sábado, 9 de outubro de 2010

Cidinha e a diversão da molecada

Meu tio Gatão estava com uns quatro moleques da rua, de bobeira. Eu ali, meio que obrigado. Sempre gostei das coisas mais científicas. Era rua de cidade pequena, onde eu passava as férias. Eu tinha uns dez anos, ele uns quatorze.

Percebi que a molecada silenciou. Uma pretinha descia a rua toda faceira, vestidinho de chita, descalça, sorrisão branco na boca. Parou para conversar com eles — eu era um expectador. Sem rodeios o Gatão lascou:
- Então, Cidinha, vamos repetir o que fizemos no matinho outro dia?

Eu nem imaginava do que eles estavam falando. Ela nem titubeou:
- Não. Vocês me prometeram um 'chicrete' e depois não me deram.
- Ah, mas hoje eu te dou, juro para você - respondeu meu tio, com toda gentileza e malandragem que sempre marcaram sua vida.

Então subimos todos numa charrete (isso mesmo!!!) e fomos até um matagalzinho que havia perto do quartel da vila. Entramos um pouco no mato e, começando pelo Gatão, toda a garotada se serviu da Cidinha. Menos eu, que estava 'verde' ainda, mas observei tudo com atenção — lembram? interesse científico!

Acabada a brincadeira, subimos na charrete e voltamos para a frente da casa do meu avô. A Cidinha desceu por último, cuidadosamente ciceroneada por meu tio. Antes de se despedir cobrou o chiclete. Meu tio ficou devendo.

 
:: 09.10.2010 :: Contada numa delicada conversa familiar numa taberna antes de Óbidos, Portugal

14 comentários:

Vampira Dea disse...

O que dizer? Politicamente incorreto e safadamente atual e real. Todo lugar tem uma menininha que dá pra todo mundo em troca de qualquer coisa, é só voltar a infância e a gente vai lembrar logo de alguém.Ah só pra constar muitas vezes não é a coitadinha que quer chiclete , muitas vezes é alguma menininha generosa demais pra idade e padrões da sociedade, outras é uma Geni em formação que as meninas comportadas não perdem a chance de jogar pedras quando descobrem.

Bella disse...

E a coitada nem escolheu um chiclete mais encorpado,suculento,com mais recheio e sabor? vai ver ela achava que chiclete era algo que mesmo que o sabor bom acabe pode ser pra sempre. ou não. E eles não pensaram em nada mais para dar um gostinho peculiar pra boca da moça?
E se fosse você que estivesse lá?
se eu fosse a Ritinha, eu sei bem como seria.

Vampira Dea disse...

corrigindo:outras é- outras são rsrsr

Patrícia Garbuio disse...

Eu fazia algo parecido(logicamente bem mais inocente),mas era mais esperta.Adorava aquelas balas que viravam chicletes.Então eu chantageava os meninos.Vc me dá suas balas e eu te dou um beijo.Comi todos os doces,mas eles nunca sentiram o gosto da minha boca.
bjs

Luna Sanchez disse...

O sorriso branco da Ritinha poderia ser sinal da ausência de chicletes e talvez também do exagero de boa fé.

Observação científica, apenas.

ℓυηα

Anônimo disse...

E toda cidade de interior tem a sua Ritinha...ahhh a Ritinha.
ps: Tem algumas que querem mais que um chiclete, um chiclete e uma coca-cola!

Gustavo Martins disse...

vampiradea - a questäo (problermas de acentuaçäo aqui, ok?) é exatamente essa: generosidade

bella - safadinha você, hein? se vc fosse a cidinha? (ah, desculpe, numa releitura, preferimos mudar o nome da personagem) mandaria a molecada andar de charrete e fazia o serviço solo

patrícia - quando come´camos a ler, pensamos que, ao invés de prometer beijo, o lance era algo como mostrar a calcinha

luna - muito pertinente, mas devia ser do contraste

matuto - mais uma vez, desculpe, numa releitura, preferimos mudar o nome da personagem; enfim, depois elas crescem e querem cerveja e volta de carro

Nanda disse...

Eu li, dei muita risada e pensei: Antigamente ainda se pedia chiclete... hoje não se pede mais nada... já se espera no mato sem roupa e acesa, ahahahaha

Tempos modernos!

[mas claro que eu não sou dessas, rs]

Beijos Gustavo!!!!!!!!!

Patrícia Garbuio disse...

Esse de mostrar a calcinha,era com os primos,vc bem conhece um deles.Mas sempre tem um primo mais safado...que nem dá pra contar o resto.bjssss

Anônimo disse...

O prazer e a troca são valias para peripécias do tipo. Sem chicletes. Eu troco(aria) por um mini-livro!

beijos, ú&e =***

Marco disse...

Paga na próxima...

M.M. disse...

Meus olhinhos estão brilhando só de imaginar os continhos que virão, incendiados por essas 'histórias'...
... e, por vários motivos, lá (ou aí, pra você) é diferente... desde o vinho até a simples conversa...

MeninaMisteriosa

Flavinha Mel disse...

Conheço uma Cidinha...tadinha...tadinha? acho que não...sagaz...homens se acham muito espertos, sempre pensando que estão se aproveitando de alguma menina inocente...na verdade, tadinhos...

Gustavo Martins disse...

Nanda - Mesmo?

Patrícia - Um dia você não resiste e conta.

Ú&E - Negócio fechado.

Marco - Sempre uma possibilidade de recomeço, né?

Menina Mistérios - Muito aprendizado mesmo. Agora é buscar novos horizontes.

Flavinha - Tadinho do pequeno-contista...