Agora sim! Depois de testar as perversettes e leitores com um continho que já havia sido publicado, mandamos, a pedidos, um real inédito do Felipe Arriaga Carriço. Não contavam com nossa astúcia, hein? Percebam a nuance poético-perversa!
Tamanha fome sentia. Por isso os lábios lambia. E quanto mais lambia, ainda mais fome sentia. Mas não mordia, pois lambia para matar a fome e se mordesse não receberia
o "pão nosso de cada dia" que a velha freira lhe oferecia.
Eu tinha quatro anos quando minha mãe foi trabalhar na zona. Ela abriu uma lojinha de roupa de criança. Nesse novo habitat havia casas e bares repletos de moças bem dispostas e alegres. Elas adoravam os vestidos e camisetas vermelhas da vitrine.
Nordestinas, catarinenses e até umas moças das redondezas, sempre a mesma história: gravidez precoce, azar na vida e/ou trazidas por algum caminhoneiro que, com promessa de vida melhor em outro lugar, as tiravam da miséria e descarregavam ali na cidadezinha portuária.
No inicio os olhos tinham brilho, pele jovial e viçosa, carne nova como diziam. Frequentavam a loja, compravam os artigos mais caros, tinham motorista de táxi cativo e podiam até recusar convites dos ensacadores fedidos de suor e soja. Meses depois já estavam mais velhas uns cinco anos, corroídas por noites em claro, abortos, bebida e droga, carne passada. Nos olhos o brilho cedia lugar para o vazio. Ganhavam pouco por muito trabalho, passavam a escolher a roupa mais em conta e pagavam fiado.
Depois desse cenário, precisei de anos de terapia para aceitar que não sou brega. Mesmo assim, no bar, às vezes coloco uma moeda na jukebox e escolho uma música doída de amor perdido.
F.A.Q. - frequently asked questions - significa perguntas mais frequentes, uma compilação das dúvidas comuns formuladas pelos leitores de um site numa tentativa de reduzir o trabalho de respondê-las. Assim, leitor(a), antes de perguntar, dá uma olhadinha aqui.