
Alguém sabe dizer de que artista dos quadrinhos é essa ilustração? É do tempo da Penthouse Comix - óbvio que o balão é uma intervenção sarcástica nossa.
As divas dele sempre eram retratadas com essa roupa S&M super erotildes.
Ontem eu comi caco de vidro. O prato estourou com a comida no microondas e como não tinha mais nada na geladeira (despensa? o que é isso?), e eu alucinado de fome, separei os cacos da comida como deu. Depois, cada garfada foi incansavelmente mastigada à caça dos caquinhos menores, justamente os mais afiados. Alguns consegui filtrar nos dentes e na língua, saiu um pouco de sangue, senti o gosto na comida. Proteína que sai, proteína que entra.
Eu já tinha parado com o aguardente mas tive que tomar mais por causa da dor. Não parava de pensar naquelas pessoas que engolem pregos, alfinetes e bolas de gude. Concluí que meu caso não era tão grave.
Em algumas engolidas senti descerem alguns poucos cacos fujões que me rasparam a garganta. Quando acabei tinha um punhado de cacos avermelhados apartados e azia acima do normal, o que é grande coisa já que vivo com a maldição do estômago temperamental.
A rapaziada da turma de faculdade do primo do Zé teve a idéia genial de fazer a festa de formatura numa casa de tolerância. (leia mais)
Quem conhece mercado do interior sabe a bagunça que é. Pilhas de caixas de entrega abarrotadas com compras do mês pra todo lado, a molecada ranhenta zanzando com tubinhos de suco de plástico que imitam carros, na porta uma máquina de sorvete italiano (aquela espuminha gelada meio sem gosto), tudo uma delícia. E eu angariando fundos para a viagem ao Rock In Rio.
Alguns dos momentos mais divertidos que eu tive era quando meu tio Gatão (o caçula do padrinho) me levava junto para fazer entrega das compras nos sítios de kombi. De tempo em tempo parávamos em algum boteco para "calibrar" (na época eu ficava ainda no guaraná) e, na volta, a kombi vinha carregada de manga, jaca, limão galego, carambola etc. que ele ganhava pra distribuir para a familiagem.
Antes de chegar ao mercado o Gatão dava uma parada na zona para conferir o material. As moças se divertiam comigo porque me achavam inocente, isso porque não liam meus pensamentos quando me davam umas pegadas pra provocar: "Olha que lindão!"
Quando acabava o expediente estafante de fazer pacotes e carregar caixas, às vezes o primo Juninho (do outro lado da família) me levava para ver umas pernocas na cidade. Teve um dia em que ele parou num posto de gasolina, foi direto num freezer horizontal e tirou uma cerveja peluda. Pra quem não sabe, é quando a garrafa fica branca de gelo ao redor. "Hoje você aprende a tomar cerveja", provocou.
Não precisa ser muito entendido para saber que uma garrafa naquele estado congela ao abrir. Mas o Juninho tinha um truque de punhetar o gargalo para tirar o gelo e cuidadosamente virar a garrafa de cabeça pra baixo antes de abrir. E só segurar a garrafa pelo gargalo (nunca pelo corpo) ao servir. Eu nunca tinha gostado da bebida amarga, mas a visão daquele copo amarelo brilhante e a sensação do líquido gelado descendo pela garganta (Lins é uma cidade muito quente e abafada) mudaram alguma coisa dentro de mim para sempre.
Beirando os quinze anos fui seduzido pela promessa de woodstock pós-moderno do Rock In Rio. A família sabia que não adiantava proibir, então o jeito foi dizer que não havia fundos para patrocinar. Apelei para o padrinho lá no interior de São Paulo, que sintonizado com o processo de construção de caráter em andamento lá em casa (sinceramente, não surtiu efeito) propôs que eu trabalhasse no mercado que ele gerenciava.
Mal acabaram as aulas peguei o ônibus Curitiba - Marília com baldeamento Marília - Lins num catajeca daqueles com sacos de hortifrutigranjeiros e galinha viva dentro. Fiquei instalado no conforto da casa do padrinho, mas trabalhando todo dia das nove às seis fazendo de tudo um pouco, principalmente de pacoteiro na frente do caixa, bem naquela época boa que antecede o natal.
A diversão dos colegas era provocar o "bicho de goiaba" (eu era branquela e comprido) a executar tarefas menos básicas, como erguer saco de 30 kg de café. Existe um jeito pra que seja fácil (ou possível), mas eles só ensinavam depois de rir bastante das minhas trapalhadas. Esses momentos foram grandes motivadores dos anos de estudo sério que se seguiram.
Como era passatempo pra mim, eu geralmente ficava por ali todo solícito. Uma senhora bem velhinha e caipira me chamou e disse "Filho, ocê pode me dar uma fuinha?" Eu não entendi e ela repetiu: "Pode me dar uma fuinha?"
Enquanto eu continuava tentando associar que produto remetia àquele mamífero de pequeno porte de cara pontiaguda, um dos colegas mais experientes suspirou fundo, deu uma corridinha, pegou alguma coisa e jogou sobre o balcão. Era um calendário. A velhinha agradeceu com um sorriso sincero e banguela. Eu demorei uns cinco minutos para entender e quase me mijei de rir quando caiu a ficha.