sexta-feira, 26 de junho de 2009

Pequenas perversidades do destino

O amigo Azec Sarmint (não é de origem da Ásia ocidental não, é pseudônimo isso) sempre teve resistência a obras de ficção. O lance dele sempre foram livros técnicos e documentários. O resto achava que era meio que perda de tempo. Mas tudo muda, e agora ele se arrisca na ficção (ficção? tá parecendo bem real essa história!). Está aí a contribuição do nosso amigo, para vocês verem se ele tem talento.

Voar é bom.
O ônibus especial para transporte de passageiros ao aeroporto sai quase lotado.
Vou nele. Eu e mais algumas dezenas de outros brasileiros e estrangeiros rumo a tantos destinos possíveis.
E eis que a graça divina me contempla com a companhia de uma morenaça, mui a meu gosto.
Cabelos pretíssimos tocando os ombros, olhos amendoados. A ausência de qualquer maquiagem só fez bem à morenice daquela pele de um acetinado irreparável.
Talvez ainda influenciado por minha recente viagem ao Mato Grosso do Sul, vejo nela uma estonteante e selvagem, porém doce, beleza pantaneira.
Pernas torneadíssimas e um discreto balançar do seios, no compasso dos movimentos do ônibus, dão-lhe aquele toque de atratividade que, por um momento, nos faz querer ajoelhar e pedir-lhe a mão. E suplicar todo o resto."Para onde vai a diva monumental?", pergunto-me em silêncio angustiado.
O ônibus chega ao aeroporto. Descemos e dispersamos.
Aeroporto vai, aeroporto vem, não dá meia hora e já estou na fila do check-in.
E quem comigo, uns poucos passageiros atrás na mesma fila?
Ela.
Tá bom, a fila é única e seria pouco provável tê-la em meu vôo. Mesmo assim, nutro alguma ingênua esperança de manter sua beleza ao alcance dos olhos, ainda que apenas de soslaio, e sob a envergadura de um sonho fugaz e tão passageiro quanto eu mesmo estava por ser.
Esperança que se calienta quando o funcionário da companhia aérea repassa a fila, indagando destinos, no afã de apressar os embarques.
- Aracaju, vôo 3511 - diz ela.
- Jesus! - pensei. - É o meu! Alguém lá em cima vai mesmo com a minha cara!
A fila anda e a funcionária do check-in me chama. E-ticket, localizador e RG em mãos, apresento-me prontamente.
- Senhor, não vejo sua reserva no sistema.
- Não é possível! A empresa que me contratou enviou a passagem por e-mail. Olha aqui!
- Senhor, estou vendo. O seu nome é Azec?
- Sim... quer dizer, não! Meu nome é José; Azec é o apelido.
- Senhor, não posso autorizar o embarque porque a passagem foi emitida contra seu apelido, não seu nome.
- Bem, olha... - Tentei argumentar, mas não havia argumentos. Por haver trabalhado em aviação na juventude, eu sabia que essas normas são rígidas e que não adiantaria querer argumentar, por maior que fosse o brilho dos meus raciocínios.
- (Nããão! Não é possível! Isto não está acontecendo!) Ok, senhorita, você tem razão...

Três dias depois...

Estou na saleta de internet do hotel em Aracaju. Por três dias, olhei para todo lado, até para dentro dos carros que passavam na rua.
Nada. Não mais a vi.
Daqui a pouco, vou para o aeroporto. Hora de voltar para casa.
Muita coincidência encontrá-la novamente numa fila de embarque, com destino a São Paulo. Se isso acontecer -- e será ganhar na loteria -- ao menos sei que minha passagem estará válida, desta vez.
E que a sorte nos acompanhe.

40 comentários:

Altavolt disse...

Sensacional o texto do Azec, principalmente por ter descrito a morenaça de forma tão apetitosa. Pena a sorte só tê-lo deixado com água na boca e falhado na hora H! Coisa típica de Rollinbund. Me identifiquei deveras! Abraços ao Gustavão e ao cronista!

Vampira Dea disse...

Ok. E daí? Normal,homem descrevendo mulher,que tem demais? achei fraquinho.

Fernando Ramos disse...

...

Vampirinha, isso não foi um comentário. Foi uma marretada no saco. ;)

Gostei da descrição da moça. Ela tem bunda grande? kkkkkkkk.

Camilla disse...

É né, o destino sempre pregando peças. Eu tenho medo do destino...

Beijos
(sumi, mas voltei)

Ragas disse...

o cara escreve bem, mas tinha entrado no clima para ver um "ripa na chulipa e pimba na moreninha" e acabei vendo um cara solitário que, muito provavelmente, acabou com o papel higiênico do quarto.

