terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Porque éramos belos bêbados cometas*

Na época o Siri Bar era, como o nome sugere, um bar. Na beira do calçadão da praia e bem rústico, com uns bancos e mesas de cimento na frente. Às vezes a gente ficava ali bebendo e outras ficávamos somente ali. Numa praia em Santa Catarina ver o movimento é quase como respirar, há muito que se ver.

Época em que nos sentíamos indestrutíveis. Quem olhasse atentamente para nosso jeito, nossa pose, percebia isso. E as conversas... acreditávamos ter todas as respostas e que poderíamos salvar o mundo. Era só uma questão de querer.

Estávamos ali sentados, concentrados num tipo de filosofia que hoje me parece inatingível, quando um rojão pipocou no chão a menos de dois metros. O susto foi enorme. Na janela do carro de luxo parado atrás deparamos o paspalho que havia soltado o rojão nos encarando desafiador. Após os inevitáveis xingamentos, levantamos com peito empinado em direção ao carro. O paspalho nos respondeu com a pergunta "Tomar no cu de quem?" enquanto apontava a pistola para nosso grupo. Rimos nervosos e dispersamos entre comentários do tipo "nada, nada" e "foi brincadeira". Às vezes nem passa por sua cabeça o ódio que sentem de você. Fique atento.

Hoje o Siri Bar é um restaurante elegante de frutos do mar, com preços que seriam impraticáveis para qualquer um do nosso bando na época.

:: 03.01.2012 :: *Alusão à música "Nós", do Barão Vermelho, que poderia ser incidental no contexto

6 comentários:

Zé disse...

Dessa filosofia eu participava também, quando eu parava de falar de mulher e dava um pouco de espaço pros demais interlocutores.

Thai Nascimento disse...

Prova de que o tempo faz as coisas mudarem por dentro e por fora da gente...

Gostei!

Gustavo Martins disse...

Thai - isso é uma lei

Pessoal - só pra constar, trata-se de um conto de verão

Vampira Dea disse...

"Vc com um revolver na mão é um bicho feroz, feroz,sem ele anda rebolando e até muda de voz", já dizia Bezerra da Silva. Mas as pessoas invejam as outras por tantas coisas até por um sorriso...
Quanto as mudanças são inevitáveis, mas pergunto será que perdeu o encanto? A questão não são as mudanças e sim se elas são pra melhores, ficar caro e chique nem sempre é bom, sei que é um conto, mas quantos lugares conhecemos que se transformaram tanto que perderam a essência e graça?

Gabriel "gago" Alencar disse...

Cara, rolou uma identificação foda com o texto, esse tipo de coisa acontecia comigo...

Gustavo Martins disse...

Ao dizer "hámuito o que se ver" em Santa Catarina,sabe do que estamos falando, né?