mas isso não era problema para ele, homem rico. E casado. Não com Salete.

Era perto do fim do ano quando a salafrária topou fazer uma festinha com o namorido e uma amiga. Ganhou um presentão de Natal. Ele a levou numa concessionária e deixou que escolhesse: “Gosto de carro pequeno, que cabe em qualquer buraquinho. Quem tem que ter traseira grande sou eu”. E uns baitas airbags tinha a safada. Como boa perdulária, escolheu um compacto sim, mas completo, e ainda recheou de acessórios.

Ficou feliz da vida com o “Arnaldinho”, como batizou o carro. E como a mobilidade ajudou na vida de Salete. Atravessava a cidade em minutos, não se atrasada mais para os compromissos. E não dependia mais de táxi para levar a sacolaiada de compras do shopping para casa.

E como tinha ganhado o carro, resolveu recompensar o mundo ao redor (e não agradecer a deus, de quem se dizia crente o tempo todo). Foi no shopping e comprou presente para a família toda, para as amigas, para o namorido e arriscou até um presentinho para o filho adolescente dele.

Salete foi juntando sacolas e sacolas e apinhando no carro. Na terceira remessa percebeu que não cabia mais nada. Então, fazer o que? Primeiro, mandou mensagem para o namorido, que não pôde acudi-la por estar num compromisso com a esposa. Salete estava desolada, não sabia o que fazer. Foi então que teve uma ideia genial: chamou um táxi. E antes de partir em caravana para casa, ainda comprou mais uma remessinha de presentes, agora os dela. Cartão do namorido, óbvio!

Chegou em casa, vestiu uma lingerie maravilhosa e romântica que comprou, subiu nas sandálias de saltos altíssimos, colocou touquinha de papai noel e fez fotos no espelho. Mandou para o namorido (provocar) e para o ex-namorado-e-ainda-amigo-colorido (convidar).

Natal é época de dar. Talvez por isso Salete sempre foi uma entusiasta da efeméride. Ela amava o natal, a família, o namorido e tinha uma bunda maravilhosa.

:: 09.10.2013 ::

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Corredor Polonês

Uma brincadeira que existia nas escolas em que estudei, durante praticamente todo ensino fundamental. Não tinha regras, líder, tampouco cronômetro. Nunca soube quem inventou.

Começava sem aviso. Um pequeno grupo se posicionava ao redor de uma passagem qualquer: um corredor, a entrada de uma sala, um canto do pátio. Ficavam ali com cara de paisagem, sem dizer ou fazer nada. Então outros, sem convite (olhares cúmplices valem como convite?) posicionavam-se ao lado, até uns 12 a 16 formarem um corredor. A partir dali, cessava todo o tráfego no local. Porque o Corredor Polonês estava formado. Quem passasse tomaria uma série de bordoadas dos que formavam o corredor, com o que tivessem a mão, a pasta, uma blusa enrolada, pés, tapas, enfim...

Então um corajoso pegava embalo e atravessava a toda velocidade se defendendo como podia. E chegava vitorioso do outro lado, passando a fazer parte do corredor. Na sequência outros tomavam coragem e atravessavam.
 
A coisa ia assim, brincadeira civilizada, até o momento em que tudo virava baderna (estapeamento geral) ou um inspetor aparecia. Aí o corredor se dissipava e a molecada voltava a seus afazeres.
 
Tem gente que acha que as crianças de hoje, com seus videogames, imersas num mundo politicamente correto, é que se divertem.

Em tempo: meninas bonitas e/ou de desenvolvimento precoce eram imunes ao corredor.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Se eu tivesse uma dessas...

Tem um comentário recorrente dirigido a quem, como eu, tem moto grande. Em particular, se for esportiva.

Situação motoboy:
- Se eu tivesse uma dessas, eu não durava uma semana.
- Ah, tá. Quer dizer que você é um cara super corajoso e arrojado e eu sou bundão.

Situação indigente:
- Se eu tivesse uma dessas, eu morria em uma semana.
- Tá bom, flanelinha. Se apresse nessas três pedrinhas de crack que estão no seu bolso, que não passa nem de hoje à noite.

