
Mãe é especialista em lembrar coisas que a consciência nos abençoa ao apagar.
De noite levanto e vou ao banheiro, faço xixizinho tranquila, olho para baixo e vejo uma daquelas do tamanho de uma bolacha champanhe. Grito inevitável. No desespero arremesso o tubo de desinfetante. A nojenta aparentemente morre, mas devagar começa a mexer a antena, passos trôpegos em meio à poça azul de desinfetante que começa a se formar. Meu pânico aumenta e o dela também, fugir é a salvação de ambas. Calcinha entrepernas, procuro a maçaneta mas a porta está trancada. Grito de novo. A barata corre pra lá e pra cá provavelmente me achando maluca. Tento "desbaratinar" e analiso uma possível rota de fuga ou enfrentar o inevitável: esmagá-la com pé descalço. Então, do nada, um impulso toma conta de mim, pego a barata com as pontas dos dedos, coloco na boca e mastigo. O líquido branco me escorre entre os lábios...
Acordo assustada e vou ao banheiro, mas deixo a porta aberta.
:: 13.06.2003 :: Ilustração do cartunista Bennet (http://www.bennet.com.br/)