sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Amor e futebol

O causo se passa em Joinville. É necessário localizar geograficamente porque existe uma malandragem sociológica enrustida e pouco explorada na semimetrópole catarinense. A turma jogava futebol toda terça à noite. Era sagrado: a bola rolava até umas oito e meia, depois se enfurnavam no boteco ao lado da quadra e só saíam perto da meia-noite. Liberdade que assume mais importância quando o sujeito é casado. E todo mundo era casado desde cedo na turma.

Uma boa rotina tem peculiaridades. Por exemplo, o Genival sempre dava uma saída por volta das dez, insistia na necessidade de botar os filhos na cama, que sem ele custavam pegar no sono. Onze e pouco estava de volta, sem falha, quando borbulhava uma alegria diferente na rapaziada. Um observador externo e atento captaria até mesmo olhares de cumplicidade.

O fato é que toda terça, naquele intervalo, o Genival passava rápido em casa sim, para dar um alô para a esposa e as crianças, mas o objetivo mesmo era visitar a casa do companheiro de zaga, o Juninho, onde dava uma rapidinha com a mulher deste. E a característica pitoresca em questão é o fato de todos na mesa saberem da travessura do Genival, menos o Juninho. Pelo menos é o que eles acreditavam.

:: 19.11.2010 ::

21 comentários:

Eduardo Passos disse...

Muito bom e com um ótimo final!
Parabéns

Gustavo Martins disse...

1) esse negócio de casar cedo também é característica forte do pessoal de joinville

2) eu tevo ter arrumado o MCP umas 7 vezes desde que publiquei, há meia hora no máximo

Edu - tá aí a dica: usa este MCP pro fosforilador, imagino um cara narrando essa história

Eduardo Passos disse...

Acho que vai rolar. Vou propor à minha equipe.

M.M. disse...

Eu gosto do estilo. Por não ser ultra descritivo, a gente não senta na mesa do boteco com eles, mas olha, de longe, imaginando o que mais acontece ali. Vai além.
Vejo como um tipo de conto que parece simples, quase despretensioso. Mas que trata de muitos assuntos, de forma discreta. Pra mim, tem muito mais do que parece. Desde o título. Até algumas palavras-chave que nem precisam estar entre aspas, o contexto e o enredo se encarregam disso. Sutileza ácida.

MeninaMisteriosa

Guilherme Freitas disse...

Muito bom, um final inesperado...
Parabéns

Gustavo Martins disse...

QUEM VOCÊS ACHAM QUE, NESTE CONTINHO, MAIS MERECE APANHAR?

(estudo sociológico - é pra responder, tá?)

Moska de Bar disse...

É velhão... os juninhos nunca sabem ou fingem bem pra caralho...rs
Tem zagueiro que é bom de chapéu. Abraço.

Vampira Dea disse...

Ah! Ninguém precisa tomar porrada, tá todo mundo feliz e felicidade é coisa rara.Deixa o povo.

José Renato Cella disse...

Ninguém merece apanhar.

Afrodite disse...

Quem disse que corno é sempre o último a saber?
Por vezes é o primeiro,mas finge que não é nada...foi cisa que lhe colocaram na cabeça...hahahaha
Beijo!

vinícius disse...

futebol, sacanagem, interior de SC, um cara de nome estranho e outro chamado JUNINHO. esse foi david coimbra cover.

Luna Sanchez disse...

Genival é artilheiro?

Só merece apanhar quem resolver abrir a boca e estragar a rotina da turma.

ℓυηα

maria disse...

povo que comenta no tuíter 0/

eu mandava porrada no eventual observador externo só pra ele largar de tomar conta da vida alheia.

Anônimo disse...

deixa o Juninho...ele é aquele tipico corno 'por gosto'...ele deixa a coisa rolar, nem atrapalha...

Raphael Pereira disse...

Belo conto, feito com a mestria de quem já tem história. Gosto da maneira como o texto leva o leitor, na malandragem, numa proximidade com o discurso oral contado na mesa do bar.

O Genival morava perto do futebol, hein? rsrs.

Gustavo Martins disse...

Menina Mistérios - Exato, bela. Tem mais histórias contadas por trás desta do que pode-se perceber numa leitura rápida

Guilherme - Sabe que, de certo modo, acreditamos ser esta uma das histórias mais "cotidianas" recentemente publicadas no MCP? COtidianas no sentido de serem fáceis de acontecer no dia-a-dia

Moska - Zagueiro bom de chapéu de touro

Vampiradea / Cella - Adoramos pessoas alto-astral como vocês! Bebemos dessa alegria

Afrodite - Mostre mais desse seu lado cruel...

Vinicius - Obrigado por nos apresentar o David Coimbra. Sensacional! Vamos acompanhar!

Se conhecer o cara, recomende o MCP pra ele também! Em particular esse "Amor e futebol"

Luna - Pra você, nem precisa pedir pra você mostrar o lado cruel!!!

Maria - Tá, mas alguém tem que contar a história, né?

Partindo desse seu comentário, nos desafiamos a contar esta história num outro formato: teatro. Vamos ver sea preguiça nos autoriza

Matuto - Nos dois casos, sabendo ou não das travessuras do Genival e de sua amada, o Juninho é um cara feliz

Projeto Euclides (interessantíssimo projeto) - Mesmo com 500 mil habitantes, Joinville é uma cidade menor do que se imagina

Felipe Carriço disse...

Para o Juninho esse era o preço de uma cerveja com os amigos.

Raoni Moura e Carolina Abed disse...

É juninho corninho... cada um faz suas escolhas... para o juninho talvez fosse apenas questão de dividir o amor.

Fábio disse...

Boa história, simples e direta. Saquei o final no segundo parágrafo, mas não tirou a graça.


Abraços.

vinícius disse...

gustavo, não conheço ele pessoalmente. mas se bobear, mando pra ele mesmo assim.

ele escreveu já livros inteiros de contos só de futebol, mulher, sexo, etc. aconselho a dar uma catada no "A cantada infalível/A mulher do centroavante".

Tata disse...

Sobre levar umas porradas, acho que nem precisa, mulher que deixa homem jogar bola, o homem que sai pra jogar bola e deixa mulher sozinha = ambos sabem do risco que correm.