:: 09.10.2013 ::

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Como ser amigo de um homem lindo

Uma paródia aberta do aclamado texto de T. Bernardi, enviado por um leitor anônimo, como contribuição. Ele é gaúcho, formado em propaganda e fez pós graduação em estética. Usa tamancos e tem vários cursos especializados em depilação íntima, tintura, cabeleireiro, dança de salão e decoração de interiores.

Acho que de todos os exemplos, o dos pentelhos é o mais cruel. Ele tem os pentelhos escuros, lisos, brilhantes. Quando sangro, ficam meio avermelhados e as pessoas a param na rua pra perguntar "que cor maravilhosa é essa?" e ele responde "meu cachecol de rola...". O pentelho é tão bom, mas tão bom, que pra dar um "tchans" ele faz permanente. E o resto dos mortais misturando dezenas de fórmulas importadas pra conseguir sair de casa sem parecer que está há séculos sem tomar banho, acumulando ceroto.

Às vezes ele diz "espera eu me arrumar, não posso ir assim" e eu fico olhando e pensando que nem em oito horas num salão de beleza eu alcançaria a perfeição que ele atinge apenas de regata, shortinho, havaianas e hipoglós no cu. Ter como melhor amigo um homem lindo é receber todos os dias uma socada na boca. Você com fome, a bile te queimando por dentro... e ele vem, com vaselina, e termina de te rasgar. E você sorri "tá, eu espero...".

Em seu currículo existencial tem sempre um amigo que sumiu. Tenho dó. É preciso muita coragem, força e uma dose de masoquismo pra estar ao lado de tamanha beleza. Ele diz "poxa, o Rômulo vivia aqui, de repente... sumiu". E eu penso "antes de desistir o pobre Rômulo deve ter tentado vaselina, xilocaína, anestesia, sutura, pompoarismo, exercícios... quando viu que não tinha jeito, o jeito foi fazer de conta que você não existe.".

Alguma mágica interestelar combinada com alguma natureza esplêndida fazem, diariamente, com que todos os salgadinhos escrotos, sanduíches macabros e refrigerantes grotescos que ele consome não grudem na parede de seu toba. Quando ele ajeita a sunguinha na praia, pra deitar, eu me divirto com os bofes em volta, todos com a educada exclamação "bichona louca" tatuada na íris.

Numa fase meio deprimida (sim, homens lindos também ficam #chatiados), ele resolveu que só sairia na rua com a boca muito pintada de vermelho. Os pentelhos levemente cacheados pelo permanente eram rococós que emolduravam a sua verga enorme, bem torneada e, agora, na versão cor do pecado. E sempre alguém, numa roda de amigos, pergunta "essa benga volumosa é sua?" e ele sem graça responde "é, nasci assim...". Ele sempre se desculpando por ser lindo e os outros sempre fantasiando que sua beleza não é real, numa tentativa de desculpá-lo. "E esses pentelhos longos e enormes e muitos...". "São meus...desculpa".

Mas muito mais sofrido do que estar com ele é não estar com ele. Tem sempre um desgraçado que me vê de longe e atravessa a rua correndo. "Lindo, quanto tempo!!! Queria MESMO MUITO falar com você". E eu já sei que é pra perguntar se meu enormemente dotado amigo está finalmente solteiro. E ficamos então alguns minutos num papo super profundo. Lindo, né?

Nossa, muito. Bem lindo mesmo. Porra, lindo pacas. É, lindo demais. Lindopacarai. E então eles começam a gemer. E eu já nem ligo mais, no fundo bato uma enquanto escuto.

Certa feita fui convidado para um show do Caetano Veloso. Me arrumei todo, tadinho. Me depilei todo, tadinho. Comprei até sapatinhos novos. Tadinho. O cara até gostava de mim, até me achava bonito, mas eu vi o momento exato em que ele, ao notar meu amigo numa calça preta e apertada, dividiu o universo entre antes e depois. E eu ficaria pra sempre no antes.

Estar ao lado do meu estonteante melhor amigo é assinar pra sempre um pacto com o prêmio de consolação. É escolher pra sempre ser o boy delícia ao lado, o amigo do, o outro. É estar tão longe do centro das atenções que preciso de uma lupa para vislumbrar minha piroquinha. É ensebar a franja de tanto que dói ser invisível.

