sexta-feira, 14 de março de 2008

A mulher que comia pasta de dente - parte 2

Nossa amiga Cláudia P. Motta achou triste o final do continho original. E arriscou uma continuação, todinha dela, que publicamos aqui sem retoques. Nada mais justo, certo? Para quem está chegando agora, recomendamos ler antes a primeira parte, de nossa autoria, publicado há uns três dias atrás.

No caminho de volta, deixou-se guiar pelas ruas, sem rumo. Perdeu-se e já sem medo da perdição, começou a observar as casas, os transeuntes, a paisagem. Havia saído dos limites da cidade, estava em seu entorno, disso ao menos tinha certeza. Era uma estrada longa, porém estreita, de curvas acentuadas. Passou por um extenso e demorado muro branco e logo depois deparou-se com uma casa branca de esquina e viu, atrás de um bananal que ficava no acostamento de chão-batido, uma placa com dizeres em chinês. E sem saber por que, parou o carro. Desceu, beirou a casa e deu de cara com um portão, através do qual podia ver criancinhas de olhos puxados brincando e passeando de bicicleta. Chamou-lhe a atenção um jardim atípico para os padrões da região, que ficava ao lado direito da casa, que era ladeada por uma vasta varanda, cuidadosamente adornada por plantas variadas. Um contraste intrigante para um pátio livre, cujo chão era desenhado em círculos, preenchidos por pedrinhas soltas, ora brancas, ora de um suave rosa pálido. A menininha menor, olhando para cima, estendeu-lhe a mão e, sorrindo, apontou para uma pequena construção branca, que ficava do lado direito do jardim. Na porta, os doces olhos espremidos miraram o chão, ao mesmo tempo em que os pequeninos pés lhe empurravam um par de chinelos. Chinelos chineses, disso também tinha certeza. Da casa grande, viu que caminhava em sua direção certamente o pai, usando túnica oriental, de linho branco. De olhos fixos naquele homem, deixou cair as seringas. Na outra mão, em punho suado e fechado, as agulhas.

6 comentários:

Gustavo Martins disse...

Sensacional a contribuição. E chegou nossa vez de comentar como leitor.
1) Adoramos o estilo rebuscado da Claudinha.
2) Esse negócio de comer pasta de dente deve dar umas baitas alucinações na protagonista do conto. Vamos experimentar.
3) Entendemos (e mantivemos) os "olhos exprimidos" do verbo exprimir. Caso não seja, nos avise, Clau, que arrumamos.
Aguardamos novas e boas contribuições dos leitores, viu?

Em tempo: ontem não houve post porque estávamos em cativeiro (do tipo empresarial).

Mirian Martin disse...

Puxa, Cláudia! Eu esperava, na última frase, o tipo: "deixou cair de uma mãos as seringas e as agulhas e da outra, o tubo de pasta de dente".

Gostei do seu estilo!

Anônimo disse...

como eu disse, acho que merecia uma continuação... da continuação.

Zen, né?
OHMMMM

Lo

Anônimo disse...

Maravilhosa contribuição e estilo espero um "replay"...rs

Anônimo disse...

Mandou bem, Claudinha! Um blog democrático é uma beleza, não é?

beijo

Gustavo Martins disse...

Ok, obrigado a todos pelos elogios. E a todos os elogiantes, desafiamos: E SUAS CONTRIBUIÇÕES?