terça-feira, 15 de junho de 2010

Banquete

Abrimos a SEMANA DAS CONTRIBUIÇÕES com a querida amiga (e intensa) Flávia Brito. Mesmo estando sumida, é desnecessário apresentá-la aqui. Curiosidade sobre ela? Notem que nos contos antigos sempre há um comentário deletado pelo autor. Não me perguntem porque, mas na época ela apagou TODOS os comentários que havia feito no MCP. Eita menina complexa!

Serviu-se de uma modesta porção de um qualquer-coisa-vegetal da qual mordiscou não mais que dois tomates-cereja, apenas para não parecer tão enfastiada e para confraternizar com os outros convidados - afinal de contas era o casamento da melhor amiga, fiel companheira de aventuras e dietas, e ela merecia aquela incontestável prova de consideração e renúncia. Por pouco não sucumbiu à tentação de cair de boca na musse de chocolate; foi salva pela sua habilidade com números, que lhe permitiu converter, em uma fração de segundos, o valor calórico da guloseima em quilogramas desconfortavelmente aboletados na cintura e nos quadris. Horripilante, mesmo enquanto hipótese. Afastou de si o tal cálice com o coração partido, é verdade, porém com o corpinho manequim 36 devidamente salvaguardado. Voltou para casa exausta, mas gloriosa. A noite fora sua, mais até do que da noiva, a amiga que lhe perdoasse o inegável e inevitável roubo das atenções. 

Descalçou as sandálias de saltos altíssimos, espreguiçou os dedos dos pés, endireitou a coluna e atravessou a escuridão rumo à cozinha - relembrando com orgulho a deliciosa sensação de ter cada pedaço do seu corpo devorado pelos olhares masculinos, mordido, reverenciado quase religiosamente por aquela coletiva, íntima e testosterônica salivação - acendeu as luzes: os vestígios do lanchinho pré-casamento, engolido às pressas para evitar uma possível orgia gastronômica durante a festa, ainda estavam espalhados sobre a mesa. Dois pacotes de macarrão instantâneo, três fatias de pizza de calabresa com muito queijo, quatro bombons Sonho de Valsa, um Mac Tasty com coca-cola e um pote de Nutella. Tudo devidamente vomitado, óbvio, afinal era preciso caber sem sobras dentro do vestido tomara-que-caia. Arrumaria a bagunça depois. Precisava mesmo era amansar a fome despertada pelos tomates-cereja, maldita hora em que abrira mão da espartana disciplina alimentar para engolir aquilo. 

Nem teria coragem de encarar a balança depois mas havia a fome, felicidade dava fome, vitória dava fome, tomates-cereja davam muita, muita fome. Além do mais, sempre havia o providencial expediente das dedadas na garganta para dar aquela consertadinha nos eventuais excessos. Deu de ombros e sorriu, feliz. Sentou-se no chão da cozinha, cruzou as pernas como uma criança e, triunfante, abriu a bolsa abarrotada de bem-casados (surrupiados com o máximo da elegância e discrição) e saboreou-os um a um, lambendo os dedos, em comemoração ao sucesso da sua aparição, repetindo para si mesma - enquanto se encaminhava ao banheiro já com o dedo em riste para concluir o ritual da noite - que ser diva, realmente, era coisa para poucas.

6 comentários:

Anônimo disse...

A Flávia é danada, escreve mt bem.!

Que dureza essa vida [de diva], rs. Acho que [ainda] não preciso disso, rs. Preciso? Mas, já copiei a ideia, Rs..rs..rs..

Bjos ú&e duplos na contista. =***

Mulher de Fases disse...

Texto divino!
Dá até para visualizar os tomates cereja.
Arrasou!!!
Abços

autor disse...

santos mistérios escondem essas mulheres!!!
muito bom!!!!!!!!!!!!!!

Flávia disse...

E ainda há quem não acredite em coincidências. Depois de sei lá quanto tempo sumida da internet e dos blogs (inclusive do meu), entro aqui pra matar as saudades e supresa: publicada hoje, em um dos meus blogs preferidos, uma contribuição minha, escrita há muito, da qual eu estava me lembrando dias atrás (como também estava me lembrando até com certo saudosismo do caso dos comentários deletados, hahaha).

Quase dois anos, né? Muita coisa boa pra lembrar e contar.

Obrigada pelo "intensa", "querida" e até pelo "complexa". E, principalmente, muito obrigada pela lembrança. Me deixou feliz, mesmo.

Beijo!

Vampira Dea disse...

Ai, ai, ai acho que sou bem feliz no final das contas, apesar de toda minha exuberância. No lugar dela talvez não fosse tão notada mas provaria de tudo, dançaria tudo, iria também invejar um pouco as beldades, só por poucos instantes antes de cair feliz na mousse de chocolate, pq vou dizer como diria o Erasmo "...se tudo que eu gosto é ilegal, imoral ou engorda". Fazer o que né (sem culpas e muito prazer).

Gustavo Martins disse...

Como a Flavinha mesmo comentou/meio que respondeu etc., vamos nos limitar a comentar o que é peculiar:

Marília - precisa não

Mulher de fases - os meus você não comenta, né?

Cassiana - olha só quem fala...

Fla - fala do motivo dos deletes, fala...

Vampiradea - isso sim é exuberância