Abrazzo Ragazzo

nin disse...

humm... ok...acho que tá bonzinho para quem só se identifica com leitura técnica... porém, não muito a ver com a imaginação da clientela desse blog. Concordam comigo???
bjos

Anônimo disse...

Concordo com a nin. Muito meloso e solitário pro meu gosto. Contribuição pro blog errado, rrsrssrsr.

Mas, parabéns pela contribuição. Está no MCP não é pra qualquer um. ^,^

Beijos ú&e

Gustavo Martins disse...

alta / fernando - concordamos com vcs; achamos um primor a descrição; mexe com o brio do homem; aquele detalhe dos seis balançando, então... coisas que só um VERDADEIRO apreciador tem sensibilidade pra se emocionar com

vampiradea / nin@ - TOCO! vamos chamar o azec pra se defender ele mesmo

camilla - que bom que voltou, bela! sumiu porque? arrumou namorado?

e pra provar que o destino prega peças... VC VOLTOU!

ragas - se tivesse terminado bem, cremos que não seria MCP; a crueldade tá justamente nisso

ú&e - exatamente; assim como nossos leitores (TODOS), os amigos que contribuem são criteriosa e deliciosamente selecionados (sem sentido malicioso)

ou seja: só publicamos aquilo que realmente gostamos

Renatinha C4 disse...

Eu gostei. Sou romântica e adoraria saber que um homem teve este tipo de pensamentos a meu respeito (admiração pela minha beleza ao cúmulo de notar detalhes, desejo, angústia... ansiedade, vontade de me encontrar de novo). Ai ai... quem sabe um dia né?

Mas concordo com os colegas leitores... nada a ver com o MCP.

Tente um blog seu e depois mande o link. Gostei do seu estilo dramático.

Azec Sarmint disse...

Caros MCPnautas,
fico feliz com as suaves pancadas; houvesse unanimidade, eu me frustraria profundamente e Nelson Rodrigues corcovearia no caixão.
Um dos leitores frustrou-se por eu não haver comido a mocinha, no final. Ora, há perversidade maior do que babar de vontade por um quitute e não poder saborear? Lamento entristecê-lo, mas sustento o final do texto.
Outros disseram que o texto não se coaduna com o espírito do MCP. O blog pertence ao Gustavo e ele decidiu publicá-lo. Mas o blog também acaba por pertencer aos leitores, cuja assiduidade lhe dá razão de ser. Fica no ar, portanto, uma dúvida aristotélica: "o texto é ou não é, afinal, digno de ser publicado no MCP?"
Aproveito para mandar um recado para a doce e gentil Renatinha C4: tenha certeza, minha cara, que seria uma honra poder descrever-lhe delicadamente, baixinho, os pensamentos mais íntimos, intrigantes e inconfessáveis que sua presença certamente me provocaria.
Abraços a todos e meus agradecimentos pela atenção dispensada às minhas humilíssimas palavras.
Azec Sarmint

Gustavo Martins disse...

Renatinha:

Uma pergunta: esse C4, tem a ver com uma marca de carro?

Gustavo Martins disse...

Rá! Olha aí! Eu e o Azec publicamos juntos!!!!

Comece a polêmica.

Renatinha C4 disse...

Gustavão, C4 é um explosivo plástico de largo alcance. Campeão de vendas entre os terroristas. Sacou?

Azec... afinal não sou tão doce assim... mas estamos aí.. hehehe

Fernando Ramos disse...

Eu acho que tem a ver com o MCP, sim, oras!

O MCP, além de perversidade objetiva, também tem sutilezas. Podem ler os textos mais antigos. (Essa puxada agora mereceu um afago na minha pessoa, hein, Gustavão! Hehehe).

Francamente, eu não havia sacado a perversidade do conto, mas sim, sua licenciosidade subjetiva (hã?), porque é fato que quando vemos uma moça deste porte, com seios daqueles, ou nos apaixonamos, ou queremos....bom, deixa pra lá. ;)

P.S.: Gustavão, roubei mais uma ideia sua, ok? Abri meu twitter e além de devaneios, tenho feito alguns microcontos por lá. Espero que não se importe. :)

Altavolt disse...

Acho que faltou sensibilidade à mulherada para sacar o tamanho da perversidade que é, para um homem, ficar na mão em uma situação dessas. Detonaram o Azec, sem dó nem piedade, mas ainda continuo solidário ao cara! Nós fazemos de tudo para entendê-las, mas elas também precisam se esforçar um pouco para nos entender!

Sweet Toxicant disse...

