segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Confissão avessa

Vocês podem achar estranho ou até duvidar, mas teve uma época que resolvi sair por aí pelas ruas salvando pessoas. E o que me afastou dessa lida de super-herói é que inúmeras vezes os que estavam sendo salvos é que me afastavam. Sem querer eu causava ojeriza neles. Descobri que na essência o ser humano quer se salvar sozinho. Aqueles autônomos, que pensam, claro.

Larguei a capa e a máscara e fui cuidar da minha libido, que dói bem mais em mim que a dor do mundo.

:: 05.11.2012 ::

3 comentários:

Valéria disse...

Já tive essa experiência de perceber que as pessoas precisam, mas não valorizam nada a ajuda quando ela chega. Não tenho a certeza de ser sobre a questão de querer se alvar sozinha. Acho que tem também uma coisa de querer manter e trazer o lixo para dentro. De gostar da sarjeta. E de optar pelo desajuste.

Gustavo Martins disse...

Me lembraram de uma fábula budista, diz que uma escritora "conteou" sobre. A ideia é mais ou menos a seguinte: um macaco passa perto de um rio e vê um peixe lá dentro. O peixe está nadando, feliz da vida, mas o macaco, por não conhecer e por não saber que pode haver algo diferente da vida que ele leva, acha que o peixe está se debatendo, que vai morrer afogado. Daí, o macaco, achando-se benevolente e querendo ajudar o peixe, retira o peixe da água. E mata o peixe "afogado". O macaco ainda se culpa por não ter chegado antes, ele continua não entendendo. Ele não sabe que existe algo diferente, não compreende que algo que não é bom pra ele pode ser bom pro outro. Acredita que todos serão felizes só como ele (o macaco) é.

O peixe morre pelo equívoco de alguém que só vê o próprio umbigo e que acha que está prestando um grande favor, fazendo uma grande ajuda.

Grande parte das "ajudas" consiste em impor algo ao outro.

"So don't you surrender
Cause sometimes salvation
In the eye of the storm"

Valéria disse...

Então, antes de ajudar, melhor ter certeza de que não somos macacos...rs Muito boa história, Gu.