quarta-feira, 16 de abril de 2008

Estampa estraga-prazer


Mais uma sensacional participação/contribuição da amiga Cláudia Motta. Poucas vezes o ritmo e a construção da narrativa dizem tanto sobre a autora. Tremendo estilo.

Amândio sempre foi homem de despertar paixões. Disso Maria Júlia tinha certeza, o que ajudava a apaziguar uma certa sensação de impotência quando sentia ressurgir das cinzas do capacho pisoteado seus arroubos de constante demonstração de afeto. Ele podia sumir, escafeder-se por um longo tempo, desfilar diante de seu pobre coração a existência de infinitas outras marias, dizer-lhe por mil viéses que essa história já era coisa passada de tempos, exceto o tesão que, logicamente, é atemporal para homens feito Amândio. Mas nada disso aplacava uma necessidade latente, já alçada várias vezes por nossa personagem à categoria de distúrbio, de manifestar, vez ou outra, um "eu não esqueci de você".

E foi assim que Maria Júlia sucumbiu uma vez mais. Garimpava em um bazar de roupas fashions quando não resistiu às sungas de sempre. Gostava de presentear seu amor com essas pequenas lembranças, como que o incentivando a não perder o fôlego da longa jornada daquele "causo de amor" que tanto lutava para não passar à categoria dos perdidos para sempre. Ele andava sumido, é verdade, mas se não voltasse nunca mais, sempre haveria alguém para presentear com o mimo, nem que fosse a si própria — daria um jeito de tornar aquela peça usável para uma mocinha, fosse necessário.

Passados uns dias, lá veio o Amândio dizendo olá, ressuscitado das tumbas, felizmente, para assombrar o medo de que ele tivesse sumido de vez. "Eu sabia que minha aquisição não tinha sido em vão", pensou Maria Júlia ao se olhar no espelho, enquanto vestia a sunga, colorida em desenhos gráficos. Imaginava-o refestelando-se ao sol em sua "companhia", simbolizada pelo presente. Se não podia estar ao lado de Amândio pessoalmente, ao menos algo dela poderia! Foi naquele fugaz momento de triunfo que viu do grafismo refletido no espelho se revelar um sentido até então oculto.

"Seriam fechaduras?" perguntou-se, como que não acreditando no que via. Definitivamente não. Eram GILETES saltitantes que gritavam da estampa! Tudo que não fazia sentido naquela história. Antes sentir-se uma "maria injúria" pela existência de tantas outras do que passar perto de desdenhar da virilidade de Amândio.

Correu para o banheiro em busca de algum objeto cortante que pudesse dar cabo àquele ridículo. Ao se olhar no espelho novamente percebeu que o acontecido podia ser uma mensagem de que sua intuição se confirmava: para dar cabo de sua obsessão por Amândio seria necessário mesmo um corte de mão-dupla.

16 comentários:

Mirian Martin disse...

Corte de mão-dupla...
Dói pra caramba, né não?

Adorei o texto!

Gustavo Martins disse...

A Cláudia falou que foi um texto de corte de mão-dupla também, porque demos uns pitacos no final.

Gustavo Martins disse...

Votação do CSI só até sexta, hein?

Anônimo disse...

eu reitero, pode apagar se quiser: acho que o cara que escreve tem mais é que voltar a escrever... na boa...

Anônimo disse...

Tá bom, agora entendemos.

Vamos explicar: quando NÃO aparece lá nos marcadores a palavra CONTRIBUIÇÃO, significa que o conto é nosso, Que escrevemos em cima de uma história que alguém contou pra gente, sabe, conversa de boteco, e-mail, MSN etc.

Ou seja, quase todos os contos são escritos por mim mesmo. Ficou claro agora?

E deixa de ser bundão(dona) e assina o coment.

Obrigado pela preocupação.

Anônimo disse...

Não, acho que tu não entendeu. Eu estava fazendo um elogio, porque prefiro o teu modo de escrever, e porra, pra que tanta contribuicao assim?
ass. ninguem importante a ponto de te estressar

Mirian Martin disse...

Apesar de ter visto um dos meus textos publicados aqui e de ter gostado de outras contribuiçòes, sou obrigada a concordar com o Anônimo: nada como os seus minicontos...

Gustavo Martins disse...

Blém-blém-blém-blém-blém-blém-blém-blém-blém-blém-blém-blém-blém-blém-blém-blém-blém-blém-blém-blém-blém-blém-blém-blém

Três mil acessos! Hoje tivemos algo em torno de 100! Temos que colocar o google analitics logo! Help, Macaco!

Ok, passamos um tempo sem as contribuições. Tudo pelas leitoras. Aqui o atendimento ao cliente funciona.

E só tem uma pessoa no mundo com a prerrogativa de deixar este que escreve estas mal-traçadas estressado. E ela tem um pouco menos de um metro.

Pennelope disse...

que coisa mais cafona essa sunga!!

eu sou mais o estilo branco do Fê do BBB8.

Flávia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

A sunga é da coleção de Alexandre Herchcovitch, cumpre-me informar! Aliás, alguém tá a fim de ganhar um presentinho? O tamanho é M e o Gustavão diz que a quer prá ele. Uma sunga para quem já alçou a condição de frear seus impulsos perversos? Ou melhor: que digam a sua opinião a geração teen de nossos tempos.

O Amândio está amando e muito bem acompanhado. E sim, nós nos adoramos mutuamente, tamanha a via de mão-dupla das sintonias e diferenças, que caminham de lá para cá e vice-versa. ;))

iaiá disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
iaiá disse...

relação mal-resolvida?
corte de mão dupla! amei
mas juro que pensei que que o duplo sentido da gilete era pra cortar os equipamentos do Amândio guardados dentro da sunga....vai que ela andava meio com raiva?

mas,sunga da coleção de Alexandre Herchcovitch...fashion, but...gay...sorry

e que bom que Amândio esteja amando ...sem sunga!

quanto ao patrulhamento literário em relação ao autor....não entendo ..o blog é dele, ele posta o que quiser e lê e palpita quem tiver vontade...
sou a fim da liberdade..
esse não é o espaço dele?
é como ir na casa do amigo e dizer ...ah não gostei da mesa nesse lugar ...ou desse modelo...troca por esta? é a casa, dele!

no mais, adoro passar por aqui.
bjs


ps: se for rolar catfight me chamem!

Anônimo disse...

Gu,olha tb concordo q vc deve postar o q achar melhor!!! Não estressa não, passar por aqui sempre me faz rir, seja o texto seu ou não...sniff...tô triste pq ninguém votou no meu coment, rsss
Nin@

Anônimo disse...

Gente, fofoquinha de última hora. Adivinhem o que o Amândio vai ganhar no lugar da sunga? Um legítimo CORTAZAR, em espanhol. Dizem que os títulos do autor são uma ótima mandinga e dão boa-sorte: o nome já diz tuuudddinho....!

Claudinha M. :))

E sim, quem disse que as intenções da nossa amiguinha não tenham passado por um corte real? Mas, no caso, a metáfora foi bem mais amena!

Fernando Ramos disse...

Honestamente, não entendi a expressão um corte mão-dupla. Mas se for o que penso...ai...até me deu calafrio a dor. Hehehe.