Em nome de uma vida mais digna, eu poderia, assim como fez Rômulo e uma boa gama de amigos mais frágeis, ter partido o cu. Mas o fato é que na madrugada de um voo para Londres, no qual eu (com o velho e já sabido e muito analisado pavor de aeronaves) me dopei com algumas tarjas pretas, o adônis universal em forma de amigo teve por mim uma paciência jamais vista nem nos melhores dias de mamãe. Ele acordou de duas em duas horas para ver como eu estava. E eu estava muito drogado mas pude acompanhar seu passinhos lindos pelo corredor, sua mão quente acariciando meu pinto, tudo pra checar se eu me comportava como um homem de trinta e quatro anos ou tinha virado uma bicha louca desvairada.

Em nome de uma vida menos humilhante, eu poderia ter dito "gato, fui, parti grandão, desejo que você e a sua fantástica benga sejam muito felizes lá na putaqueopariu" mas o fato é que o espetáculo em forma humana é o porra do meu melhor amigo. É quem me liga todos os dias pra saber como estou. É quem segura minha pica quando eu tenho ataque de viadagem. É quem esteve em minha casa em todos os meus términos de namoros, gripes, hemorróidas e confusões mentais.

O homem muito bonito sabe que, em sua maldita sina de perfeição solitária, só lhe resta ser tão legal, mas tão legal, que o legal seja ainda mais incrível que sua rola e seu tórax e sua batata da perna. Já ao homem "inteligentinho e engraçado", classificação que nos salva no colégio e segue nos salvando pelo resto da vida, cabe tirar o melhor proveito disso e transformar o resto em piada.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

O politicamente correto e a brutalização das relações

Entre um copo e outro, o assunto era o perigo que os conquistadores correm, hoje em dia, de serem capturados naquilo que a justiça acha por bem configurar como "relação estável". Falou-se até num contrato que existe hoje, que certos casais desapegados celebram, garantindo que tudo ali é só namoro e desobrigando-se dos bens e ganhos do outro. Um tipo de separação universal de bens sem o "pode beijar a noiva".

"Onde está o romantismo?", retrucou o Zé. "Parem de racionalizar tanto, vocês são uns covardes!". Mas os cuidadosos continuaram a falar dos perigos de levar uma peguete repetidamente para casa.

O Zé defendeu seu ponto de vista romântico com aquele ideal de "one night stand" seguro:
1) O sujeito lá na balada, antes de "dar uns pega" na garota, pede a identidade, verifica se é maior e chama duas testemunhas, pois se o documento for falso, ele é que foi enganado.
2) Chegou em casa com a piriguete, nada de dar bebida para ela, para não correr o risco de ser acusado de estupro de vulnerável.
3) Falando em estupro, antes do vuco-vuco, fazer a moça assinar uma declaração de que praticará o coito de livre e espontânea vontade, leva num cartório, reconhece firma e, aí sim, podem festear.

"Vocês vão todos à merda!", descascou o Zé.

"Quebrar a regra da segunda saída é muito risco", argumentou o cuidadoso-mor. "Vejam o que aconteceu com as diaristas. Você só pode chamar em casa no máximo dois dias por semana. Passou disso tem que registrar em carteira."

"O negócio é pegar prostituta. No fim das contas sai mais barato e não tem encheção de saco", disse o terceiro.

Aí o Zé não se aguentou: "Você que pensa. Seguindo essa lógica, se você começar a sair demais com uma 'preferida', pode levar um processo de relação estável. E no caso da vara de família te liberar, ainda corre o risco de levar um trabalhista na testa por falta de registro em carteira."

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Os destemidos

História impagável contada por um colega aqui da firma, Renê Gilberto Tonet, que chegou até mim por meios obscuros. Qual dos personagens da história teria sido ele?

Início da madrugada de sábado, estava o Zé com dois amigos no clube, um deles um belo deficiente físico (só andava de muleta), já bem encaminhados nas cervejas. Resolveram, como tem que ser em cidade do interior, ir ao bailão da cidade. Tudo normal se não fossem os três numa única moto e já em avançado estado de embriaguez. Não vamos entrar no mérito dos foguetes que soltaram no caminho e de estarem sem capacete, como só acontece em cidade do interior.

No caminho iam o piloto, o belo deficiente e o Zé atrás, quando caiu um sapato do que estava no meio. Ele alertou o ocorrido, mas o piloto disse "deixa que pegamos no volta, está muito tarde", e seguiram viagem. Foi aí que caiu a muleta, no que o belo deficiente, aos gritos, implorou que parassem. Em em vão. Os outros dois diziam que era iam perder o fim do baile se parassem e que no retorno pegariam a muleta e o sapato.
 

