Quem conhece mercado do interior sabe a bagunça que é. Pilhas de caixas de entrega abarrotadas com compras do mês pra todo lado, a molecada ranhenta zanzando com tubinhos de suco de plástico que imitam carros, na porta uma máquina de sorvete italiano (aquela espuminha gelada meio sem gosto), tudo uma delícia. E eu angariando fundos para a viagem ao Rock In Rio.
Alguns dos momentos mais divertidos que eu tive era quando meu tio Gatão (o caçula do padrinho) me levava junto para fazer entrega das compras nos sítios de kombi. De tempo em tempo parávamos em algum boteco para "calibrar" (na época eu ficava ainda no guaraná) e, na volta, a kombi vinha carregada de manga, jaca, limão galego, carambola etc. que ele ganhava pra distribuir para a familiagem.
Antes de chegar ao mercado o Gatão dava uma parada na zona para conferir o material. As moças se divertiam comigo porque me achavam inocente, isso porque não liam meus pensamentos quando me davam umas pegadas pra provocar: "Olha que lindão!"
Quando acabava o expediente estafante de fazer pacotes e carregar caixas, às vezes o primo Juninho (do outro lado da família) me levava para ver umas pernocas na cidade. Teve um dia em que ele parou num posto de gasolina, foi direto num freezer horizontal e tirou uma cerveja peluda. Pra quem não sabe, é quando a garrafa fica branca de gelo ao redor. "Hoje você aprende a tomar cerveja", provocou.
Não precisa ser muito entendido para saber que uma garrafa naquele estado congela ao abrir. Mas o Juninho tinha um truque de punhetar o gargalo para tirar o gelo e cuidadosamente virar a garrafa de cabeça pra baixo antes de abrir. E só segurar a garrafa pelo gargalo (nunca pelo corpo) ao servir. Eu nunca tinha gostado da bebida amarga, mas a visão daquele copo amarelo brilhante e a sensação do líquido gelado descendo pela garganta (Lins é uma cidade muito quente e abafada) mudaram alguma coisa dentro de mim para sempre.
:: 06.08.2008 ::