Caracas... tesão platônico é foda!!
Ou melhor, não é foda né.. nem fodeu.. hahaha

Tadinho do amigo! Ficou só na imaginação e na automanipulação mesmo.. rs

Gostei do conto!! Eu entendo razoavelmente o universo masculino, considerando que 99% dos meus amigos são homens, acabo aprendendo... rs. Então, posso imaginar o que o amigo passou de frustração.. isso é crueldade suficiente, pra quem ficou na super expectativa de conseguir algo com a morenaça monumental.. rs

Gustavo Martins disse...

renatinha - resposta melhor que a do azec, não conseguiríamos formular

mas o lance de C4, explosivo de alta tecnologia... andamos meio por fora dessas perversidades terrorísticas

azec - amigão, de nossa parte, sem bordoadas, ok? somos fanzocas do conto (bem ao estilo das crônicas do fernando sabino, aliás)

fernando - ima\gina, amigão: na blogosfera nada se cria, tudo se copia; agora...

nada como mandar trazer pra brasília seu exemplar do MINICONTOSPERVERSOSOLIVRO pra deixar um contista "influenciador" feliz!!!

alta - nem é perversisdade, amigo; trata-se da arte da apreciação; de buscar a beleza além do que os olhos enxergam, é tocar com os olhos, sentir, confundir sentidos; até agora estamos sentindo como estancar aquele balançar com a boca!!!!!

sweet tox - se entende -- o que achamos maravilhoso --, vista-se do papel da morena e acabe com a tristeza desta macharada desiludida que povoa a MCP!!!

Fernando Ramos disse...

Fim de mês, meu querido. Quando for a hora, providenciarei o teu e o da Bruxinha. :)

Sweet Toxicant disse...

Tá bom... aí vai:

À espera de um milagre.

Minha última viagem de férias trouxe-me uma esperança recheada com uma desilusão.
Resolvi passear em Aracaju, devido às propagandas de quem foi e gostou. Não me sentiria uma estranha no local, devido à minha pele morena, cabelos que denotam minha herança indígena. Estranha eu me sinto é aqui em São Paulo.
Pois bem. Eis que estou no ônibus que leva os passageiros até o aeroporto, e noto ao meu lado um rapaz de beleza exótica. Cabelos Ondulados, médio comprimento, peitoral que dá pra imaginar pelo desenho que faz na camiseta. Notei que ele me olhava, fiquei esperando que fizesse alguma aproximação. Não fez. Chegamos ao aeroporto, distraí-me olhando uns folhetos, então quando percebi, poucos metros à minha frente estava este rapaz na mesma fila em que eu estava para o check in. Ficou me olhando disfarçadamente, mas tão disfarçadamente que não consegui identificar se estaria deveras interessado. Continuei aguardando. Para infortúnio da esperança que eu tinha de encontrá-lo dentro do avião (visto que ele ia também para Aracaju), o seu bilhete fora emitido com um nome diferente, e perdemos a chance.
Passei meu tempo em Aracaju procurando por ele enquanto visitava os lugares e para minha surpresa o encontro novamente no aeroporto também voltando para São Paulo. Desta vez o bilhete estava correto. Vejo-o no avião umas poltronas à minha frente, do lado do corredor. Dou um jeitinho de passar por perto, ele está cochilando. Coloco um bilhetinho com meu telefone e volto para o meu lugar.
Chegando a São Paulo, então ele me nota. Lanço um olhar provocador e saio rapidamente.
Agora torço que ele tenha encontrado o bilhete e tenha ao menos coragem de me ligar, já que não teve de se aproximar.

(É gente.. eu gosto de dificultar um pouco... rs)

Altavolt disse...

Grande Sweet! Bela versão feminina da situação!

Gustavão: Essa de estancar o movimento dos seios com a boca matou a pau! Tocar com os olhos, então!

Sweet Toxicant disse...

Concordo com vc, Alta... a imaginação é duca...
O Gustavo mandou bem na interpretação... rs

Renatinha C4 disse...

É... o Azec é realmente bom de texto e de resposta... fiquei ligeiramente interessada em saber os pensamentos íntimos, intrigantes e inconfessáveis que a minha presença certamente lhe provocaria (?)... quem sabe uma hora dessas ele não mata essa minha curiosidade... TUDO PELA ARTE!!!

Renatinha C4 disse...

Com relação ao C4... mais uma metáfora relacionada a minha personalidade um tanto quanto explosiva e ao meu momento presente... nada a ver com terrorismo. Mas... na dúvida, é melhor ter cuidado.

Anônimo disse...

Gostei da explicação do Azec . Mas, ainda continuo com minha opinião. Não vejo perversidade em homem ficar na vontade. Se interessou tinha dado um jeito, 3 dias depois é que vai pra Aracaju, tenha santa paciência.