Entraram no baile, já quase terminando, o belo deficiente pendurado nos ombros dos outros dois. Encostaram no balcão e o Zé já pediu uma cerveja. Algumas cervejas e muitas risadas depois, tudo parou ao som de tiros pipocando no telhado do estabelecimento (interior...), e foi aquela correria, gente para todo lado, salão vazio, menos... dois dos três destemidos (daí a alcunha). O piloto conseguiu correr, mas os outros permaneceram encostados no balcão. Passados alguns minutos, chega o dono do bailão pra eles: "Nossa! Vocês são foda mesmo!"

Os destemidos que ficaram no balcão em meio aos pipocos eram o belo deficiente (motivos óbvios) e o Zé, bêbado, mijado e paralisado: "Estou todo molhado, vamos embora deste lugar que preciso trocar de roupa". E foi aquela encheção de saco pra cima dele na hora de subir na moto: "Não encosta esse mijo em mim!". Teve que voltar de novo atrás, e de costas.

No caminho lá estava a muleta brilhando no acostamento. Logo adiante, no meio da estrada, o sapato, na espessura de uma panqueca retorcida em meia lua. Quando desceram para pegar, o Zé lembrou do que disse o dono do bar e desabafou: "Foda mesmo é não conseguir correr".

terça-feira, 16 de julho de 2013

A chantagem do pastel


Para convencer a menina a ir à biblioteca sem ficar contrariada, afinal eram férias e ela queria brincar o tempo todo, o homem prometeu levá-la à Pastelaria Brasileira, que ficava ali em frente. Um dos melhores pastéis do sul do mundo, segundo ele. E nada como um pastel acompanhado de Wimi ou Chocomilk para apaziguar uma pequena alma ainda não caída de paixão pelo balé das letras nas páginas de um bom livro.

Pense num percurso longo. Vinte e cinco minutos de alimentador até o terminal, depois quase quarenta no expresso para chegar ao Centro, fora as esperas. Da Rui Barbosa até a Biblioteca Pública pelo menos a caminhada era curta.

Era entrar pelo saguão e o cheiro de papel velho lhe trazia um sentimento de satisfação e conforto raramente percebido em outras ocasiões da sua vida. A menina apertou sua mão diante da imensidão do pé direito daquele prédio antigo. Circularam por alguns corredores, ele pegou o que procurava, um clássico para reler, ao passo que ela ficou indecisa. Escolheu de vez uns cinco (deve ter um que sirva) e sentaram-se à mesa que ele conhecia tanto. Ela folheava um pouco os exemplares que tinha à mão e parava para observar o homem compenetrado em seu mundo de sonhos — ele disfarçava desinteresse no que acontecia ao redor, projetava seu olhar no livro tentando intrigar a menina sobre a magia que emanava daquelas páginas.

Passados quarenta minutos a fome deve ter apertado e ela cobrou a recompensa prometida. Ele fez um sinal de espera com a mão ociosa. Um sinal de respeito ao que acontecia no livro. Então dirigiu aos olhinhos dela o semblante mais apaixonante que guardava em seu acervo, e foram para o balcão de registro de empréstimos. Dali para os pastéis, para o sol da Rua das Flores e de volta para casa, de barriga apaziguada. 

Assim como desenvolver uma fórmula, domar um cavalo, entender o mercado, seduzir uma mulher difícil, trata-se de um processo prazeroso, porém árduo. Neste caso, todos, absolutamente todos colheriam os benefícios.

:: 16.07.2013 ::

segunda-feira, 8 de julho de 2013

NaNovela Curitibana 13 - Dor aonde

9h53 - você tem uma nova mensagem no celular
"Nossa, tive que tomar Dorflex
Por causa da nossa noite kkkk
Mas foi uma delícia. Bjs."

:: 02.07.2013 :: De autoria do Victor Hugo, grande amigo e grande "contribuinte" do MCP, e que pelo jeito tá pegando bem

sexta-feira, 28 de junho de 2013

NaNovela Curitibana 12 - Intrigas de shopping center

Reacionárias da alta sociedade
Que começaram a vida
Num puteiro barato
Abre as pernas, flor de pinhão


:: 28.06.2013 ::

sexta-feira, 14 de junho de 2013

NaNovela Curitibana 11 - Rinha

Ele, macho penoso,
canta de galo na madrugada.
De dia, a esposa
galinha.

