sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Meu melanoma Dagmar

Discreto porque desgraçadamente nasceu entremeio à tatuagem que cobre meu ombro esquerdo. Quando percebi já estava volumoso e invasivo. O motivo de dar um nome eu já explico, mas Dagmar é porque não tem como saber se a natureza de um melanoma é masculina ou feminina.

As bordas vermelhas denunciaram ao dermatologista que realmente se tratava de um "maligno". Ele requisitou uma biópsia há quatro meses, mas me abstive de fazer. Não faz diferença saber, não há motivo para extirpar Dagmar. Isso me abre grandes perspectivas, principalmente a de não ter mais medo e a de deixar de lado minha avareza. Traduzindo, Dagmar será meu grande companheiro na nova aventura de fazer tudo que der na telha e aproveitar em grande estilo até meu último centavo.

Tem muita lógica nisso. Tenho vários amigos, mas eles todos andam tão pacatos e inertes ("Estão amadurecendo, coisa que você devia fazer", já me disseram), numa linha de conforto absurda que os afunda justamente na tendência natural do ser humano ao descanso eterno. Ou seja, o corpo pede e eles aceitam se acomodar em direção ao "leito de morte". Aí entra Dagmar como companhia fiel. Porque deixar o melanoma se espalhar e passar tardes ensolaradas de sábado na frente de uma televisão são atitudes muito parecidas, mais do que você possa pressupor.

:: 27.01.2010 ::

12 comentários:

Gustavo Martins disse...

Enquanto "a musa" não traz uma solução plausível para o perrengue Maçarico x Maçaneta, e para não deixar as amadas leitoras e os caros leitores na mão...

Unknown disse...

vc resolveu criar um/a companheiro/a para passar o tempo...
não?!?!

autor disse...

é
me parece que por 2012 ou pelo melanoma..
o negócio agora é comer e se não gostou cospe
[mas tá, beeem mais legal se o motivo tem um nome. bem mais legal]

Noh Gomes disse...

Companheira fiel essa.

Medo

Vampira Dea disse...

Desculpa para fazer tudo que der na telha e com uma companhia perfeita, essa vai até a morte com ele.

Gustavo Martins disse...

jils - nós? não... o personagem/narrador do conto é que fez; e... sim, um daqueles companheirinhos com quem a gente fica conversando que só a gente vê quando está sozinho

cassiana / vampiradea - autodestruição é pouco, babes

noh - TENHA

só pra constar, "a musa" passou por aqui e nos presenteou com o desenlace da trama maçarico x maçaneta; sensacional; mas agora este já está no ar, portanto, amadas leitoras e abjetos leitores, MORRAM DE ANSIEDADE

Carol disse...

Um dos melhores contos que já li. Gosto da mistura e da intensidade.

Quase triste o personagem/narrador 'precisar' da [o] Dagmar para fazer o que der na telha, para abrir perspectivas e perder o medo.

Quase porque, triste mesmo, é perceber que algumas pessoas optam pelo descanso eterno, em vida. Isso sim, dá medo.

Quanto à lógica, nem se discute. Concordo em todos e com todos os meus sentidos.

Luna Sanchez disse...

Formas e formas de morrer, só escolher.

Gostei, moço.

ℓυηα

Maria disse...

a principal diferença é que a tv pode ser desligada a qualquer momento.

Eraldo Paulino disse...

Parece mesmo que vivemos no universo dos descartáveis.

Interessante!

Gustavo Martins disse...

carol - NA VIDA? poxa, assim a gente não "se aguenta em si"; isso de perder o medo é uma arte, bela; para poucos

Luna - que bom, bela; ainda mais que desta vez sua inocência não se chocou!

Maria - a tv pode ser desligada; o crack pode ser deixado de lado; e os cigarros, bem, é só parar

almoço hoje?

Eraldo - inclusive a vida, querido; compra-se na gôndola do supermercado e a embalagem, assim que sacada, dá pra jogar logo ali (mas de preferência separando os mkateriais para reciclagem)

Lelli Ramz disse...

Só vc mesmo, não cansooo nunca!!!


rsrs de t lerrr....lerrrr


bjinhus lindo

Lelli