Sweet- tem uma sacada boa, ohh garota esperta. Parabéns!! [já fiz algo parecido e deu certo, rs]

Beijos ú&e a todos.

Vampira Dea disse...

KKKKKKKKKKKKKKKKKK (risos) Adoro isso aqui! O Azec falou bonito. E Nelson Rodrigues já falou sobre essas coisas de unanimidade "A unanimidade é burra". Não concordo que "toda unanimidade" seja, mais algumas são, afinal gosto é igual a * cada um tem o seu não é mesmo? E uma polêmicazinha de vez em quando é legal tb, Tomara que venham muitas contribuições e do Azec tb, beijão pra todos e todas.

Fernando Ramos disse...

Sweet: excelente, hein! Aliás, percebe-se que a morena estava muito mais interessada no cara, do que ele nela, pois conseguiu descobrir que ele fez tudo errado com a passagem. Imagino que rolou um bate-boca no check in, e não aquela coisa contida e mentirosa que o Azec falou. Hehehe.

Só fiquei na esperança de um escorregão dela caindo no colo dele na hora que viu o coitado dormindo. Aí sim, queria ver o cabra não fazer nada! ;)

Nacci disse...

Textos geniais. Se quiser transformar algo em quadrinhos, de um toque...

Sweet Toxicant disse...

Nãooo Fernando!
Acha que eu ia facilitar assim, é?

Se fica tudo muito fácil pro homem, o interesse acaba fácil também... não não.. rs

Ives Nelson disse...

Muito bom, ambos os textos! Pode até não se enquadrar no perfil do MCP (como muitos disseram), mas quanto à qualidade do texto (principalmente a resposta da Sweet) incontestável!

Azec Sarmint disse...

Detonante Renatinha, capaz de explodir os corações do amantes e fazer sonhar os insensíveis, qual não seria minha honra poder afagar-te os ouvidos com palavras doces, enrubescer-te as faces com propostas apaixonantes, dilacerar-te o espírito com a brasa das paixões ofegantes.
Ai, ai, ai... quão doce seria...
Mas... bem, continuemos em frente nesta nossa vidinha polvilhada de ars gratia artis.

Afetuosa e sinceramente,

Azec, o teu Cyrano de Bergerac

Renatinha C4 disse...

Azec... desculpe-me se estiver blasfemando, mas algo me diz que o teu gênero é o mesmo que o meu... sei lá... riqueza e sutileza nos detalhes... palavras cuidadosamente escolhidas... fantasia exacerbada... bom demais para ser verdade... bom demais para ter sido escrita por alguém da espécie varonil.

De qualquer forma, gosto muito de poetas e livres pensadores... como Cyrano... Voltaire... ah Voltaire...

Anônimo disse...

Textos muito bons!
Azec, parabéns pela estreia aqui no MCP!
Sweet, você está certíssima! Gostei!
Beijos

Renatinha C4 disse...

Uma pergunta a Azec: você se intitulou Cyrano de Bergerac em razão da peça de Rostand (na qual Cyrano era um homem apaixonado, que tinha o dom da palavra, mas muito feio para se declarar a sua amada), ou em razão de que o próprio escritor amava assinar suas obras com pseudônimos vários?

Azec Sarmint disse...

Regininha C4,
cujo epíteto é, no meu modesto entendimento, nada mais que uma forma ingênua de tentar esconder a incalculável doçura do espírito, de modo a reservá-la apenas aos muito bem iniciados na nobre arte da sedução.
Ah, quem dera fosse eu um deles!
Mas qual! Tenho, se muito, a ingenuidade de um Cândido de Voltaire, na procura eterna do seu Eldorado interior. Um eldorado, quiçá, somente encontrável ao deparar-me com a tua presença.
Rogo aos céus esta graça.
(E, sim, doce flor, sou varonil.)

Renatinha C4 disse...

ai ai ai Azec... começaste muito mal... trocaste meu nome... e isso, por si só, já é um crime de pena perpétua. Por outro lado é prova, mais que contundente, de que és homem sim. Desculpe-me o equívoco.

Gustavo Martins disse...

"Regininha", rárárárárá

Esse Azec é um mané mesmo!

Aliás: GET A ROOM!

Renatinha C4 disse...

desculpe-me a falta do "s" em começaste e trocaste se houver... é que confundo com o espanhol...

Gustavo Martins disse...

Renatinha - você, temos certeza que todos vão perdoar

o Azec ter trocado seu nome, não!

Azec Sarmint disse...

Putz... ahahahahaha.... sorry!
Termina aqui minha carreira de galanteador! :-)

Regininha C4 ;-) disse...

É... acabou mesmo. Mas como amigo, para um bom bate papo serve. Quem sabe um chopp no boteco uma hora dessas?