:: 13.06.2013 :: De autoria do Ademir Gros Jr. (@JuniorGros e http:\\verbolandia.blogspot.com.br), que além de todo esse talento já estagiou com a gente

terça-feira, 11 de junho de 2013

NaNovela Curitibana 10 - Cracolândia não tem aqui

Na esquina da Saldanha
Com a Ermelino de Leão
Se queima o pão
Nas cinzas da Fênix

:: 25.04.2013 ::

quinta-feira, 6 de junho de 2013

NaNovela Curitibana 9 - Irreparável

Empurrava o carrinho de bebê
Pela Rua das Flores
Todo dia no tumulto das seis da tarde
Da Praça Osório à Santos Andrade
Empurrava o carrinho
Vazio
Como aquele que a perda deixou


:: 06.06.2013 ::

terça-feira, 4 de junho de 2013

NaNovela Curitibana 8 - Refluxo

Agonizo toda noite
Regurgito acidez, vapor quente
Ao meu lado a mulher
Besuntada de cremes


:: 04.06.2013 ::

quarta-feira, 29 de maio de 2013

NaNovela Curitibana 7 - Lazer no parque

Carro estacionado
Na churrasqueira do Barigui
Motel de pobre ou de mão de vaca


:: 22.05.2013 ::

quinta-feira, 16 de maio de 2013

NaNovela Curitibanas 6 - Onanista de cinema

Da adolescência veio o vício
De esguichar nos pornôs do centro
Evoluiu à privacidade higiênica
Do DVD com hidratante em casa


:: 16.05.2013 ::

quarta-feira, 15 de maio de 2013

NaNovela Curitibana 5 - Don Juan das masmorras

Para ele era irresistível
Qualquer recepcionista
Não passava dia
Sem fazer uma visita

:: 15.05.2013 ::

quinta-feira, 25 de abril de 2013

NaNovela Curitibana 4 - Alta sociedade não acolhe bastardos

Ginecologista famoso
Construiu o hospital de caridade
Com os lucros da fábrica de anjinhos

:: 25.04.2013 ::

quarta-feira, 24 de abril de 2013

NaNovela Curitibana 3 - Separação arranjada

Internou o filho no Bom Retiro
Para impedi-lo de casar
Com a mulher que ele amava

Uma stripper

:: 24.04.2013 ::

terça-feira, 23 de abril de 2013

NaNovelas Curitibanas 1 e 2


Paraíso curitibano

Torriton toda sexta
Inveja da vizinha
Carrão de luxo zero km
Conta no vermelho



Cavaleiro matinal

Manhã fria curitibana
Enfrento o dragão mais terrível
O despertador

:: 23.04.2013 ::

sexta-feira, 12 de abril de 2013

O major do Mustang vermelho e a supervisora da Avon

Mais uma contribuição sensacional da irmãzinha Valéria.

Jennifer Natally era moça de boa índole, começou a trabalhar cedo para ajudar a mãe viúva. Foi mãe solteira aos 17. Não teve chance de cursar enfermagem, como sempre sonhou. Virava-se bem, era supervisora de vendas Avon. E com muita economia conseguiu comprar um Celta usado assumindo 49 prestações.

Já Luiz Henrique era moço bem nascido. Sempre teve de tudo e nunca soube o que era abrir mão de seus sonhos. Fascinado pela carreira militar, estudou a vida toda no colégio dos milicos. Seguiu carreira e chegou a major antes do esperado. Divorciou-se aos 41 e comprou um Mustang vermelho. Queria gozar a vida de verdade.
 

Jamais as criaturas descritas acima teriam se cruzado, não fossem unidos pelo acaso numa daquelas situações que nivelam as pessoas, independente de classe social: o congestionamento das 18h.

Ela sabia que aquela bostenga de carro tinha sido barata demais. E foi ali na Rua Tibagi, pertinho do Terminal do Guadalupe, que a beleza apagou. Todo mundo buzinando, não teve jeito: saiu do carro, abriu o capô e fez cara de entendida no assunto. Chamar quem pra ajudar? O Espírito Santo? Nisso, Luiz, moço educado e de boa formação, na filosofia do "braço forte e mão amiga" percebe a situação da moça, estaciona seu Mustang na vaga de carga e descarga e...

- Oi! Precisa de ajuda, moça?

Jennifer desenterra a cabeça do motor, e pensa estar delirando: 1,80m, atlético, jeito responsável, ar seguro e, de quebra, UMA FARDA! Toda camufladinha. Um verdadeiro espetáculo com a camiseta justa, ondese lia em verde: Major Richtemberg. A mulher entendeu imediatamente que não precisava se preocupar com mais nada naquela situação.


Foi fácil consertar o carro, ele entendia do assunto. Ela, quase babando:
- Nem sei como agradecer!

Para ele a expressão da moça era recorrente e natural.  A mulherada do Santa Marta e de outros estabelecimentos do Batel, que ele já fingia nem perceber mais, apresentava com frequência aquela mesma expressão. Mas naquela tarde ele estava de ótimo humor:
- Pode me agradecer indo comer alguma coisa comigo ali, na próxima quadra. Vamos?

É claro que foram. O restaurante pequeno tinha toalhas de plástico floridas na mesa. Pediram uma cerveja e frango a passarinho. O papo estava engraçado com os erros de português e gírias da mulher. Ela foi ao banheiro retocar o batom. Ele foi atrás... e foi com tudo. Ela foi “arremessada” contra a parede, já no colo do major. A saia curta favoreceu o que parecia uma cena de cinema na cabeça da moça, que já havia passado por isso, mas nunca com aquela pegada. Transaram em pé, na parede do banheiro. Quando ele "chegou lá" ela sentiu que a sua vida poderia acabar ali, já teria valido a pena. E pensou "Deus, o Senhor olhou pra mim e ouviu as minhas preces outra vez? Isto está mesmo acontecendo?", já imaginando os lindos bebês de olhos azuis que poderiam ter assim que casassem.

Enquanto ele pensava "É, às vezes é bom sair da rotina. Principalmente sem precisar sujar meus bancos de couro. Nota cinco, a infeliz é piriguete, mas parece legal... eu não devia ter feito isso, mas ela quase me implorou."


Despediram-se em dez minutos. Ela lhe entregou o cartão de supervisora. Ele jogou o cartão na lixeira do carro porque, como todo mundo sabe, curitibano não suja a rua.

terça-feira, 2 de abril de 2013


minhas working boots
minha música rasgada
meus óculos escuros
meu olhar indisfarçável
minha língua ferina contida
meu sufoco quando aprisionado
minha pose falsa de motoqueiro durão
minha busca pela embriaguez permanente
meu medo da rejeição

::02.04.2013 ::

quarta-feira, 20 de março de 2013

Na chuva ainda sou

Hoje uma gota de chuva solitária veio beijar meu ombro bem no lugar que você beijou quando se despediu. Eu não imaginava que era um adeus. Engraçado, estava com a mesma blusa. A gota escorreu pelo contorno do seio e secou na pele quente. Impossível não lembrar de você na intensidade dessas estranhas coincidências. Chuva que disfarça lágrimas, não as minhas, nunca, rebate as sensações de não estar com você mesmo sendo ainda tão sua.

:: 07.12.2007 ::

quinta-feira, 7 de março de 2013

A escolha e o surto

A Valéria, amiga querida, que tivemos o prazer de conhecer quando éramos mais novo(s) que o guri da história, nos supreendeu com este conto libertador. Nada melhor que compartilhar com vocês.

Marina, uma respeitável senhora, casada com um general da reserva trinta anos mais velho. Trajava sempre vestidos que iam até o joelho e fazia um coque no cabelo assim que levantava da cama. Lembrava todos os dias, enquanto fazia seu coque, do seu primeiro homem, o único antes do general, soltando e emaranhando o seu cabelo na cama: como ela gostava daquilo! Seus pais jamais cogitaram que o namoro prosseguisse: “o rapaz não tem futuro algum com aquela guitarra”. Acabou se transformando num músico de uma banda londrina famosa assim que perderam contato.

Durante aquele mês, estava hospedando o filho de uma grande amiga, Diego, 21 anos, que procurava emprego na capital. Menino lindo, alto, másculo. No auge da sua beleza, o guri era mais interessante ainda por não suspeitar do poder que exercia sobre as damas respeitáveis da sociedade. O vira nascer, quando ela e a amiga ainda eram adolescentes no interior. E assustou-se quando bateu à sua porta aquele homem feito.

O general, por sua vez, passava as tardes jogando xadrez na praça e a tratava como se fosse ela um soldado. Chamava-a de “minha filha” e exigia uma disciplina militar da esposa.

Até que numa tarde, o guri, espichado no sofá, morrendo de tédio, grita para ela:
- Tia, você quer ajuda com a louça?
- Não, obrigada, querido! Isso é tarefa minha.

Depois de minutos:
- E as tarefas do tio, ele tem cumprido?? - Diego, já em pé na cozinha, mordendo uma maçã.
- Mas é claro! - Marina, em tom estupefato com a audácia do menino!

E assim, na lata, com toda naturalidade e calma, Diego devolve na hora:
- Sabe, tia, não parece não... - morde a maçã - você quer transar??

Marina emudece e olha para trás boquiaberta, num movimento lento, mal acreditando no que ouviu, nunca tinha visto tanta petulância na vida. E com o coração acelerado:
- Diego, eu vou falar com sua mãe sobre isso! Você não pode me faltar assim com o respeito.

O guri, acostumado a reconhecer estes "nãos" que significam “vem logo, que tô facinha”, aproxima-se, larga a maçã e cala Marina com um beijo daqueles, que para a gurizada de hoje são muito naturais. Os joelhos da mulher amoleceram com a pegada dele. Transaram. No balcão da cozinha, no sofá e quatro vezes na cama. Só pararam porque o general estava para chegar.

No dia seguinte, Marina levantou da cama e se olhou no espelho. Cortou os longos cabelos castanhos na altura dos ombros e não os escovou, bateu-os pra baixo para deixá-los mais armados. Com o barbeador do general raspou uma área acima da orelha. Vestiu uma calça azul vibrante, que estava sem uso. Um tênis All-Star velho e uma camiseta branca. Olhou-se no espelho, dispensou o sutiã pra ficar mais provocante. E quando estava saindo do quarto, lembrou d gandola do general no armário. Com um vidro de errorex fez uma arte qualquer e foi a pé ao mercado. Na frente da gandola havia escrito “100% ROCK'N'ROLL”, E nas costas, pra quem se virasse para olhar, um “FODA-SE”.

terça-feira, 5 de março de 2013

Investida com arte

A vida é muito curta para deixar de fazer o que se gosta, ou fingir ser o que não é, somente pela imagem que achamos que vão fazer da gente. Foi o que a convenceu a sair comigo. Pois quem vê de fora pode recriminar uma mulher que sai comigo.

Por exigência dela fomos para um lugar discreto. Lá dentro, bem, conheço um pouco da arte da sedução, o que me garantiu o que eu realmente queria. A consciência dela pode ter até tentado repelir minhas investidas, mas não teve jeito: ela deu.

Depois do ato levantei e fui ao banheiro. Grandes olhos brilhantes me acompanharam até eu fechar a porta. Essa história de mulher querer carinho depois é porque não gozou. Logo pedi para ela me levar ao boteco. Esperei que ela se convidasse para me acompanhar, mas ela não ousou. Fiquei na companhia da cerveja e voltei para casa sozinho. Naquela noite eu não precisei sonhar.

:: 07.07.2003 ::

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

O Zé e a rainha do sertanejo universitário - parte 2

Tudo se encaminhou bem com a loirona bonita que abordou o Zé no sinaleiro por causa da moto do primo. Depois de alguns dias de negociação bem quente, já no quarto do motel, ele percebeu certos não-me-toques na moça, mas no calor do momento a coisa engrenou, e no meio do griteiro que ela promoveu (teatral ou não, pouco importa, pois reparar nisso é coisa de boiola) tirou a camisinha e "descarregou" na barriga dela, que imediatamente engatou ânsias de vômito.

Isso mesmo. A superloira com pinta de biscate não tinha estômago para uns jatinhos de esperma na barriga. Num reflexo o Zé catou a toalha e limpou rapidinho, pensando ainda bem que foi na barriga, imagina o estrago se levasse em conta toda baixaria que ela falava e mirasse na cara!

Naquele dia o Zé aprendeu na raça, e depois compartilhou com os amigos no boteco, que quando o assunto é a dança mais antiga da humanidade não é só homem que conta vantagem.

:: 29.03.2010 ::

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

O Zé e a rainha do sertanejo universitário - parte 1

O Zé emprestou a moto esportiva do primo e foi dar umas bandas no bairro. Até pode ter sido coincidência, mas nunca uma mulher o havia abordado na rua assim, na cara dura. Pois naquele dia uma loira linda emoldurada por um paliozinho preto pisou fundo até alcançar nosso amigo no sinaleiro. E deu um cartão de visitas pra ele.

Como de bobo o Zé não tem nada, quando telefonou (a ousada era gerente de alguma coisa num hotel de luxo) não entrou em detalhes sobre a propriedade da moto ou outras deficiências financeiras. E como a moça era comprometida, ele apertou a conversa pra um encontro direto, desses com final feliz pré-combinado.

Era uma loira bonita e carnuda, que chegou no encontro num vestido pelo menos três números menor que o figurino recomendado para moças de família. Se dizia rainha de um baile do sertanejo universitário, e pela insinuação, prometia uma trepada homérica, dessas que quando começa o treme-treme o peão se sente num terremoto 6.3 na escala richter.

(continua)

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Traído pela memória

Como era o nome daquela empregada que tinha na sua casa, uma preta retinta robusta que veio de Pato Branco com a sua família e fazia suco de laranja e batata frita toda vez que você pedia? Aquela que emprestou dinheiro para você comprar remédio quando pegou clamídia lá no puteiro da Sapataria São Sebastião receitado pelo pai daquele nosso colega do Colégio Positivo... Cara, daquela vez você se safou, hein? Mas como era mesmo o nome dela? Começava com a letra D, e na hora que eu lembrar isso aqui perde todo sentido. Será que está viva ainda?

:: 09.02.2013 ::

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Aquilo que não posso ter...

A cidade era pequena que Sandra quase não cabia nela. Espírita dissimulada, dona de casa de formas esculturais domadas por Leonel, evangélico convertedor, cabo da PM, ciumento. Só deixava a mulher sair aos domingos comportada na grupa da Barra Forte, Novo Testamento embaixo do braço. Comportada exceto pelo vestido vermelho que era a única coisa de que não abria mão. O vermelho e o salto alto eram como um ruído na igrejinha pentecostal que frequentavam. Depois do culto passeavam apaixonados pela praça.

Num passeio típico desses entraram no açougue e algo estremeceu dentro dela, caiu numa espécie de transe. “Pode ser a Pomba Gira”, disseram. “Também ela vive de vermelho, junta isso com cheiro de carne, é encosto certo.” A cidade ficou comovida com o acontecido.

Um mês passou e estranhamente tudo se arrumou. Sandra voltou ao seu jeito vivaz de ser. Dias depois a tragédia. Numa manhã calorenta foram encontrados os corpos do açougueiro e de Sandra no motelzito da beira estrada. Nus, unidos e amparados por uma faixa vermelha, salpicados de cachaça e penas pretas. Uma vela introduzida na disjuntora, um charuto introduzido no varão. Como Leonel estava na capital, o pastor foi o primeiro a chegar.

:: 23.01.2013 ::

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Ilibada

Trabalho como acompanhante. Acompanhante  mesmo, nunca me prostituí. Para você entender melhor, na casa onde trabalho somos como recepcionistas, os clientes pagam só pela companhia, para conversar, e também recebo comissão pelas bebidas que eles consomem. Você não imagina o mundo de solitários que tem por aí. Também ganho presentes caros por causa da minha simpatia, já ganhei até um carro usado. Mas como eu disse, sempre me comportei.

O fato de eu trabalhar com isso nunca incomodou meu marido, pra você ver. A ideia é que a relação com os clientes fique só na fantasia, mas desde que conheci você tenho me saído uma safada. Vivo imaginando uma traição no estilo dois deles me possuindo ao mesmo tempo. Antes, quando um cliente tocava em mim eu fazia cara feia e me afastava. Hoje abro as pernas. Até no ginecologista vou depilada, imagino que ele vai gostar de olhar. Foi você que fez esse buraco na minha moral.

:: 13.06.2003 ::